Mais de uma centena de reclusos do Estabelecimento Prisional do Porto/Custóias, identificados como infetados pelo vírus da hepatite C, vão ser acompanhados por uma equipa clínica do Centro Hospitalar de São João, no âmbito do um protocolo assinado esta segunda-feira.

Trata-se de um projeto-piloto que arrancará em Custóias, concelho do Matosinhos, por ser “um estabelecimento prisional que tem o serviço de saúde – ao nível dos serviços regionais – mais desenvolvido e onde existe uma excelente relação entre os profissionais que aí trabalham e o ‘são João'”, disse Celso Manata, diretor geral dos Serviços Prisionais.

“Vai ser um exemplo, um precedente positivo para todo o território nacional. O protocolo prevê a possibilidade de analisarmos a situação e verificarmos se é possível estendermos a outros estabelecimentos prisionais. Estou em crer que sim, o nosso relacionamento com a saúde tem vindo a melhorar dia a dia em termos nacionais”, afirmou o responsável.

Celso Manta salientou que este projeto “vai reduzir muitos problemas e muitos custos”.

“Sempre que um preso tem de vir aqui tem de vir com num carro celular e com dois guardas pelo menos. Este protocolo vai-nos facilitar imenso a vida, reduzir problemas de segurança, de custos, problemas de pessoal e depois vai criar aqui uma relação entre o próprio hospital e os técnicos que cá trabalham e a própria equipa e os presos que lá estão”, acrescentou.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Através deste protocolo, entre a direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais e o Centro Hospitalar de São João, o serviço de gastrenterologia deste hospital vai acompanhar regularmente os reclusos daquela cadeia “identificados como infetados pelo vírus da hepatite C e que necessitam de tratamento especializado”.

Em declarações aos jornalistas, o presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar de São João, Oliveira e Silva, referiu que “a grande novidade deste projeto é o ‘São João’ sair das suas paredes e deslocar-se ao sítio onde há um problema. Neste caso a um centro prisional”.

Oliveira e Silva explicou que “a proposta partiu dos profissionais de saúde do Serviço de Gastroenterologia que, voluntariamente, sem qualquer custo acrescido, se deslocam ao estabelecimento prisional para lá executarem todos os procedimentos clínicos necessários para a identificação, seguimento e tratamento dos potenciais doentes”.

“Será mais fácil a uma equipa clínica deslocar-se ao estabelecimento prisional do que os reclusos individualmente deslocarem-se ao hospital para serem avaliados”, considerou.

Também o responsável clínico da Cadeia de Custóias/Centro Prisional do Porto, Rui Morgado, considerou que se trata de “uma iniciativa importante, uma vez que parte dos profissionais de saúde e faz com que os presos não sintam o estigma de, entre outras coisas, de virem ao hospital acompanhados de guardas. Por outro lado, é sempre mais fácil deslocar uma equipa clínica ao estabelecimento prisional do que trazer reclusos um a um, em horários que as vezes não são sequer muito convenientes”.

“Os indivíduos que estão reclusos estão privados de liberdade, mas todos eles têm direito à saúde. E se eles estão doentes, têm uma patologia que neste momento é possível tratar e é possível curar, é importante que assim seja, até porque temos de pensar que os estabelecimentos prisionais são como uma membrana semipermeável, eles entram e eles saem e têm visitas. Todas as patologias que estão dentro de uma cadeia podem ser transmitidas para o meio exterior, como o contrário. E se nós os tratarmos lá, teremos uma melhoria da saúde pública no meio exterior”, acrescentou.