— Makes me smile, the way every year we drink to the future whatever it may bring…

— Whatelse could we drink to? We’re going forward to the future, not back into the past.

— If only we had the choice…

O diálogo entre a Condessa de Grantham e Isobel Crawley, que fecha as seis temporadas de “Downton Abbey”, fez-me sorrir, segundos antes de me cair em cima a terrível notícia: não haveria nem mais um episódio para ver. Acabou, não há mais o sarcasmo de Lady Mary, o maquiavelismo de Barrow, a ironia fina de Violet (Maggie Smith não pode entrar em todas as séries de televisão?), o sobe e desce dos criados, a comida de Mrs. Patmore, a bonomia de Lorde Grantham, aqueles planos abertos que mostram a imponente casa, o tempo a passar e as mudanças sociais que aproximam classes e mudam costumes, ainda que aconteçam devagar, muito devagar.

If only I had the choice, “Downton Abbey” teria tantos episódios como a “Única Mulher”. Era isto que eu diria vezes sem conta se não me tivessem dado a oportunidade de assistir ao primeiro episódio da nova série da ITV, “The Halcyon” (que em Portugal passa aos domingos à noite no TV Series). O desafio era mesmo esse: há sucessor à altura de “Downton Abbey”? Os jornais ingleses dividiram-se: “devia chamar-se Downton Hotel”, escreveu o The Guardian; “isto não tem nada a ver com Downton Abbey, esqueçam”, disse o The Telegraph. E eu, eu queria mesmo dizer que não. Nem pensar.

Antes de mais há que explicar que o Halcyon é um hotel no centro de Londres e que a série começa em maio de 1940. Ou melhor, começa sete meses depois, no cinquentenário do hotel, mas apenas por breves minutos em que vemos personagens das quais ainda nem o nome sabemos, numa festa que termina com uma explosão. Há uma cantora sensual, uma mulher misteriosa, uma rapariga dividida entre os olhares de dois homens, um mais novo, outro mais velho. Há jazz, há álcool, há cabelos penteadíssimos e colares, há a buzina que avisa bombardeamentos, mas que ainda soa ao alarme de incêndio que dispara acidentalmente no trabalho e ninguém mexe um dedo do pé. Até que tudo explode. E entra o genérico, mais próximo de um filme de James Bond, com copos de martini estilhaçados por balas.

O que é que isto tem a ver com o primeiro episódio de “Downton Abbey”? Ora bem, em Downton há um homem misterioso num comboio, e uma tragédia: o Titanic, que traz a notícia da morte do herdeiro da família. Tudo é mais lento, é verdade, a paisagem é campestre, há muito céu e árvores, e há muitos tachos, panelas, campainhas, criados, criadas, Lordes e Ladies. Em “The Halcyon”, o ritmo muda: saímos do campo para a cidade, de uma mansão para um hotel, há espiões, amores proibidos (bom, isso há sempre), Churchill chega a primeiro-ministro, Hitler ainda está por se revelar em toda a sua crueldade, e há jazz, muito jazz. E champanhe. E gin.

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— Oh please, estamos em 1940! — diria Mary Crawley, se estivesse ao lado da Condessa de Grantham, sempre espantada com a forma como o mundo se está nas tintas para o conservadorismo.

Já avisei que este texto tem spoilers? Tem.

Morre o herdeiro em Downton, morre o dono do Halcyon. Mas isso é só no final do episódio. Pelo meio, percebemos que vamos ter mais de tudo aquilo que gostamos em Downton. Um elenco aparentemente imaculado, um guarda roupa impecável, uma realização sóbria. Uma família dona de uma propriedade — o hotel —, mais uma guerra como pano de fundo — em Downton passou-se pela I Guerra Mundial — e, claro, um amor entre duas pessoas de classes distintas. Promete-se mais amantes, mais sexo, mais suspense, mais festas (bom, em Downton havia muitos jantares), mais política.

E eu, cuja vida televisiva se mudou, há uns meses, para a primeira metade do século XX em Inglaterra — foi de 1912 a 1925 (Downton) e depois deu um salto para “The Crown”, que começa em 1947 e que, honestamente, me prendeu durante 5 episódios para terminar num grande bocejo — fico contente por voltar a Londres em 1940. Ficam-me a faltar ali uns 15 anos, mas tenho esperança de que os autores de “Downton Abbey” façam mais uma série que acabe com Lady Mary a hospedar-se no Halcyon em segredo, depois de ter descoberto que o seu primeiro marido, Mathew, não tinha afinal morrido (nunca superei aquele acidente de carro, o Talbot que me perdoe).