Sempre que liga para a Linha Saúde 24 gasta cerca de oito cêntimos por minuto. Por esse mesmo telefonema, o Estado paga à empresa que mantém o funcionamento do centro de atendimento do Serviço Nacional de Saúde (SNS), em média, 6,53 euros. Os valores foram divulgados, esta quarta-feira, pela Direção Geral de Saúde (DGS), depois de o bastonário dos médicos ter dito, em entrevista ao JN, que o Estado paga entre 12 a 16 euros por cada chamada recebida pela Saúde 24.
Além do valor por chamada, a DGS refere que “o Contrato de Prestação de Serviços para a exploração do Centro de Atendimento do Serviço Nacional de Saúde, designado Saúde 24, está disponível para consulta no portal base.gov e tem como valor contratual anual 4.999.222,45 euros“, acrescentando que a “empresa que mantém em funcionamento a Saúde 24 foi selecionada por procedimentos visado pelo Tribunal de Contas”.
A Direção Geral de Saúde prossegue, explicando que este centro de atendimento é “sistematicamente auditado pela Direção-Geral da Saúde”.
Provavelmente, será mesmo o contrato desta natureza mais fiscalizado, em termos de rigor, em Portugal.”
E repete os números recentemente divulgados: nos últimos dez anos de funcionamento, a Saúde 24 recebeu o contacto de mais de 2,3 milhões de cidadãos. Do total de telefonemas recebidos que ascendem a cerca de 7 milhões, estima-se que foram evitadas mais de 1,4 milhões de idas desnecessárias às urgências. “Mais de 50% das chamadas ocorrem entre as 17h e a 1h da manhã, período em que os enfermeiros e os médicos nos centros de saúde, em muitos situações, já não estão disponíveis”
José Manuel Silva, que está de saída da Ordem dos Médicos, tem vindo a criticar a Linha Saúde 24 nos últimos dias. E, esta quarta-feira, na sua página de Facebook, voltou a escrever que “por cada ‘chamada resolvida’ na Linha Saúde 24, em que um telefone atende o contactante com base num rígido e singelo algoritmo, o Estado paga 16 euros à empresa que explora este milionário negócio (um valor imenso, mesmo considerando os custos fixos da empresa). Quando marcam doentes em atendimento complementar nos períodos de gripe, as administrações marcam-nos de 10/10 minutos, o que significa que cada consulta médica [nos centros de saúde] vale 2,5 euros brutos (1,25 euros líquidos). Ou seja, uma avaliação e verdadeira resolução do problema dos doentes, com imensa responsabilidade, vale, para o Estado, 2,5 euros, enquanto um telefonema vale 16 euros!!!”.
O ainda bastonário afirma ainda que os utentes que a Saúde 24 desvia das urgências são situações banais e não verdadeiras urgências.