A Hamburger Hochbahn AG colocou três novos autocarros elétricos em serviço na cidade de Hamburgo, Alemanha. A cidade já tinha a circular aquilo a que chamamos veículos de carregamento “plug-in”, que usam uma ficha que se encaixa numa tomada, tal como acontece com os carros elétricos.

O que estes novos autocarros têm de diferente é o novo sistema de carregamento, quer no veículo, quer na estação de alimentação. Estes estão equipados com uma nova tecnologia que tem mão portuguesa, desenvolvida pelo Centro de Competência para a área dos autocarros elétricos da Siemens Portugal. Esta inovação garante diferentes carregamentos a diferentes equipamentos, ou seja, é compatível com várias marcas e com os vários sistemas.

Os novos autocarros, aliados à tecnologia desenvolvida pela Siemens Portugal, conseguem ficar carregados na totalidade em cerca de seis minutos, estando “os três veículos elétricos, que entraram recentemente em serviço, a fazer o serviço normal”, garante, ao Observador, João Santos, responsável de engenharia do departamento de Tecnologia e Inovação para Autocarros Elétricos da Siemens, deixando a indicação de que, portanto, já não se trata de uma fase de testes.

Cada terminal da linha 109 da cidade de Hamburgo – onde estão a circular os autocarros e onde estão implementados os carregadores – está equipado com duas estações de carregamento, com uma capacidade de 300 kW cada. Estas estações conseguem fornecer, aos autocarros, energia suficiente para garantir a circulação durante todo o dia.

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João Santos explica ao Observador que “os autocarros são carregados nas paragens, através do contacto entre um pantógrafo, que está colocado num poste ao lado da estação, e o barramento colocado no tejadilho do veículo”, o que significa que o carregamento é feito sempre numa das estações evitando assim a necessidade de colocarem infraestruturas de energia ao longo do percurso. Por outras palavras, e ao contrário dos elétricos, estes autocarros vão carregando ao longo do percurso.

O vídeo que se segue ilustra, com imagens reais, como funciona o sistema:

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O carregamento completo demora cerca de seis minutos, mas o ideal não será deixar a bateria chegar ao limite da capacidade. Para garantir uma melhor otimização do serviço e a saúde das baterias, os carregamentos “são feitos quando a bateria está com uma capacidade entre os 50% e os 90%, ou seja, normalmente não se deixam chegar a uma situação de ‘quase vazias'”, explica João Santos.

Os quatro carregadores ultrarrápidos que constituem a infraestrutura atual foram instalados, inicialmente, em 2014, para carregar os autocarros híbridos. Mas foi só em 2016 que “a Siemens instalou o interface de carregamento nos três veículos elétricos”, conta ao Observador o responsável de engenharia da Siemens, acrescentando que “nesta altura não foram instalados mais carregadores na cidade de Hamburgo, porque os veículos mais recentes podem perfeitamente utilizar os carregadores existentes”.

A Siemens planeia instalar mais 10 carregadores ultrarrápidos, numa estação intermodal, já em 2018. Devido à rapidez com que os autocarros podem ser carregados, um único carregador pode servir aproximadamente cinco autocarros. “Ou seja, a relação entre autocarros e carregador é de cinco para um. Neste caso, os 10 carregadores que irão futuramente ser instalados podem servir até 50 autocarros elétricos” – esclarece João Santos.

O mesmo sistema que está implementado em Hamburgo já foi fornecido pela Siemens à Suécia e ao Canadá. Também a Noruega, o Reino Unido, os Estados Unidos e França já mostraram interesse neste tipo de sistema. Em Portugal, a ideia já foi apresentada a vários operadores que se mostraram interessados e já têm a solução em análise.

Fonte: Siemens Portugal

Claro que todas as melhorias a que o sistema obriga implicam alguns gastos, mas o benefício associado aos custos justifica o investimento. João Santos explica que “a passagem de uma frota poluente, a diesel ou a gás, para uma frota elétrica ‘amiga do ambiente’ não representa um aumento dos custos associados ao ciclo de vida da frota, pelo contrário. Em função do tipo de carregamento selecionado, a adoção de autocarros elétricos representa sim uma diminuição dos custos para o operador.”

Como os autocarros não precisam de uma autonomia que dure o dia todo, uma vez que vão sendo carregados ao longo do percurso, acaba por representar um investimento menor por prescindir de um carregamento demorado durante toda a noite.

“Outro dos aspetos tem a ver com a recuperação de energia”, conta João Santos. “Quando estes autocarros travam, a energia é recuperada para ser novamente usada (ao contrário dos diesel ou gás em que a energia da travagem é dissipada) havendo por isso redução de consumo.”

Os benefícios da implementação de um sistema semelhante ao de Hamburgo passam pela melhoria da qualidade do ar nas cidades (uma vez que não existe emissão de gases poluentes), pela diminuição de custos devido ao tipo de energia que é utilizada, assim como pelos preços mais baixos no que toca à manutenção.

Fonte: Siemens Portugal

Outro fator importante é o aumento do conforto dos passageiros, já que estes veículos quase não emitem ruído. Estes benefícios, na opinião de João Santos, levam a que “este tipo de sistemas não justifique um aumento no preço dos bilhetes [de transporte]”.

O responsável de engenharia do departamento de Tecnologia e Inovação para Autocarros Elétricos da Siemens conclui, de forma otimista, explicando que “um pouco por todo o mundo, os operadores de serviços de transporte urbanos estão cada vez mais a instalar sistemas de propulsão alternativos nos seus autocarros e, em Portugal, onde o mix energético é dos melhores do mundo, a adoção de sistemas elétricos traduzir-se-á em enormes vantagens.”