Tiago Catarino trabalha há dez anos no mercado do outsourcing. Mas está cansado da “paz podre” e de um “silêncio” que não é “genuíno” no mercado onde empresas recorrem aos serviços de pessoas/organizações externas para desenvolverem determinado projeto sem precisarem de recrutar, e onde são cobradas taxas de 20 a 40% do salário destes profissionais. Por isso, pôs mãos à obra.

Durante seis meses desenvolveu uma nova plataforma para contratar pessoas da área das Tecnologias de Informação (IT, na sigla em inglês). Chama-se Job Deploy e é lançada “simbolicamente” esta segunda-feira, Dia do Trabalhador. Objetivo? Criar um modelo de contratação mais “justo, transparente e inovador” para os trabalhadores, permitindo que “mais pessoas possam ficar em Portugal, a trabalhar nas empresas portuguesas”.

Os profissionais IT em Portugal querem ter uma relação mais livre e mais transparente. Querem realmente ter um contrato de trabalho, querem ter essa segurança e uma relação transparente com o cliente final, o que não acontece hoje em dia”, considera o líder da Job Deploy.

Em Portugal, diz Tiago Catarino, estima-se que entre 20 a 25 mil profissionais IT trabalhem em regime de outsourcing, isto é, que sejam contratados por empresas intermediárias para executarem projetos para clientes finais. Este modelo existe porque as empresas a quem prestam o serviço não podem aumentar o quadro de pessoal ou têm projetos que exigem apenas algumas competências técnicas por um curto período. O que acontece, explica o líder da Job Deploy, é que as empresas de outsourcing, intermediárias no processo, retiram uma fatia significativa – entre os 20% e os 40% -, do salário destes profissionais. A Job Deploy vai cobrar uma taxa de 10%.

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O valor do trabalho está efetivamente assente nos colaboradores, nas pessoas, nos profissionais IT que trabalham nos clientes. As empresas [de outsourcing] não trazem grande acrescento ao processo de evolução, de maturação, de reconhecimento do trabalho da pessoa porque não estão presentes”, sublinha Tiago Catarino.

Os profissionais que se associarem à plataforma vão ser “colaboradores” e vão “estabelecer contratos de trabalho diretos com a Job Deploy”, explica Tiago Catarino. “A Job Deploy é para pessoas que estão à procura de um vínculo contratual. Elas querem um contrato de trabalho, e querem continuar a fazer descontos para a Segurança Social, retenção para as Finanças”, detalha.

A Job Deploy quer eliminar intermediários e cadeias de subcontratação, que “não permitem que exista transparência entre todas as partes, nem que todas consigam saber qual é o valor que está a ser gerado pelo trabalho e qual é a parte a que cada um tem realmente direito”, explica Tiago.

Queremos fazer uma higienização nesse processo e que as pessoas tenham contrato direto com o cliente”. Como as “Ubers” e as “Airbnbs” que “retiram intermediários, reduzem custos e aumentam a experiência das pessoas”, acrescenta.

Em 2020, 15 mil vagas de emprego nas TIC vão ficar por preencher

Em muitos casos, nota Tiago Catarino, os profissionais são atirados para a “margem da legalidade”, comprometendo o futuro. Ou então, optam por sair do país e procurar oportunidades lá fora.

A dificuldade em contratar profissionais das TIC é assumida por muitas empresas, tanto em Portugal como na União Europeia (UE). Bruxelas estima que, em 2020, fiquem 15 mil vagas de emprego por preencher em Portugal nas TIC, segundo um relatório publicado pela Comissão Europeia em janeiro de 2014. Se tivermos em conta o total dos 27 Estados-membros da UE (à data da publicação do estudo), vão sobrar 913 mil vagas.

Segundo dados referentes a 2015, em Portugal, 32% das empresas que recrutaram ou tentaram recrutar profissionais de Tecnologias de Informação revelaram dificuldades em preencher as vagas disponíveis. No conjunto dos países da União Europeia, esse valor sobe para os 41%.

A Job Deploy, diz Tiago Catarino, quer permitir que “mais pessoas possam ficar em Portugal, a trabalhar nas empresas portuguesas e a trazer investimento estrangeiro”.

Muitas das empresas estrangeiras que vinham a Portugal procurar profissionais de IT tinham muitas vezes dificuldades, porque as pessoas queriam fazer cá os seus descontos. Agora, podem aderir à plataforma e estar a trabalhar remotamente para qualquer parte do mundo, o que é muito normal nesta área de negócio”, nota.

Para o responsável, a plataforma é uma “mudança de paradigma gigante”. Por um lado, acredita Tiago Catarino, “não existe, neste momento, nada que permita fazer isto no mercado: uma pessoa poder estabelecer um contrato de trabalho individualmente numa plataforma”. Por outro, pela automatização de processos. “Pretendemos substituir processos que estavam obsoletos e que eram desenvolvidos por pessoas e que agora são automaticamente convertidos para tecnologia”, explica.

Chegar às 1.000 pessoas em três anos

A plataforma quer ser uma “alternativa” para os milhares de profissionais IT contratados via empresas de outsourcing, baseando o processo de recrutamento num manifesto registado de IT Fair Contracting que defende quatro valores: transparência, justiça, reconhecimento e responsabilidade, explica o responsável.

Se os profissionais estiverem a trabalhar com um cliente, podem fazer uma simulação na plataforma para perceber qual é o valor do salário líquido que vão receber, tendo em conta os descontos para a Segurança Social, Finanças, e a taxa de 10% que é cobrada pela Job Deploy.

A adesão é gratuita. O registo é feito no site e, depois de submetido na plataforma, a Job Deploy vai validar junto do cliente se a informação é verdadeira. A partir daí, o cliente passa a ter uma contratação de IT fair contracting, “onde todas as partes sabem quanto estão a pagar e quanto estão a receber”, explica Tiago Catarino.

O contrato de trabalho será sempre celebrado com a Job Deploy que terá um contrato de serviço com a empresa, associado à duração do projeto desse cliente.

Para os primeiros três anos, o líder da empresa espera chegar aos 1.000 membros na plataforma. Mas há outros objetivos que passam pela internacionalização para mercados europeus, que vai “depender do sucesso em Portugal”, um mercado “a viver um bom clima económico e a dar bons sinais de crescimento e de contratação”, considera o líder da plataforma.