O Banco de Portugal (BdP) considerou esta quarta-feira que o fraco crescimento da produtividade do trabalho é “um fator de preocupação” que pode conduzir a desequilíbrios externos, recomendando “maiores níveis de investimento”.

No boletim económico de maio publicado esta quarta-feira, o banco central faz uma análise à evolução da economia portuguesa em 2016, ano em que se registou “um crescimento moderado” do Produto Interno Bruto (PIB), em que houve uma “redução significativa do défice orçamental” e em que persistem “fragilidades relacionadas com o elevado nível de endividamento”.

O BdP refere que o emprego registou “uma evolução positiva”, mas destaca que se manteve “em níveis historicamente baixos”, tendo o emprego total aumentado 1,2% em 2016 (após um aumento de 1,1% em 2015) e a taxa de desemprego ficado nos 11,1% no conjunto do ano passado.

No entanto, a instituição liderada por Carlos Costa afirma que “a atual fase de recuperação da economia portuguesa conjuga um crescimento moderado da atividade com um crescimento relativamente mais pronunciado do emprego”.

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Isto evidencia que “a produtividade aparente do trabalho, medida com base nas Contas Nacionais Trimestrais do INE [Instituto Nacional de Estatística], apresentou uma redução em 2016, o que se insere num quadro de dinamismo inferior e atípico face ao observado em anteriores fases de recuperação económica”.

Reconhecendo que as explicações para esta quebra da produtividade do trabalho “são complexas”, o BdP entende que podem “relacionar-se com as alterações da estrutura produtiva, num contexto em que os níveis de capital por trabalhador permanecem reduzidos, após vários anos com baixos níveis de investimento”.

Analisando o rácio de capital por trabalhador e a ligação desta variável com a produtividade (medida como o nível de produto por trabalhador) de Portugal no contexto da área do euro no período de 1995 a 2016, o BdP conclui que “o rácio de capital por trabalhador na economia portuguesa começou a reduzir-se em 2013, tendo mantido em 2016 uma trajetória descendente” e que, comparativamente com os restantes países europeus, “a posição da economia portuguesa afigura-se desfavorável”.

O problema – destaca o banco central – é que “o reduzido crescimento da produtividade aparente do trabalho na economia portuguesa nas últimas décadas constitui um fator de preocupação”, na medida em que “limita a capacidade de sustentar maiores níveis de consumo sem incorrer em desequilíbrios externos”.

A análise à qualidade do ‘stock’ de capital pode ser feita a partir da sua estrutura, existindo as seguintes categorias: estruturas (residenciais e não residenciais), maquinaria (incluindo computadores, equipamento de comunicação e outras máquinas), material de transporte e outros (incluindo ‘software’).

Sublinhando que “Portugal surge como o país com maior proporção de estruturas no ‘stock’ de capital, o que implica necessariamente um menor peso do equipamento em máquinas e dos bens tangíveis”, o BdP refere que estas categorias tendem a estar associadas a maiores rendibilidades, pelo que “parece existir margem para melhorar a composição do ‘stock’ de capital nacional”.

O crescimento da economia portuguesa poderá beneficiar de maiores níveis de investimento dirigido às empresas, setores e tipos de bens onde a sua rendibilidade é superior, escreve o BdP, que considera que “este esforço de investimento deve basear-se primordialmente em maiores taxas de poupança pública e privada” para “não comprometer a atual situação de equilíbrio nas contas externas”.

Outra via apontada para aumentar os níveis de investimento sem comprometer a estabilidade macroeconómica passa por criar condições favoráveis à atração de investimento direto estrangeiro, “sobretudo dirigido à criação de nova capacidade produtiva”.