A entreajuda entre condutores, mesmo que realizada de forma inocente e visando exclusivamente avisar os incautos da presença de agentes da autoridade, realizando operações Stop ou controlando a velocidade, é quase “uma instituição”. Porém, estes avisos “amigos” chamam, por vezes, a atenção de indivíduos menos desejáveis, que assim conseguem evitar o controlo policial.

Depois dos atentados de Barcelona e Cambrils, a Guarda Civil espanhola divulgou, através do Twitter, o vídeo que as autoridades gaulesas tinham produzido dois anos antes, com a mensagem: “És dos que avisa dos controlos policiais com luzes ou apps? Depois de veres este vídeo talvez mudes de ideia.” O objectivo foi impedir que os criminosos, que podem recorrer a aplicações como o Waze, transformassem em cúmplices todos os condutores que alertam os restantes sobre a localização das operações Stop.

França aprende com os erros

Os atentados em Paris, em Novembro de 2015, tiveram o condão de colocar o tema na agenda, tanto mais que, hoje em dia, nem só de sinais de luzes vivem os avisos. Aplicações como o Waze, Coyote ou TomTom, tão úteis quanto populares entre quem vai ao volante, podem tornar público o mesmo tipo de informação, caso os utilizadores decidam anotar, através das ferramentas da própria app, a localização dos polícias ou brigadas de trânsito.

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Nos dias que se seguiram aos ataques dos extremistas, que vitimaram dezenas de inocentes na capital francesa, surgiram inúmeros pedidos nas redes sociais, como o de Emmanuel Fiandino, solicitando aos automobilistas que não divulgassem os postos de controlo da polícia, alertando para a possibilidade de esses avisos serem úteis para os criminosos.

Aux utilisateurs de Waze France, Coyote France WIKANGO by AlerteGPS et autres applications. Afin de permettre l'…

Posted by Emmanuel Fiandino on Friday, November 13, 2015

Neste âmbito, a polícia francesa tinha publicado pouco tempo antes um vídeo em que avisava para os perigos de informar os outros condutores, através de sinais de luzes, da proximidade de uma operação Stop. Só que, desta vez, o alvo não eram os terroristas mas outro tipo de criminosos, pelo que é bom ver o filme até ao fim.

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No seguimento dos ataques de Paris, a francesa Coyote informou rapidamente que não hesitaria em suspender o serviço, caso se verificasse uma situação que comprometesse a segurança nacional.

Mas a americana Waze preferiu não se comprometer. Ela que, já em 2014, tinha sido acusada pelo chefe da polícia de Los Angeles de ser conivente com um assassino que matou dois polícias, cuja localização foi tornada pública pela app.

E o futuro?

Se da próxima vez que visitar França for apanhado em excesso de velocidade, ou mandado parar pela polícia em locais não assinalados pelo Waze, ou aplicações similares, é bem possível que tenha que responsabilizar os terroristas pela sua má sorte.

Farta de esperar que as operadoras das aplicações se pusessem de acordo em relação à melhor forma de evitar que os avisos inocentes chegassem aos ouvidos e olhos dos criminosos, o Governo francês criou uma lei que impede os smartphones e sistemas de navegação de informarem os seus utilizadores da presença de radares ou brigadas da autoridade, o que retira algumas das funcionalidades mais importantes (os radares) a serviços como o Waze, pertença da Google desde 2013.

A caça à multa foi uma das medidas que mais instigou a solidariedade entre condutores, levando aos avisos a quem se aproxima em sentido contrário

Ainda assim, as operadoras destas aplicações podem informar os seus utilizadores que se “aproxima uma zona perigosa”, a 300 metros de distância em meio urbano e até 4 km em auto-estrada. Contudo, não podem especificar se o motivo é devido ao estado do piso, obras ou… radares.

Enquanto cá não chega a moda, e se é fã de aplicações como o Waze, o melhor mesmo é ficar-se pela navegação e pelo aviso dos radares, obras e afins. Em relação às operações Stop, se viu o vídeo das autoridades francesas, o mais provável é que tenha perdido a vontade de dar dicas aos condutores que vêm em sentido contrário.