Tudo começou com um voto de “repúdio” do CDS pela extensão do mandato do Presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem (que já não é o ministro das Finanças holandês e continua no cargo). Acabou aprovado, com o Bloco de Esquerda a votar ao lado da direita e um deputado socialista a abster-se, Sérgio Sousa Pinto. Mas entre uma coisa e outra, as bancadas das esquerda atiraram-se ao CDS por “durante quatro anos terem convivido muito bem com o presidente do Eurogrupo”, como disse a deputada socialista Margarida Marques.
O argumento não foi, no entanto, suficiente para convencer Sérgio Sousa Pinto a votar contra, ao lado da bancada que faz parte, o voto de repúdio a Dijsselbloem. No momento da votação, o socialista acabou ao lado do PCP e Verdes, que também se abstiveram. O debate sobre este voto do CDS foi curto, mas o mais intenso da manhã parlamentar, com contornos ideológicos bem vincados e a esquerda a colar a direita ao holandês.
O CDS lembrava as declarações polémicas do ex-ministro das Finanças holandês, para justificar a sua proposta e atirava ao Governo: “O Governo não tirou daqui qualquer consequências. No dia em que devia ter exigido a sua saída não o fez”, disse a deputada Cecília Meireles. O PSD juntava-se, dizendo que no Parlamento o PS votou, em março, a favor da saída de Dijsselbloem mas que o Governo fez outra coisa em Bruxelas, no âmbito do Eurogrupo, como sublinhou o deputado Duarte Marques: “Palavra dada em Portugal e desonrada em Bruxelas pelo senhor primeiro-ministro e pelo senhor ministro das Finanças”.
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No PS, respondeu a ex-secretária de Estado dos Assuntos Europeus, a deputada Margarida Marques, que estranhou que o Governo anterior tenha vivido “muito bem com o presidente do Eurogrupo” durante 4 anos, e que agora peçam a saída urgente. A deputada socialista também disse que o holandês só estará presente em mais duas reuniões do ministro das Finanças dos países da zona euro. O PCP, por João Oliveira, sublinhava, que a crítica que faz a Jeron Dijsselbloem é “pelo pensamento político que expressa”, distanciando-se da crítica que diz ver no CDS. E no Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares provocava: “Quem eram os homens de mão de Dijsselbloem em Portugal?” E respondia: “Os governante de PSD e CDS”.
E o deputado bloquista explicou que “quando o BE votar a favor deste voto, fará isso pelo repúdio do significado de Dijsselbloem. Por sabermos que cada dia que esteve à frente do Eurogrupo, boa parte do seu mandato com apoio do PSD e CDS, fez mal ao país e aos portugueses“.
Jeroen Dijsselbloem preside ao Eurogrupo desde janeiro de 2013, boa parte do período em que Portugal esteve sob assistência financeira da troika e foi sempre visto como muito próximo do ministro alemão, Wolfgang Schäuble. Em março, o seu partido, o PvdA (partido socialista do trabalho) teve um resultado eleitoral baixo que o afastou de uma coligação de Governo na Holanda, por isso a continuidade de Dijsselbloem como ministro das Finanças caiu por terra. Desde então, o Eurogrupo procura um nome alternativo e na calha está mesmo o ministro das Finanças português Mário Centeno. O primeiro-ministro António Costa começou por dizer que não estava nas “prioridades” do Governo Português essa nomeação, mas em setembro, admitiu-o com clareza.
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Por altura da derrota eleitoral dos trabalhista holandeses, Dijsselbloem fez uma declaração muito polémica sobre os países do sul da Europa e o Parlamento aprovou um voto a exigir a sua demissão. O holandês manteve-se no cargo, apesar de ter deixado de ser ministro das Finanças (e ate ter anunciado que se vai afastar da política), já que o seu mandato estava prestes a terminar, em janeiro de 2018. O Parlamento português exigiu que isso acontecesse antes, a verdade é que a saída de Dijesslbloem já acontecerá muito perto dessa data.