Passos Coelho esperava Rui Rio à chegada do futuro líder à sede do PSD, na São Caetano à Lapa e desabafava: “É preciso ir buscá-lo? Não. O Rui conhece os cantos à casa“. Acabou por ir quase até ao carro, cumprimentaram-se, trocaram sorrisos, e trataram-se por “tu”: “Vieste de lá de cima?”, perguntou Passos. E lá entraram na vivenda que é sede do PSD para uma conversa de mais de uma hora e meia. Os recados ficariam para o fim. Nas declarações à saída, Rui Rio confessava que tem sentido “alguma turbulência” no processo de ter unir o partido. Depois acrescentou, sem querer esclarecer: “Mas a gente vai resolver essa turbulência. Não sei se a turbulência é real, se é mais na comunicação social“.
Rui Rio referia-se à bancada parlamentar, onde o presidente (Hugo Soares) e a esmagadora maioria da direção foram apoiantes do seu opositor, Pedro Santana Lopes, nas últimas diretas. O futuro líder do PSD considerou o encontro com Passos a “primeira etapa na transição suave” que quer fazer no partido. E aponta o segundo: “A seguir vamos articular com a bancada”. A reunião será marcada em breve. Claro que tudo isto pode ser culpa da metade do partido que não o apoiou ou, em alternativa, da “comunicação social”. Algo que Rio ainda vai apurar (supostamente, na reunião que fará com a direção da bancada).
"É preciso ir buscá-lo? Não. O Rui conhece os cantos à casa".
Primeiro encontro entre Passos e Rio após diretas. pic.twitter.com/zz0DVMSeKv— Rui Pedro Antunes (@RuiPAnt) January 18, 2018
O novo líder — no regresso a uma das casas da “corte lisboeta”, onde já foi secretário-geral — foi aproveitando para algumas tiradas com segundo sentido. Questionado se era este o seu primeiro grande desafio como presidente do PSD, Rui Rio aproveitou não ter ouvido bem para devolver a pergunta: “Se este é o meu primeiro desafio?” Acrescentando logo a seguir: “Ah estava a ver que me estava a perguntar se era o primeiro grande desafio da minha vida. É que com esta idade já tive outros desafios. É uma das muitas questões que têm de ser resolvidas.”
Rui Rio admite que o assunto não está fechado já que ainda “nem sequer” falou com o líder parlamentar. Ainda assim, promete que a questão será “resolvida com calma, serenidade, com frontalidade, sem hipocrisia, mas com sinceridade de parte a parte”.
Sobre a conversa com Passos, tudo correu nas nuvens, sem qualquer tipo de turbulência. Até a gravata era quase igual, ao jeito de Dupont e Dupond. O portuense referiu-se ao encontro como “uma conversa muito agradável“. Passo Coelho — que falou antes de Rio e mesmo ao lado do seu antecessor — prometeu uma “transição se fará com muita naturalidade e responsabilidade”, já que “nem outra coisa será de esperar”. E disse ainda que iria torcer por Rio “porque tudo o que correr bem com a sua liderança à frente do PSD, correrá aos portugueses“.
Passos confessou que deu novamente os parabéns a Rui Rio e recordou que só em fevereiro é que o seu sucessor “entra em funções como líder eleito do PSD”. No entanto, o ainda líder diz que não é possível “ignorar que ele já foi eleito e que há matérias que carecem aqui de alguma articulação” e que por isso quer ouvi-lo em “alguns aspetos” que considera “mais relevantes”.
Nem um nem outro quiseram falar sobre o conteúdo da conversa. Rio voltou a avisar os jornalistas que nem ele é fonte de ele próprio e que ainda não começou a pensar nos membros da sua comissão política, mas anunciou: “Vou começar a pensar“.
A última vez que Rio e Passos se encontraram foi quando Rui Rio formalizou a sua candidatura na sede do PSD, n dia 28 de dezembro. Depois da sessão, os dois estiveram à conversa cerca de uma hora, agora durou mais. Antes disso, o último encontro privado entre ambos tinha sido um jantar no Porto, a 17 de junho de 2015, quando conversaram sobre a hipótese de Rui Rio ser o candidato presidencial apoiado pelo PSD. Nessa altura, a ideia de Passos era arranjar uma alternativa a Marcelo (e a Santana Lopes, curiosamente) como candidato apoiado pelo PSD às Presidenciais de 2016. Rio estava disponível e jantaram no Porto. O jantar correu bem e chegaram mesmo ligeiramente atrasados à apresentação do livro de Paulo Rangel, Jesus e a Política, que ocorreu nessa noite. O desejo de ambos, não se concretizou.