O Ministério Público esclareceu hoje que as escutas da Operação Marquês, atacadas por dezenas de vírus informáticos, foram contaminadas “no momento da interceção”, e não no procedimento de cópia dos ficheiros ou no processo de análise durante a investigação.
O jornal “Público” noticia hoje que as escutas da Operação Marquês entregues aos advogados foram atacadas por vírus informáticos, ao ponto de terem ficado “imprestáveis, pelo menos por enquanto”, segundo o advogado de José Sócrates.
Em meados do mês passado, os representantes legais do ex-primeiro-ministro José Sócrates foram informados pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) de que podiam levantar os discos que lá tinham deixado para que neles fossem gravadas todas as interceções telefónicas.
Nessa altura, terão sido avisados por uma funcionária do DCIAP de que o acesso ao conteúdo dos discos devia ser feito com antivírus, uma vez que alguns ficheiros podiam estar infetados.
Questionada pela Lusa, a Procuradoria-Geral da República (PGR) salientou “que a existência dos referidos vírus informáticos não resulta do procedimento de cópia dos ficheiros nem do processo de análise durante a investigação — as próprias mensagens, no momento da interceção, estavam já contaminadas com os problemas informáticos”.
Desse modo, verificando que alguns dos ficheiros informáticos de prova estavam “originalmente infetados com vírus, o Ministério Público optou por manter essa situação”, e “fê-lo para não alterar, de forma alguma, a versão originária dos ficheiros de prova”, disse fonte da PGR.
“Todos os arguidos que requereram cópia dos referidos ficheiros informáticos de prova foram informados deste facto”, acrescentou.
De acordo com o “Público”, o advogado Pedro Delille explicou que se limitou a enviar tudo para um perito informático, e que este detetou um total de cinco dezenas de vírus, entre trojans (também conhecidos por cavalos de Tróia, por entrarem nos computadores como se fossem um programa legítimo) e “outras coisas do género”.
O representante do principal arguido da Operação Marquês explicou ainda que, tenha ou não sido por causa do malware, o certo é que, mesmo depois de os vírus terem sido postos de quarentena, as escutas — que o perito informático só lhe devolveu há dois dias — estão imprestáveis, ainda segundo o jornal.
Pedro Delille assegura que é impossível identificar quem está a falar, não porque as vozes não sejam audíveis, mas porque não está identificado em lado nenhum a quem pertencem.
O “Público” especifica que são 700 gigabytes de escutas e adianta que aos advogados foi oferecida outra alternativa, que consiste em irem ao DCIAP ouvir as interceções telefónicas nos equipamentos daquele departamento.
Contudo, esta possibilidade também não resultou, porque o computador colocado na sala destinada aos advogados, e a que chamaram sistema de audição, tem os mesmos problemas que as peças processuais anteriormente fornecidas, conta o advogado, citado pelo “Público”.
Pedro Delille diz que quando o processo transitar do DCIAP, de onde já devia ter saído, para o Tribunal Central de Investigação Criminal, irá pedir uma perícia informática a estas interceções telefónicas, porque as únicas que são identificáveis são aquelas que foram transcritas pelo DCIAP ao longo da investigação, mas que constituem uma parte ínfima de todas as escutas feitas.
Os vírus informáticos são mais um problema num processo que tarda em entrar na fase de instrução, precisamente por o DCIAP não ter conseguido até agora fornecer às defesas em tempo útil todas as peças processuais.