O slogan do PSD mudou. Como é habitual, no último dia do Congresso, a imagem do partido levou uns retoques e foi conhecido um novo slogan. O escolhido pelo novo presidente do PSD, Rui Rio, foi: “Primeiro Portugal“. Tanto entre alguns delegados, como na bancada dos jornalistas, começou a surgir uma dúvida: “Falta ali uma vírgula?” Uns foram dizendo que sim, outros que não. Mas, afinal, existe um erro gramatical? Seria mais correto usar uma vírgula? Um especialista contactado pelo Observador explica tudo.

Primeiro, um resumo: não existe nenhum erro gramatical, mas a frase estaria mais correta com uma vírgula. Contactado pelo Observador, Manuel Monteiro, um especialista em linguística e autor do livro “Dicionário de Erros Frequentes da Língua”, começou por dizer: “Congresso do PSD? Enganou-se no Manuel Monteiro. Eu não sou o do CDS”. Mas, explicado o equívoco, lá prosseguiu: “É que na Sábado têm o meu número e ligaram-me há uns tempos a perguntar sobre tiques dos políticos. E já aconteceu duas vezes”. Mas era mesmo com ele que o Observador queria falar para saber se no slogan “Primeiro Portugal” falta ou não uma vírgula. Deveria ser “Primeiro, Portugal”?

Manuel Monteiro explica que, tal como está, “não é um erro“, mas “a frase ficaria melhor com vírgula“. A razão pela qual o linguista defende que o slogan “necessita” de vírgula é por se tratar de “um complemento circunstancial no início da frase”. O especialista encontra duas boas razões para o slogan de Rio ter uma vírgula: “Para ter correspondência com a oralidade, em que fazemos uma pausa e porque se estamos a utilizar um complemento circunstancial no início da frase, é porque queremos enfatizar a circunstância”. Ou seja, neste caso, seria o facto de Portugal estar em “primeiro”. Havia outra solução para evitar a vírgula, que podia ficar menos estética nos cartazes: inverter as palavras e escolher como slogan “Portugal Primeiro”.

A favor da escolha de Rio, sem vírgula, há ainda a opinião de Celso Cunha e Lindley Cintra que, na “Nova Gramática do Português Contemporâneo” admitem a ausência de vírgula no complemento circunstancial no início de frase, quando este é muito curto. Manuel Monteiro dá um exemplo: “Quando dizemos: ‘Hoje fui ao supermercado’, como o ‘hoje’ é pequeno, muitos gramáticos defendem que não é necessária vírgula”. Ainda assim, Manuel Monteiro não tem dúvidas: “Se fosse eu, colocaria a vírgula. Até porque pode criar confusão, sugerindo a existência de um Segundo Portugal ou de um Terceiro Portugal”.

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Manuel Monteiro diz ainda que a falha não é gritante “tendo em conta erros que existem” em casos como “um programa como o ‘Bom dia Portugal’, em que o nome do programa aparece todos os dias sem vírgula”. Nesse caso, o que está em causa é o “vocativo”.

Há alguns exemplos de Manuel Monteiro que ajudam a explicar o porquê de ser mais adequada a formulação “Primeiro, Portugal”:

  • “Se escrevermos ‘Está a chover em Lisboa‘ não é necessária vírgula, mas se escrevermos ‘Em Lisboa, está a chover‘ a vírgula já é necessária, uma vez que o complemento circunstancial está no início da frase.”
  • “Se escrevermos ‘As pessoas são mais hospitaleiras no Porto’ não é necessária vírgula, mas se escrevermos ‘No Porto, as pessoas são mais hospitaleiras’ já colocamos vírgula”.

Primeiro, a conclusão é: não há nenhum erro gramatical, claro. Segundo, o slogan de Rio estaria mais correto do ponto de vista da Língua com uma vírgula entre as duas palavras.

O primeiro slogan de Rui Rio à frente do PSD é assim “Primeiro Portugal”, enquanto o último de Passos Coelho foi “Levar Portugal a Sério”. Antes do último Congresso, Passos tinha outro slogan: “Social-democracia, sempre!”. Com vírgula.