“Nem entusiasmados nem preocupados”. Pedro Santana Lopes disse que os militantes do PSD estão “expectantes” em relação à nova liderança do partido protagonizada por Rui Rio. Numa entrevista à RTP esta quarta-feira à noite, o candidato derrotado nas diretas de 13 de janeiro justificou por que razão foi “exageradamente unificador” no congresso social-democrata deste fim-de semana: “Achei que tinha de carregar nas tintas. Entrei preocupado, e daí vinha o sentido de responsabilidade. O PSD precisa de se alimentar bem, boas proteínas, boas vitaminas, dormir bem, ter cuidado”. Foi uma intervenção cheia de avisos, justificações e reparos. Quanto a uma candidatura an eurodeputado: “On verra…”
Não era só uma questão de nutrição política. Santana começou a entrevista a explicar que “na atual situação do PSD todos os cuidados são poucos”. E dramatizou:
Se não tivesse tido a postura que tive no congresso todo, não sei…”, disse Santana Lopes.
O ex-provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa fez questão de dizer que “se tivesse ido para o perfil tradicional do opositor, em vez de ressalvar o que pode unir, as coisas podiam não ter corrido bem sobretudo para a imagem externa do partido.” Mas era mais do que isso. Um dos receios de Pedro Santana Lopes, caso fosse demasiado adversativo em relação ao vencedor das diretas, era que o congresso deslaçasse e que Rui Rio tivesse uma votação ainda pior para a Comissão Política (obteve 64%, abaixo de dois terços). Numa entrevista ao Expresso, tinha dito, antes da 37ª reunião máxima do partido: ““Há legitimidade para discordar e não renuncio a ela”. Mas uma vez no púlpito não foi muito longe.
À RTP, fez um comentário, que também pode servir como um aviso a Rui Rio: “Todas as decisões são sensíveis. Temos um ano e meio [até às legislativas]. Um ano para a campanha”.
Pedro Santana Lopes também assumiu que estava errado quando achou que o partido não ia sufragar a estratégia de aproximação ao PS: “Enganei-me”, disse na entrevista. E explicitou um aspeto que Rui Rio deixou em branco no discurso inicial aos congressistas:
Está claro que não haverá Bloco Central. Resta a viabilização eventual de um Governo do PS. Aí, a questão ficou adiada”.
Tal como Pedro Passos Coelho também disse no próprio congresso, Santana disse que “o tempo que aí vem será muito difícil para o PSD”, tanto quanto se podia “prever”. E fez uma recomendação a Rio: “Acho que é possível bater a geringonça. Mas é preciso ser hábil e e eficaz, ser capaz de explorar as contradições e as incoerências dos partidos de esquerda”. Reconheceu, no entanto, que o líder tem um “perfil discreto, e austero, um perfil que os portugueses gostam”.
Sobre a aproximação de Rui Rio ao PS de António Costa, Santana Lopes sublinhou que os dois se dão “muito bem”, mas “uma coisa é o relacionamento pessoal, outra é o político”. À semelhança do que tinha defendido na campanha interna, Santana mostrou-se “cético” em relação aos entendimentos de regime no “último ano da legislatura”, num momento em que o quadro eleitoral se aproxima e o debate já está “minado”. Mas passou a bola a Rui Rio: “Ele tem esta tese quase pedagógica da política”.
Uma pedagogia que passa por considerar que “qualquer primeiro-ministro precisa do líder da oposição para fazer as grandes reformas”. Esta é a tese de Rio, mas Santana disse concordar — em parte. “É uma atitude correta, eu também não gosto daquela maneira de fazer oposição estando tudo contra todos”, disse ao jornalista Vítor Gonçalves. “Não ganhamos nada com tintas tão carregadas”.
Segundo Santana Lopes há ainda outra vantagem nesta aproximação do PSD ao PS, e essa vantagem é para os “pequenos e médios empresários”.
“Esta ideia de o PSD fazer acordo com o PS e, com isso, acabar com o entendimento com o PCP e BE, pode ser bem recebida por alguns setores, sobretudo entre pequenos e médios empresários”, disse, assumindo que “ainda há um certo papão à esquerda”. No fundo, acaba aqui por dar alguma razão aos argumentos do PCP e do Bloco de Esquerda [que pode ler no artigo em baixo].
Efeito Rio. PCP e BE não gostam do flirt do PS com a direita
Questionado sobre a escolha de Elina Fraga para a vice-presidência do partido, Santana não quis comentar, comentando. “Compreendo que haja no partido quem não concorde com algumas escolhas. É uma pessoa polémica e foi uma surpresa, por isso é natural que haja esta polémica mas não quero contribuir para ela”, limitou-se a dizer.
Depois da derrota na corrida interna segue-se uma ida para Bruxelas, como candidato do PSD às eleições europeias? Santana Lopes não diz que sim nem que não. “On verra”, disse, recorrendo à língua falada em Estrasburgo. Lembra apenas que, quando foi eurodeputado, quis sair, mas deixou a porta aberta: “Sabe-se lá, se o líder do partido me convencer de que tem de ser para ganharmos as legislativas a seguir….on verra”.
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