Deu entrada esta semana uma denúncia anónima a propósito da segunda parte do Estoril-FC Porto, que os dragões acabaram por vencer por 3-1, onde foram reportados um alegado encontro num hotel em Lisboa antes do jogo e também o talão de uma transferência bancária para a SAD do clube da Linha. Em resposta a um email enviado ontem, quarta-feira, pelo Observador, a Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou a receção da mesma e acrescentou que a mesma seguiu para o Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa.
“Confirma-se a receção de uma queixa relacionada com a segunda parte do jogo Estoril Praia – Futebol Clube do Porto. A mesma foi encaminhada para o DIAP de Lisboa”, explicou a PGR ao Observador.
O jornal A Bola fala esta quinta-feira num alegado encontro que teria ocorrido num hotel da capital antes do jogo realizado no António Coimbra da Mota no dia 21 de fevereiro entre um elemento da Traffic, empresa que detém a maioria do capital social da SAD do Estoril, um empresário e um elemento da estrutura do FC Porto, informação que o Observador confirmou estar presente na denúncia anónima apresentada na PGR menos de uma semana depois do jogo.
Ao mesmo tempo, teria sido também entregue o talão de uma transferência bancária de 730 mil euros feita depois do jogo na Amoreira, que os dragões conseguiram vencer em 45 minutos (tinham saído a perder por 1-0 37 dias antes, quando a partida foi interrompida por problemas de segurança numa das bancadas do estádio), com bis de Soares e mais um golo de Alex Telles.
De referir que a denúncia anónima à PGR acaba por surgir no seguimento de uma troca de acusações entre César Boaventura, empresário que lidera a empresa GIC que esteve, por exemplo, ligada às transferências de Gabriel Barbosa e Lisandro López para o Benfica, e Francisco J. Marques, diretor de comunicação do FC Porto.
“Relativamente ao jogo Estoril-FC Porto da última quarta-feira, existe um jogador que foi titular e que no último jogo nem para o banco do Estoril foi! Este mesmo jogador contabiliza até ao momento 17 jogos na liga Portuguesa, cerca de 1.453 minutos, fazendo dele um jogador bastante utilizado na equipa. De louvar a atitude da direção e treinador do Estoril”, insinuou César Boaventura na sua conta do Facebook, que esteve bloqueada no seguimento dessas acusações, como escreveu o jornal Record.
O “despique” entre o FC Porto e o empresário já tem algum tempo, tendo ficado mais extremado na últimas duas semanas. “O primeiro contacto que alguma vez tive com o César Boaventura foi neste preciso programa, quando deixei um alerta para que os presidentes dos clubes não deixassem nenhum César aproximar-se dos seus jogadores. Passado uma semana, recebi uma carta pomposa para saber se o César era ele. Respondi, também por email, que ia esperar para saber quantos césares enfiaram o barrete para responder a cada um. Devo dizer que mais nenhum me respondeu”, contou Francisco J. Marques no programa Universo Porto de Bancada, do Porto Canal, a 20 de fevereiro.
Nesse mesmo dia, César Boaventura tinha falado numa alegada abordagem de responsáveis azuis e brancos através da sua página oficial do Facebook. “Fui abordado por um administrador da SAD do FC Porto para mentir relativamente a jogos viciados ou comprados, ao qual disse que não aceito pagamentos para mentir. Estou disponível para ser chamado pela Polícia Judiciária, pois até hoje não obtive essa sorte, mas espero por ela para poder falar das propostas indecentes que me foram feitas por clubes que me difamam por eu não jogar na mentira deles. O dinheiro manda mais que o futebol”, escreveu numa primeira instância, antes de trocar depois “administrador da SAD do FC Porto” por “administrador da SAD de um clube”.
“Neste post diz que foi aliciado por um administrador da SAD do FC Porto. Só há três administradores executivos: Pinto da Costa, Adelino Caldeira e Fernando Gomes. Nenhum dos três, alguma vez, esteve com César Boaventura. Diz que foi aliciado, ele que justifique. Primeiro meteu nome do FC Porto e depois tirou. Porquê? Convém perceber porque recuou”, esclareceu o diretor de comunicação dos azuis e brancos também na terça-feira da semana passada no programa Universo Porto de Bancada, prosseguindo: “Está claro quem é o César Boaventura, mas com o tempo vamos perceber quem é o César no polvo do futebol português. Não se faz um post daqueles vindo do nada. É estratégia do Benfica que a seu tempo iremos perceber. Mas quando são estes os protagonistas, está tudo claro. Nenhum administrador, ninguém da SAD do FC Porto se reuniu com César Boaventura. É mentira. “O que sabemos de César Boaventura é que tem uma ligação íntima ao Benfica”.
“Pronto, fomos apanhados. Agora só falta descobrirem outros jogos. Ou vocês não acharam suspeitos aqueles penáltis do Jardel e do Luisão? Estavam comprados, há transferências bancárias com toda a certeza. Agora a sério, e que tal notícias sobre o clube investigado por corrupção?”, ironizou Francisco J. Marques esta quinta-feira, a propósito da denúncia anónima.
Pronto, fomos apanhados. Agora só falta descobrirem outros jogos. Ou vocês não acharam suspeitos aqueles penáltis do Jardel e do Luisão? Estavam comprados, há transferências bancárias com toda a certeza. Agora a sério, e que tal notícias sobre o clube investigado por corrupção? pic.twitter.com/xELIElTwkz
— Francisco J. Marques (@FranciscoMarkes) March 1, 2018
Acrescente-se que este não é um caso isolado no futebol português no último ano. Alguns exemplos: a 7 de junho, o Ministério Público (MP) confirmou que recebera uma denúncia anónima por alegada corrupção do Benfica e que a mesma fora encaminhada para o DIAP de Lisboa com vista à instauração de um inquérito; a 22 de dezembro, soube-se que tinha existido uma denúncia anónima contra Bruno de Carvalho, André Geraldes (Sporting), Pinto da Costa e Luís Gonçalves (FC Porto) por alegado tráfico de influências; a 30 de dezembro, o MP referiu também que tinha feito “a extração de uma certidão do inquérito que tem por objeto factos relacionados com o jogo Feirense-Rio Ave”, sendo “remetida para o DIAP de Lisboa para investigação no âmbito de um inquérito que aí corre termos”.