O novo Parque Ribeirinho Oriente, na capital, inaugura oficialmente esta sexta-feira, 7 de fevereiro, depois de mais de um ano de obras. O projeto a cargo do atelier F|C – Arquitetura Paisagista, de Filipa Cardoso de Menezes e Catarina Assis Pacheco, faz parte da estratégia da Câmara Municipal de Lisboa para 2020 — “Biodiversidade na cidade de Lisboa”. A primeira de duas partes do projeto fica acessível ao público a partir de amanhã: partindo dos armazéns da Doca do Poço do Bispo, o parque estende-se para norte ao longo de quase 650 metros de frente de rio, o que perfaz um total de 4 hectares.
O primeiro concurso público para a construção do parque aconteceu em 2015 e o vencedor foi o atelier F|C — posteriormente, o concurso viria a ser anulado devido a questões burocráticas. Ao Observador, Catarina Assis Pacheco explica que o atelier que representa foi contratado pelo promotor do empreendimento de apartamentos de luxo em Braço de Prata em 2016. Feito o estudo prévio para a totalidade da área intervencionada, as obras referentes à primeira parte do Parque Ribeirinho Oriente arrancaram no verão de 2018 — a segunda fase, que ainda não começou, estender-se-á para norte, em toda a frente do Loteamento da Matinha e terá também uma dimensão de 4 hectares (está previsto que ligue ao Parque das Nações). O espaço agora intervencionado foi em tempos uma faixa industrial. Desocupada nos últimos anos, era particularmente usada por “um grupo muito ativo de pescadores”, diz Assis Pacheco. Era esta uma “área expectante”, ao abandono. As obras ao comando do atelier já citado exigiram a requalificação total desta faixa.
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O percurso principal acontece ao longo do rio e é acompanhado, de um dos lados, por um “extenso corpo verde” — em causa estão relvados generosos e plantações arbustivas e arbóreas que “formam bolsas de estadia”, isto é, protegem as pessoas que queiram desfrutar daquele espaço do vento. As zonas verdes implicaram a recriação do ecossistema que já antes existira naquela zona. Daí que, correndo tudo bem, no futuro a vegetação “funcionará só por si, com pouca manutenção”. Na vegetação mediterrânea será, então, possível observar pinheiros mansos, sobreiros, freixos ou amieiros, um trabalho que foi feito em parceira com um geobotânico que fez o estudo e a seleção das espécies através da recolha de amostras no local — posteriormente, as espécies foram produzidas no viveiro autóctone em Lisboa de nome Sigmetum.
Ao longo do passeio marginal vão surgindo equipamentos de apoio, como antigos contentores marítimos que foram convertidos em duas cafetarias com instalações sanitárias anexadas, de livre acesso a todos os transeuntes. Nem as cafetarias nem o contentor que servirá de aluguer de bicicletas foram concessionados. Há ainda mais dois contentores — um que poderá ser usado como ponto de troca de livros — e outro que servirá como oficina de manutenção do parque a cargo da CML.
Destaque para o equipamento infantil, isto é, uma estrutura à base de troncos de madeira e cordas para trepar — esta é uma peça lúdica e também abstrata, já que os materiais usados remetem para a memória do local, dos rios e dos barcos. Tal é ainda evidente no aço utilizado nos candeeiros e no mobiliário urbano, remetendo para o passado industrial da zona agora intervencionada. Foram também desenhados e fabricados localmente bancos de madeira simples e com costas, espreguiçadeiras instaladas à beira-rio e bancos modulados curvos em betão armado, tal como se lê no comunicado de imprensa.
O projeto em causa existiu o contributo de uma equipa multidisciplinar, incluindo arquitetos responsáveis pela reconversão dos contentores, artistas plásticas (existem esculturas solares ao longo do percurso pintadas de tinta fotoluminescente que podem ser vistas de noite e ainda gravuras feitas no pavimento, alusivas a sombras de bandos de aves), designers gráficos e um geobotânico. Ao atelier coube a responsabilidade de desenhar o parque e coordenar toda a obra. O parque é dotado de dois percursos: junto ao rio e ao longo da zona verde, sendo que este último foi desenhado em cima de uma antiga linha férrea pertença do Porto de Lisboa. “Não queríamos preencher demasiado o parque, pelo que o verde prevalece”, assegura ainda Catarina Assis Pacheco. “O parque deve ser usado da forma mais livre possível”.
A inauguração está marcada para esta sexta-feira às 11h, sendo que é esperado que Fernando Medina, presidente da CML, e o vereador do Ambiente José Sá Fernandes marquem presença.