Na educação, hoje discutem-se metodologias centradas nas competências versus metodologias tradicionais. Para mim, o equilíbrio entre competências e conhecimento é a formula mais certa, mas também a mais difícil de implementar.

Reconheço que a minha opinião pode estar de alguma forma enviesada, pois há 17 anos que invisto e ponho em prática um modelo educacional onde os alunos aprendem, para além dos conteúdos, competências. Estas competências serão essenciais para o seu sucesso e para se tornarem cidadãos responsáveis no futuro, fazendo a diferença. No fundo, serem changemakers – na PaRK International School, fomos reconhecidos recentemente pela Ashoka como uma das Changemaker Schools de Portugal. E a verdade é que vejo resultados: vejo os alunos felizes, motivados e a darem o máximo em cada momento de aprendizagem, seja ele formal (em avaliações ou em exames nacionais) ou mais informal, em apresentações, projetos ou nas atividades de fellowship onde podem ajudar uma causa local ou globalmente.

A escola de hoje é a sociedade de amanhã. Trabalhar em educação, dirigir uma escola, é uma enorme responsabilidade, pois não só é importante garantir o bem-estar atual dos alunos, mas também, e muito importante, garantir que a nossa influência para o futuro da sociedade é positiva – são estas crianças que irão desenhar a sociedade.

A verdade é que vivemos hoje num mundo diferente e em constante mudança. A tecnologia e a internet vieram mudar o mundo. Aquilo que era válido há uns anos atrás, hoje já não o é – vivemos num enquadramento diferente em que o mundo é global, estamos todos conectados, os alunos viajam à volta do mundo sem sair da sala de aula; em que há uma nova dimensão, o ciberespaço, onde ainda há regras pouco definidas; em que a constante mudança é impossível de acompanhar; em que há uma conectividade entre diferentes culturas com valores e crenças muito distintas, mas com quem temos que saber interagir; em que o acesso à internet e ao capital para investir em tecnologia permite às pessoas fazerem parte deste “mundo”, ficando quem o não tem cada vez mais distante – daqui decorrerão enormes, e ainda desconhecidos, problemas sociais. A globalização é uma realidade e um desafio.

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É nesta “dinâmica” que as crianças que estão hoje na escola vivem. É nesta realidade que os nossos alunos irão ter que vingar um dia enquanto adultos. Devemos criar oportunidades para que cada um seja feliz e ganhe as competências para ter sucesso neste mundo instável, ainda no estágio beta. Há uma enorme incerteza em relação ao futuro e não é possível as escolas saberem para o que estão a preparar os alunos – segundo a OCDE, 60% dos empregos que os alunos agora no 1º Ano terão ainda não existem, e grande parte dos que existem serão automatizados. Por isso, a escola tem que os preparar para a mudança, para a capacidade de aprenderem ao longo da vida, para saberem pensar pelas suas cabeças, para serem, eles próprios, empreendedores e criadores dos seus empregos.

Para isso, há uma série de novas competências que as escolas têm, imperativamente, que ensinar aos alunos. Mas como é que as escolas podem preparar os alunos para tudo isto? Para mim, a resposta está no equilíbrio.

Se toda a informação está à distância de um clique, não faz sentido ensinar conteúdos aos alunos? É uma discussão que se assiste no mundo da educação. A minha opinião é que sim, que faz todo o sentido. Porque precisamos de contexto para conseguirmos relacionar assuntos, para conseguirmos resolver problemas e ter pensamento crítico. O grande desafio é o equilíbrio: o equilíbrio entre conteúdos, memorização e factos, com as competências para se saber utilizar este conhecimento, para resolver problemas complexos num mundo em constante mudança.

Por outro lado, há competências que vão ser essenciais para estes alunos poderem ter sucesso no futuro e contribuírem para um mundo melhor, para serem changemarkers. Acredito que as principais competências são: empatia, colaboração, respeito, cooperação, exigência, criatividade, curiosidade, capacidades de comunicação, coragem, pensamento crítico, capacidade de reflexão, autonomia, empreendedorismo, fluência em mais do que uma língua, capacidade de aprender e reaprender (lifelong learners) e empreendedorismo social.

Em resumo, vivemos numa época em que não sabemos qual o destino, mas em que temos que saber qual o caminho que queremos percorrer; com que valores queremos percorrer esse caminho e com que objetivo. O objetivo é o que acredito ser o propósito da educação: dar às crianças os valores, as competências e o conhecimento que lhes permita atingir o seu potencial máximo, que lhes permita ter uma vida sustentável e feliz quando forem adultos.

E qual o caminho para lá chegar? Com equilíbrio no modelo curricular entre exigência, conhecimento e competências, nunca esquecendo os valores e a responsabilidade social.

Fundadora e Diretora Geral do PaRK International School

‘Caderno de Apontamentos’ é uma coluna que discute temas relacionados com a Educação, através de um autor convidado.