A semana passada, a única maneira de uma pessoa não dar conta de que foi a “Semana em que o Mundo Ficou Maluco com a Estreia de mais um Episódio da Guerra das Estrelas” era estar a viver há muito tempo numa galáxia muito, muito distante, num planeta deserto, a recuperar sucata de máquinas e de robôs. Em todas as cidades, metade dos ecrãs foram ocupados para exibir “O Despertar da Força”, de forma a que fosse a maior estreia de sempre.
É uma coisa estranha, ver metade da humanidade no mundo ocidental a clamar para ver o filme, e ainda mais estranho vê-la a clamar para ser vista a ver o filme, um filme que, essencialmente, é uma aventura infantil. Mas ser um fã da Guerra das Estrelas, algo que durante quase 40 anos foi sinónimo de ser cromo, é agora uma coisa boa. Porque ser cromo está na moda.
Depois da estreia do filme, houve entrevistas na televisão com VIPS e com gente normal a sair das salas. Alguns dos entrevistados eram cromos, nerds, aquele tipo de gente que sempre gostou da Guerra das Estrelas, da banda desenhada, de computadores e de jogos …. Mas a maior parte dos entrevistados não eram desta espécie. “Ah, foi tão bom ver as personagens da minha infância, os bonecos da minha vida, de volta … senti ter novamente sete anos!” disseram pessoas com o aspecto de terem nascido nos anos 80, já depois dos primeiros filmes. A maior parte destas pessoas não seria capaz de ser realmente estranha, esquisitas, incomum, mesmo que a sua sobrevivência dependesse disso. São apenas fashionistas.
Donde veio de repente este desejo de ser visto como cromo? É agora moda dizer “oh, sou um ganda nerd” – e isto, pessoas que não são nerd, e nunca fizeram uma coisa fora de moda na sua vida inteira. Claro que é o efeito da net, da televisão e de coisas como “The Big Bang Theory”, e deve ser profundamente lucrativo para alguém algures… O nerdismo é negócio, e não se esqueçam da influência de Zuckerberg, Jobs e Gates, os maiores nerds de todos. Na sessão em que vi o filme, houve quase 20 minutos de anúncios antes do filme começar, todos com temas da Guerra das Estrelas, todos já vistos na televisão há um mês. Carros, supermercados, bolachas… há muita massa nisto hoje em dia.
Tenho de confessar que estou solenemente irritada por haver tantas pessoas a fingir serem nerds — uma coisa que não são, que não têm o direito a querer ser. São pessoas que nunca passaram pela “recruta” de nerds, que nunca foram crianças esquisitas e feias que gostavam de livros, de computadores e de dinossauros. Nunca foram vítimas de bullying na escola por serem estranhas e inteligentes. Ser nerd, bizarro, esquisito antigamente era difícil e gerou humanos interessantes… provavelmente muitos dos adultos interessantes que conhece hoje.
MAS, excepto pela minha irritação, não é óptimo que finalmente ser estranho, ser nerd, ser cromo seja desejável? Não é óptimo que não ser igual a todos os outros teenagers já não seja uma razão para ser excluído? Não é óptimo que ser diferente finalmente seja bom? Se isto tudo significar que mais crianças vão sobreviver à infância e à adolescência sem que aquilo que nelas é estranho seja eliminado pelas modas, ainda bem que ser nerd está na moda.
Na escola, muitos de nós, os “cromos”, fomos alvo de bullying pela gente “normal”. Foi sempre com alegria que descobri que essa malta “normal” foi a malta que engravidou e se casou antes dos vinte anos.
Hoje, quando tenho a oportunidade, digo a crianças que são cromos para que permaneçam cromos. Espero que os seus filhos sejam cromos. Espero que a Força seja forte neles (desculpem o tema da Guerra das Estrelas…). E já agora, tenham um Bom Natal com a vossa família de cromos.
(traduzido do original inglês pela autora)
The Nerd Awakens
This week, the only way you will have missed that it was “The World Goes Crazy for the next Star Wars Episode Week” is if you lived a long time ago in a galaxy far, far away and lived on a desert planet scavenging for wreckage and robot parts. Half of the city’s screens were turned over to show “The Force Awakens” to help to contribute to its being the biggest opening of any film of all time.
It’s an odd thing, seeing half of the western world clamouring to see the film, and even odder to see them clamouring to be seen to see the film, a film that is essentially a kids’ adventure film, when many, many of them have no interest whatsoever in anything similar for the rest of the time. But now, being a Star Wars fan, something that for almost 40 years was synonymous with being a nerd, is the done thing. Being a nerd is now fashionable.
After the premier and the first showings, there were TV interviews with the VIPS and normals coming out of the film. Some of those interviewees were proper dyed in the wool fans and nerds and geeks and weirdos who one can believe have always loved the whole Star Wars thing, along with comics and computers and RPGs. Most of the interviewees, however, were not.
This is of course perfectly fine and delightful: people seeing a film, lots of people seeing a film, and enjoying it, but there is a distinct smell in the air of their desperation to to be seen as nerds, now that being a nerd is paradoxically fashionable. “Oh, yes, it was thrilling to see the old characters, the toys that I’ve had all my life, brought back into the story… I felt like I was seven years old again!” said too many people who were born in the 1980s. Most of these people wouldn’t be able to be nerdy, geekish or weird if their lives depended on it, these little fashionistas.
Where did this desire to be seen as nerdy come from all of a sudden? It is now fashionable to say “oh, I’m such a geek”, especially when you plainly aren’t, and have never done an unfashionable thing in your life. Of course, it’s the internet, and the TV shows and the Sheldon Cooper/Big Bang Theory effect and it’s everywhere, and it’s profoundly lucrative to someone somewhere, let us not forget Zuckerberg, Jobs and Gates, the biggest uber nerds of all. I saw the film last night and there were almost twenty minutes of adverts before the film began, all of them with a Star Wars theme, all of them having been shown on the TV for the last month. Cars, supermarkets, biscuits. There’s a whole lot of money in all of this these days.
I have to confess that I am irritated to the core that people are now pretending to be nerds and geeks and weird, something they haven’t really earned, and cannot really live up to. They did not go through nerd boot camp, they were not awkward, ugly kids who liked books and computers and dinosaurs. They did not get bullied at school because they were weird and intelligent. Being a nerd, a geek or a weirdo used to be really tough to be, and it made for interesting humans, probably many of the interesting humans you know now as adults.
HOWEVER, my irritation aside, isn’t it great that FINALLY being a weirdo, geek or nerd is desirable? Isn’t it great that not being the same as everyone else when you are a teenager is no longer a reason for you to be ostracised? Isn’t it great that finally being different is cool? If it means that more kids can survive childhood without having the weird geekish nerd sucked out of them by the tedious fashionable crowd, then I am happy for being weird to be fashionable.
Many of us were plagued by the fashionable and popular when we were young. I was always delighted to see that the “mean girls” from school who were the ones who bullied the weirdos (yes, me) were the ones who ended up pregnant and married before they were 20.
Whenever I get the chance to say to a weird kid “stay weird” I take it. I hope your kids are weird. I hope the Force is strong with them (sorry). Oh, by the way, have a delightful Christmas with your lovely, weird families.