Porque é que o mundo se mantém em silêncio enquanto cristãos são vítimas de massacres no Médio Oriente e em África? Na Europa e nos Estados Unidos, assistimos a manifestações contra as mortes trágicas de palestinianos, utilizados como escudos humanos pelo Hamas, a organização terrorista que controla Gaza. As Nações Unidas conduziram inquéritos e focam a sua raiva em Israel por se defender contra essa mesma organização terrorista. No entanto, o massacre bárbaro de milhares e milhares de cristãos é visto com relativa indiferença.

O Médio Oriente e partes de África central estão a perder comunidades inteiras de cristãos que viveram em paz durante séculos. O grupo terrorista Boko Haram raptou e assassinou centenas de cristãos este ano – devastando a vila de Gwoza, maioritariamente cristã, em Agosto, no estado de Borno no nordeste da Nigéria. Meio milhão de cristãos árabes foram expulsos da Síria durante os mais de três anos de guerra civil. Os cristãos têm sido perseguidos e mortos em países desde o Líbano até ao Sudão.

Os historiadores podem olhar para este período e perguntar se as pessoas perderam o seu rumo. Até há pouco tempo poucos jornalistas tinham viajado até ao Iraque para testemunhar a onda de terror, semelhante ao nazismo, que se está a espalhar no país. As Nações Unidas quase não se pronunciam sobre o assunto. Os líderes mundiais parecem estar consumidos por outros assuntos neste estranho verão de 2014. Não há flotilhas em direção à Síria ou ao Iraque. E porque é que o massacre de cristãos não faz levantar as antenas das belas celebridades e das estrelas rock envelhecidas?

O Presidente Obama deve ser louvado por ter ordenado ataques aéreos para salvar dezenas de milhares de yazidis, seguidores de uma religião antiga e presos numa montanha no norte do Iraque, cercados por militantes muçulmanos sunni. No entanto, infelizmente, os ataques aéreos, por si só, não são suficientes para travar esta vaga grotesca de terrorismo.

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O Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS, ou ISIL) não é uma coligação solta de grupos jihadistas, mas sim um força militar real, que conseguiu assumir o controlo de maior parte do Iraque com um modelo de negócio bem-sucedido que rivaliza com o seu arauto da morte. Esta coligação utiliza dinheiro de bancos e de lojas de ouro que foram capturados, assim como recursos de petróleo e a velha extorsão, para financiar a sua máquina de morte, sendo assim, talvez, o grupo terrorista islâmico mais rico do mundo. No entanto, é na carnificina que o ISIS se destaca, rivalizando com as orgias de morte da Idade Média. De modo brutal, têm atacado xiitas, curdos e cristãos.

“Eles decapitaram crianças e puseram as suas cabeças em paus” disse à CNN Mark Arabo, um homem de negócios caldeu norte-americano, descrevendo uma situação num parque em Mosul. “Há mais crianças a serem decapitadas, mães a serem violadas e mortas e pais enforcados.”

200.000 arameus fugiram da sua cidade-natal, perto de Nineveh, e já saíram de Mosul.

A indiferença geral em relação ao ISIS, com as suas execuções em massa de cristãos e com a sua preocupação mortífera com Israel não é apenas errada – é obscena.

Em Budapeste, num discurso proferido perante milhares de cristãos, em junho, fiz uma promessa solene de que não vou manter-me em silêncio face à crescente ameaça de antissemitismo na Europa e no Médio Oriente – e que também não vou ser indiferente ao sofrimento cristão. A História conta-nos o oposto: os judeus têm sido sempre a minoria perseguida. No entanto, Israel tem estado entre os primeiros países a prestar auxílio a cristãos no Sudão do Sul. Os cristãos podem exercer a prática da sua religião abertamente em Israel, o que não se verifica em grande parte do Médio Oriente.

Esta ligação entre judeus e cristãos faz todo o sentido. Partilhamos muito mais do que a maioria das religiões. Lemos a mesma Bíblia e partilhamos um núcleo moral e ético. Nos dias de hoje, infelizmente, também partilhamos um tipo de sofrimento: cristãos estão a morrer pelas suas crenças, porque estão indefesos e porque o mundo está indiferente ao seu sofrimento.

É necessário que o lado bom das pessoas se traduza em união para travar esta vaga revoltante de violência. Nós não somos impotentes. Escrevo isto como um cidadão da maior potência militar do planeta. Escrevo isto como um líder judeu que se preocupa com os seus irmãos e irmãs cristãos.

O povo judeu compreende muito bem o que pode acontecer quando o mundo se mantém em silêncio. Esta campanha de morte tem de ser travada.

Ronald S. Lauder é o presidente do World Jewish Congress. Texto publicado originalmente no New York Times

Tradução de Francisco Ferreira