O mandato presidencial de Rui Rio à frente do PSD está a ter um início que, no mínimo, poderá ser adjetivado como esquisito. Os primeiros sinais são preocupantes para uma liderança que, no curto prazo, tem no horizonte duas – ou será apenas uma? – provas de fogo: as eleições europeias e as legislativas.
Depois de um mês de desnecessário e imprudente recolhimento, Rui Rio surgiu no Congresso ao lado de Santana Lopes. Uma aproximação arduamente trabalhada nos bastidores. Algo que parecia consubstanciar uma tentativa de união do partido. Unidade que só resultou em parte. A lista comum Rio-Santana ao Conselho Nacional apenas logrou 34 dos 70 lugares eleitos. Há dois anos, Passos Coelho valeu sozinho praticamente o mesmo que Rio e Santana, em 2018, valeram em conjunto.
As distritais e as concelhias não perdoaram a Rio a falta de reconhecimento. Quem lhe garantiu a vitória nas primárias esperava a recompensa. Um mal-estar que foi indisfarçável na votação para a Comissão Política que foi eleita com somente 64,7% dos votos. Um mau augúrio. Os 190 votos em branco e os 69 nulos funcionaram como um aviso ou cartão amarelo para a nova liderança. Uma sombra que tinha ficado no horizonte mal Luís Montenegro terminou o discurso.
Rio tinha prometido uma lição de ética. Um critério que o partido, no seu todo, parece disponível para apoiar. O problema é que será difícil a Rio explicar a forma como compatibilizou a ética com o convite a alguns dos elementos que passaram a fazer parte da Comissão Política. A não ser que se desvalorize as investigações do Ministério Público ou que o caciquismo seja considerado uma prática politicamente aceitável. Um regresso aos tempos do coronelato e das chapeladas.
Mais fácil será a invocação de outros critérios para justificar as escolhas. Critérios que, como é bom de ver, não favorecem a opção do líder. Critérios que, certamente, nada terão a ver com o facto de Rui Rio ter chefiado a Câmara da cidade do Douro e de uma parte considerável do percurso do rio ser feito entre fragas. Acrescentar dificuldades a um caminho íngreme e pedregoso comporta uma dimensão a tender para um desafio masoquista. Algo que não se coaduna com o pragmatismo de Rio.
Por isso, os militantes e simpatizantes sociais-democratas continuam a aguardar a posteriori a explicação de tais opções. Preocupados com a hipótese de essa justificação não ser minimamente convincente. Para inquietação já bastava a vagueza, até agora, das propostas – melhor, das ideias – do novo Presidente.
Aliás, talvez seja tempo de questionar se Rui Rio, que já não é um Presidente novo, poderá ser um novo Presidente. Novo no sentido de representar uma boa novidade. Uma dúvida que assalta o pensamento das hostes laranja.
Privilegiar o interesse nacional representa um ideal nobre. Mostrar disponibilidade para consensos com os outros partidos parece uma ideia salutar. O problema reside na dúvida sobre a forma como Rui Rio pretende materializar essas ideias. Desde logo porque uma coisa são os acordos de regime sobre a regionalização ou os quadros comunitários e outra bem diferente é a luta contra a solução governativa que António Costa conseguiu montar e em cuja manutenção se mostra interessado.
A importância de salientar aquilo que deve unir não dispensa a necessidade de explicitar aquilo que diferencia. O interesse nacional no primeiro caso. As propostas próprias no segundo. Portugal agradece a Rio a disponibilidade para conceder primazia ao interesse nacional. O PSD exige a Rio que convença os eleitores do real alcance e do valor das suas propostas.
Uma compatibilização que tem tanto de necessária como de difícil. Por isso, depois de uma luta interna pouco esclarecedora, a escolha da Comissão Política não contribuiu em nada para sossegar o partido. A qualidade da equipa não é consensual.
Rio enfrenta um enorme desafio. As vivências de doze anos à frente da Câmara do Porto podem não ser suficientes. O mandato de Presidente do PSD só tem a duração de dois anos. Ou menos. Uma decisão a cargo dos eleitores. Por muito que se queira fazer passar a imagem de que um líder deve permanecer mesmo em caso de derrota eleitoral.
Uma utopia. Rio sabe que ou vence – e não pode ser por poucochinho – ou sai da cena partidária.