Há quem não consiga dormir ou roa as unhas até desaparecerem. Há quem perca a confiança ou fique bloqueado ao ponto de não conseguir responder a nenhuma pergunta, acabando por deixar a folha em branco. A ansiedade de um momento de exame e a pressão da excelência dos resultados escolares podem ter consequências muito negativas para as crianças do 4º e 6º ano que realizam esta semana o exame de português e de matemática. Este ano as provas têm um peso de 30% na avaliação das crianças. Aqueles que não conseguirem aprovação terão uma segunda oportunidade, a 9 de julho para o português e a 14 de julho para a matemática.
Inês Valente tem 12 anos e está no 6º ano de escolaridade. Fez o exame de português e na quarta-feira será a vez da matemática. A mãe, Cátia Valente, professora de espanhol no 3º ciclo numa escola da Maia, diz que Inês é boa aluna, com quatros e cincos. Apesar disto, é muito ansiosa. Antes de um teste ou de uma prova fica sempre muito nervosa, diz: “As unhas desaparecem, perde o apetite, fica muito tensa”. Na noite anterior a uma avaliação, Inês dorme muito mal.
Segundo Cátia Valente, Inês tem medo que as perguntas sejam muito difíceis. Acha que a prova de aferição de português do ano passado foi particularmente complicada. Mas também receia ser traída pela própria ansiedade. “Ela tem medo de ficar nervosa e por causa disso não conseguir responder às questões que sabe responder normalmente”, explica a mãe. Inês admite ao Observador que “está um bocadinho nervosa” por causa do exame de matemática. Isto porque, depois de ter terminado o 5º ano com 5 a essa disciplina, teve 3 no primeiro período. Conseguiu subir essa nota para 4, mas agora teme descer outra vez.
O que é que os pais e as crianças podem fazer para evitar o nervosismo em vésperas de exame? Inês diz que faz pausas no estudo, mas pouco mais: “Não faço grande coisa porque estou mais preocupada em estudar”. É nesses momentos que a mãe intervém. “Tendo um teste ou prova ela vai estudar até ao último momento. Não tenta distrair-se. Temos de ser nós a dizer-lhe para parar”, diz Cátia Valente, que muitas vezes tenta fazer atividades com a filha que não estejam relacionadas com os estudos. Se Inês estiver mesmo muito preocupada, Cátia desdramatiza: “Digo-lhe para ela fazer o melhor e que não exijo que ela tenha boa nota. Não quero deixá-la mais nervosa do que já esta”.
José Morgado, professor no departamento de psicologia da educação no Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), considera que um momento de exame, com a sua “liturgia própria” – a proibição do uso de telemóveis e de certos materiais escolares e, em alguns casos, a deslocação para outra escola – retira as crianças das rotinas normais e isso pode ser “destabilizador”. Mas, de acordo com o psicólogo, para além dos exames em si, existe muitas vezes por parte dos pais e professores uma “excessiva pressão relativamente aos resultados escolares”. Nem todas as crianças lidam da mesma forma com esta exigência de excelência e, em alguns casos, a pressão pode provocar uma grande ansiedade junto dos mais novos.
O psicólogo defende que alguma ansiedade “é normal e desejável porque nos mantém concentrados”, mas um “excesso de ansiedade” pode ser um problema porque é “inibidor”, cria stress e tensão, afeta a auto-confiança e pode prejudicar o desempenho da criança, diz José Morgado. Em casos extremos, pode provocar bloqueios – as chamadas “brancas”.
Para evitar estas situações, José Morgado deixa alguns conselhos aos pais em vésperas do exame de matemática:
1. Alivie a pressão
Se sentir que o seu filho está demasiado nervoso, tente desdramatizar. Pode dizer-lhe: “Ficamos contentes que faças o esforço, mas às vezes esforçamo-nos e não corre bem”.
2. Ajuste as expectativas
É necessário olhar para o trajeto escolar do seu filho e perceber aquilo que ele pode esperar em termos de resultados. Como explica José Morgado, “um pai pode ter um filho que é um aluno médio e continuar a fazer um discurso sobre a excelência, o que pode gerar ansiedade” junto da criança. Se for este o caso, ajuste as expectativas. Incentive o melhor resultado possível, mas não cobre. Diga-lhe que é bom que ele queira melhorar, mas valorize as notas que ele tem no momento.
3. Mostre que está preocupado
Não diga frases como: “Não te preocupes…”. Segundo o psicólogo, uma atitude despreocupada por parte dos pais não é a melhor solução. As crianças vão perceber que é uma postura falsa, diz José Morgado. É saudável e desejável que os pais se importem com a avaliação dos filhos e estes precisam de sentir que os pais estão preocupados.
4. Fale com o seu filho
Pergunte-lhe o que é que o está a preocupar. “Qual é o teu problema?”, “Achas que não és capaz?”, “O que é que achas mais difícil?”. De acordo com José Morgado, falar sobre este tipo de coisas ajuda as crianças a ter consciência dos seus medos e permite aos pais devolver-lhes confiança. É pior se as crianças não falarem. “Se elas ficam sozinhos com os medos, os medos ganham volume”, diz o psicólogo.
Para além disso, ao fazer estas perguntas pode apanhar pistas sobre dificuldades em matérias específicas.
5. Não queira ser professor
Se perceber que o seu filho tem dificuldades específicas e se não consegue ajudá-lo, não se martirize. Como explica José Morgado, os pais “não devem ser professores dos filhos porque já é muito difícil ser pai”. Em vez disso, ajude-o a olhar para aquilo de que precisa e a contactar os professores. Diga-lhe, por exemplo: “Vou falar com o diretor de turma para te ajudar”.
O que é que pode dizer ao seu filho caso o exame de português tenha corrido menos bem?
- Segundo José Morgado, é muito importante “desfazer o efeito de contágio” e dar a entender à criança que “as notas não se pegam”. Tente evitar a ideia de que se algo correu mal, tudo vai correr mal. Diga-lhe: “Está feito o exame de língua portuguesa, vamos pensar no de matemática”.
- Na véspera do exame volte a falar com o seu filho para tentar perceber aquilo de que ele precisa. Pergunte-lhe se ele tem dúvidas ou se precisa de alguma ajuda que os pais, irmãos, ou outros membros da família possam dar.
A dois dias do exame de matemática, o estudo feito na véspera deve servir apenas para fazer o “refreshment” e consolidar conhecimentos, como explica José Morgado.
Para as revisões finais ou para resolver uma dúvida de última hora, pode recorrer ao site Hypatiamat, uma plataforma desenvolvida pelo Departamento de Matemática da Universidade de Coimbra em colaboração com a Escola de Psicologia da Universidade do Minho, onde os estudantes podem realizar, gratuitamente, exercícios de matemática retirados de exames nacionais e internacionais.
O site é interativo e permite que os jovens sejam acompanhados por tutores virtuais que dão pistas de solução. Se os alunos acederem, por exemplo, ao menu “Quero… apps para aprender”, têm acesso a uma série de exercícios “andaimados”, como explica Ricardo Pinto, investigador do Hypatiamat, onde o site resolve o exercícios por passos, demonstrando o raciocínio.
Apesar de o Hypatiamat ser direccionado a alunos do 2º e 3º ciclo, as várias matérias que disponibiliza incidem sobre competências anteriores. Assim, um aluno do 3º e do 4º ano terá muitos exercícios para fazer.