E vão dois dias de Mundial. Ao terceiro é de vez e chegamos ao primeiro duelo entre antigos campeões do mundo (sim, porque haverá pelo menos mais dois). Italianos e ingleses ficaram juntos no Grupo D, aquele a que, com alguma teimosia, chamamos “grupo da morte” — Uruguai, Costa Rica, Itália e Inglaterra. Morte? Isto é futebol, senhoras e senhores. Um grupo com três campeões do mundo é um presente dos deuses. Depois ainda há o Grupo C, que até dá os primeiros pontapés do dia.

Os colombianos, sedentos por regressarem a um Mundial, testam a paciência grega de Fernando Santos. E às 2h, já de madrugada, Drogba, Yaya Touré e a companhia costa-marfinense encontram uns japoneses moldados há quatro anos por um italiano. Promete. Pelo meio (às 20h) há um Uruguai-Costa Rica. Espera-se que os segundos sejam como um saco de pancada, mas Bryan Ruiz, a figura costa riquenha, não está para aí virado. “Nós não ficamos atrás; vamos para a frente. Isto é a nova Costa Rica. Tenham cuidado porque podemos surpreender muita gente”, disse o número 10. Fica o aviso.

Colômbia – Grécia, às 17h

Dezasseis anos. Foi muito tempo de espera para os cafeteros. A Colômbia não aparecia num Mundial desde que Valderrama (lembram-se daquele cabelo?), Asprilla, Valencia e companhia ficaram pela fase de grupos no França-98. As gerações passaram até que surgiu uma que os empurrou para a quinta presença nestes palcos. E que geração: James Rodríguez, Cuadrado, Teófilo Gutiérrez, Zuniga, Jackson Martínez e Falcao, que só não está no Brasil porque uma teimosa lesão lhe pregou uma partida.

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O primeiro encontro será com a Grécia treinada por Fernando Santos. Há quatro anos, o português pegou no fantasma que desde 2004 atormenta Portugal e guiou rumo à terceira presença em Mundiais (estivera já em 1994 e 2010). Paciência, união e espreitar o erro alheio são os ingredientes da estratégia que o técnico foi aprimorando na seleção grega, que só por uma vez defrontou a Colômbia – foi em 1994, e perdeu (2-0).

Uruguai — Costa Rica, às 20h

O Uruguai chega a este Mundial com um sentimento especial. Afinal, foi esta a seleção que roubou o título de campeão do mundo ao Brasil em 1950, com o tal golo de Alcides Ghiggia. Este foi o segundo caneco da sua história, depois de ter vencido a primeira edição em 1950. Óscar Tabárez, o treinador do Uruguai, tem conduzido esta seleção ao topo do mundo. Em 2010 terminou em quarto lugar no Mundial, algo só alcançado em 1970 e 1954. Nos quartos-de-final do Mundial na África do Sul, Luis Suárez, o craque do Liverpool, foi o herói ao defender um remate do Gana com a mão já muito perto do fim do prolongamento.

Acabou expulso, mas a sua seleção venceria nos penáltis. Em 2011 esta equipa conquistou a Copa América numa final por 3-0 contra o Paraguai. A tática poderá passar pelos três centrais, numa equipa onde o ataque é incrível: Suárez, Cavani e Forlan. Caras conhecidas dos portugueses ainda são algumas: Fucile, Alvaro Pereira, Cristián Rodriguez e Maxi Pereira. O site da FIFA dá conta de um histórico muito favorável aos uruguaios: seis vitórias e dois empates.

 Itália — Inglaterra, às 23h

O dia já irá longo quando chegar o Itália-Inglaterra às 23h, mas é provável que não seja necessário café nem palitos nos olhos para aguentar acordado. Este é um daqueles duelos históricos. Seja num particular, num apuramento ou numa partida para um Campeonato do Mundo. Este tango começou no longínquo ano de 1933, num particular em Roma para Mussolini ver — terminou 1-1. Seguiram-se muitos outros confrontos entre ambas as seleções — nove vitórias para a Itália, oito para a Inglaterra e sete empates — , entre eles aquele no Itália-90 para discutir o terceiro e quarto lugares. Peter Shilton, um dos históricos guarda-redes britânicos, deu uma ajudinha e permitiu a Roberto Baggio marcar o primeiro. David Platt empataria aos 81’, mas Schillaci, aquele que seria o melhor marcador da prova (seis), ofereceria de penálti (86’) o último lugar do pódio perante os seus adeptos.

O último jogo assim mais a sério, digamos assim, foi no último Campeonato da Europa, em 2012. Em pleno Estádio Olímpico de Kiev, jogava-se o acesso às meias-finais. Apesar do chocolate italiano, que as estatísticas confirmam — 64% de posse de bola e 20 remates à baliza contra quatro –, faltaria arte e engenho para fazer abanar a rede inglesa durante os 180 minutos. Os dois Ashleys falhariam penáltis e permitiriam à Itália seguir para as meias-finais.

Esta Inglaterra de 2014 é diferente do habitual, tem mais juventude e vivacidade. Hoje há mais velocidade no ataque, vive-se dos rasgos individuais de jogadores como Sturridge, Rooney, Sterling e Welbeck. Curiosidade: Fraser Forster, guarda-redes do Celtic, é o único que não joga na Premier League. A Itália surge igualmente semi renovada. No meio-campo está o ouro, já sem segredos: Thiago Motta, Marchisio, Pirlo, Verrati e De Rossi. O ataque surpreende com a dupla de avançados do Torino — Cerci e Immobile –, mais Lorenzo Insigne. Balotelli e Cassano continuam a ser as referências. Buffon é eterno na baliza.

Costa do Marfim — Japão, às 2h

Na madrugada entra a primeira seleção asiática no Mundial – é a versão do Japão pensada por um italiano, Alberto Zaccheroni. Em 2013, na Copa das Confederações que serviu de teste para as capacidade anfitriãs do Brasil, os japoneses deram uma amostra do que deverão trazer agora ao Mundial – uma equipa obcecada por ter a bola e trocá-la o mais rápido que conseguir, tirando proveito dos frenéticos jogadores (Nagatomo, Kagawa, Honda, KIyotake ou Okazaki) para tentar criar um carrousel de passes. O problema? Costuma marcar poucos golos. Os Mundiais que o digam: entre 1998, 2002, 2006 e 2010, os japoneses marcaram apenas 12 em 14 jogos.

Pela frente terá a Costa do Marfim, de Drogba, Yaya Touré e Gervinho, treinada pelo novato (nestas andanças) Sabri Lamouchi, de 42 anos. Em todos os Mundiais se espera para ver qual das seleções africanas lida melhor com um desafio comum a todas – pegar na qualidade dos seus jogadores e colá-la numa equipa que possa chegar longa na prova. Em duas participações (2006 e 2010), os costa-marfinenses nunca passaram da fase de grupos. Veremos como será no primeiro duelo oficial contra o Japão – só venceram um dos três amigáveis que realizaram contra os nipónicos.