Brasil — Chile, às 17h

Alegria do povo. Era assim que era lembrado Mané Garrincha, o “anjo das pernas tortas”. Um dos melhores extremos direitos da história do futebol, que até emprestou o seu nome ao estádio de Brasília, um dos palcos deste Mundial. O homem tinha mais seis centímetros numa das pernas, mas isso em nada prejudicava o seu bailado diante dos pobres defesas esquerdos. Era desconcertante e, por isso, tornava-o, muitas vezes, num saco de pancada para os rivais.

Garrincha ganhou fama no Botafogo, onde jogou entre 1953 e 1965. Fogo era aquele pé direito, que mais parecia vindo do futuro. Algumas das fintas que vemos hoje já o brasileiro fazia nos anos 50 e 60. Abençoado YouTube que nos permite viajar na máquina do tempo… Mas vamos ao que interessa: o dia em que Garrincha abanou o Chile. Esta história remonta a 1962. Jogava-se então o Campeonato do Mundo organizado, curiosamente, em solo chileno. O Brasil era campeão em título e o destino juntou-o à equipa da casa nas meias-finais.

O Estádio Nacional, em Santiago, recebeu cerca de 75 mil pessoas, que acreditavam numa partida gloriosa que os levaria à final. Porém, Garrincha não estava para aí virado. O extremo marcou dois golos na primeira meia hora e encaminhou a coisa para os canarinhos. A partida terminaria 4-2: Vavá bisou igualmente; Toro e Sánchez marcaram para a equipa da casa. O Brasil seria campeão do mundo, num torneio em que Pelé esteve quase sempre ausente (lesão). Garrincha deu um passo em frente e liderou a equipa rumo ao bicampeonato mundial.

Seria preciso esperar 36 anos para voltar a ver estas duas seleções a confrontarem-se num Mundial. Aconteceu nos oitavos-de-final do França-98 e o Brasil voltou a vencer os chilenos, desta vez por 4-1, cortesia de Ronaldo “Fenómeno” e César Sampaio – Marcelo Salas marcou para o Chile. O terceiro capítulo desta sequela teve lugar na África do Sul, em 2010. A partida contou novamente para os “oitavos” e o fado foi o mesmo de sempre: 3-0, marcaram Juan, Luís Fabiano e Robinho.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A história está do lado do Brasil. A história e Neymar, que tem levado esta equipa às costas. O escrete de Felipão ainda não convenceu e demonstra muitas fragilidades no meio-campo — talvez esteja na hora de apostar em Fernandinho, o médio do Manchester City. A defesa tem tido problemas — dá muito espaços aos rivais — e o ataque só encanta quando Neymar toca na bola. O craque do Barcelona já leva quatro golos e promete não ficar por aí.

Do outro lado está a equipa que bateu o pé à Espanha, a tal que abdicou do trono. Com chama, pilhas sem fim e ambição, este Chile é um caso muito sério e, por isso, não chocaria ninguém se vencesse a equipa da casa, vingando-se assim do que aconteceu em 1962. Vidal, Alexis Sánchez e Eduardo Vargas deverão ser os jogadores em destaque durante o duelo. O primeiro, o médio da Juventus, deixou um aviso muito sério antes da fase de grupos: “Viemos para ganhar o Campeonato do Mundo”. So far so good

Colômbia — Uruguai, às 21h

Primeiro que tudo, é uma pena. Deveria ser proibido, logo nos oitavos, que a relação de uma destas equipas com a Copa passasse a acontecer apenas no sofá e com o comando de televisão na mão. Aconteça o que acontecer, como diz Paulo Bento, há um uruguaio que não terá outra maneira de ver este duelo. Luis Suárez, o mordedor reincidente, que cravou a dentadura no ombro de Giorgio Chiellini, foi castigado pela FIFA com quatro meses e nove jogos de suspensão, e nem no Maracanã (onde se realizará o jogo) poderá entrar.

E agora, Uruguai? Nos 179 minutos com Suárez em campo, a albiceleste marcou três golos, dois vindos da cabeça e do pé direito do avançado do Liverpool. Sem ele, ainda há Edinson Cavani, o índio do PSG, e Diego Forlán, o loiro veterano (35 anos), melhor jogador do último Mundial, que hoje anda a jogar pela Japão. Este uruguaios são raçudos, intensos e jogam direto para a frente, sem mordomias de trocarem muitos passes para fazerem chegar à bola à baliza inimiga. O contrário do que fazem os colombianos.

Só podiam. Com a canhota de James Rodríguez em campo, a bola tem que lá parar muitas vezes. Ele e Juan Cuadrado, irrequieto extremo da Fiorentina, têm sido os motores de uma Colômbia que acabou com nove pontos e o segundo melhor ataque da Copa (com nove golos, só atrás da Holanda). Jackson Martínez, do Porto, até já marcou dois e espera que seja desta que José Pekerman, o seleccionador, o ponha a titular, por troca com Teófilo Gutiérrez (zero golos).

A história entre colombianos e uruguaios está recheada. São já 38 duelos e muitos mais virão por partilharem o mesmo continente. Na qualificação para este Copa, a regra de quem está em casa é que manda aplicou-se — em Montevidéu, o Uruguai venceu por 2-0 (Cavani e Stuani) e, em Bogotá, a Colômbia aplicou um 4-0 (Falcao, dois de Gutiérrez, vá lá, e um de Zuniga). No total, há 18 vitórias para os albicelestes e apenas 11 para os cafeteros. Veremos o que dá o confronto no Maracanã. Mas repetimos: que pena será ver uma destas equipas ir emboram.