Holanda — México, às 17

Tinha 30 anos, mas seleção era sítio onde não ia há muito. Antes de saltar, gritar, esbracejar e de se abraçar aos jogadores como se fosse um deles, Miguel Herrera era um defesa lateral com 1,68m de altura. A seleção já chamara este mexicano por 14 vezes, mas, em 1998, nada feito. Ficou em casa e lá foi a equipa para o Mundial de França. E pela televisão viu o empate que o México tirou frente à Holanda (2-2), na única partida oficial realizada entre as duas equipas.

Até hoje, dia em que chegará a segunda. Agora, Miguel Herrera é seleccionador do México. É treinador da equipa que, a par do Chile — eliminado nos penáltis, pelo Brasil — será talvez que maior intensidade coloca em tudo o que faz. Seja a defender, atacar ou trocar a bola, nenhum jogador executa o que é suposto com indiferença. Se está em campo, é para acelerar. Foi assim que os centro-americanos se qualificaram, pelo sexto Mundial consecutivo,para os oitavos de final.

E após bloquearem o caminho aos axadrezados croatas, agora terão pela frente a laranja holandesa. Uma equipa europeia a seguir à outra. E cuidado com esta. Louis Van Gaal esteve dois anos a moldar esta Holanda: afastou-a do protótipo da laranja mecânica, tornou-a mais cautelosa, mais matreira, e meteu-a sobretudo nos pés de jovens. Limpou a casa e deixou uns quantos veteranos que hoje são responsáveis por fazerem a diferença quando é preciso atacar (Robben, Van Persie e Sneijder). O resultado foram nove pontos na fase de grupos, com dez golos marcados e três sofridos.

Nos seis encontros já realizados entre México e Holanda, nunca houve um onde, pelo menos, não se gritasse golo três vezes — há apenas um empate registado entre as três vitórias dos europeus e as duas dos centro-americano. Só em 1970 e 1986 os mexicanos conseguiram chegar aos quartos de final. Coincidência? Pois claro: lograram-nos nas edições do Mundial das quais foram anfitriões.

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Grécia — Costa Rica, às 21h

Aconteça o que acontecer, Fernando Santos já conseguiu algo histórico para o futebol helénico. Nunca a seleção daquele país havia chegado aos “oitavos” de um Campeonato do Mundo. O treinador português vai, por isso, jogar esta partida no Olimpo, a montanha mais alta da Grécia, onde outrora habitaram os deuses da mitologia grega.

Esta é apenas a terceira participação no torneio. Na primeira, em 1994, nos Estados Unidos, os gregos serviram de saco de pancada para a Argentina (0-4), Bulgária (0-4) e Nigéria (0-2). O último lugar do Grupo D assentou-lhes bem: nem um golo marcaram. Dezasseis anos depois, na África do Sul, coincidência das coincidências: a Grécia voltou a calhar no grupo com a Argentina e Nigéria. Desta vez até ganhou aos africanos (2-1) mas ficou KO contra a Coreia do Sul (0-2) e Argentina (0-2), o que se traduziu no terceiro lugar do Grupo B.

A língua portuguesa, a da Copa e a do seu treinador, alterou o rumo da história. Um empate com o Japão e uma vitória na derradeira jornada contra a Costa do Marfim mascararam a derrota contra a Colômbia na estreia e colocou esta Grécia em posição de sonhar. Esta seleção vale pela sua atitude guerreira e organização defensiva, mas tem problemas na hora de atacar: marcou apenas dois golos — não está no seu ADN mandar no jogo e criar e inventar oportunidades de golo.

O adversário é a Costa Rica, a surpresa maior deste Mundial. A tal equipa que caiu no grupo de três antigos campeões do mundo, de onde saiu ilesa, como se nada fosse. Duas vitórias e um empate contra Uruguai (3-1), Itália (1-0) e Inglaterra (0-0)? Incrível. Imperturbáveis, lá rasgaram páginas e páginas de história com 80 anos de vida e seguiram para os oitavos-de-final depois de liderar o Grupo D. Será inédito? Não senhor. No Itália-90, a seleção costa-riquenha então treinada por Bora Milutinović atingiu esta fase pela primeira e única vez, depois de vencer a Escócia (1-0) e a Suécia de Ravelli, Schwarz, Brolin e companhia (2-1). A derrota com o Brasil (0-1) não fez mossa e lá seguiram em frente.

O stop chegaria logo a seguir. O Estádio San Nicola, em Bari, foi o palco escolhido para o adeus. Hermidio Barrantes, o guarda-redes da Costa Rica, teve a infeliz ousadia de enfrentar um homem que cinco anos depois chegaria a Alvalade. Falamos de Tomáš Skuhravý, pois claro. Um avançado da Checoslováquia que marcaria três golos nesse duelo e que enviaria para casa os costa-riquenhos. Em 2002 e 2006 não passariam da fase de grupos.

Fernando Santos terá de montar uma estratégia para tapar os caminhos da glória a Bryan Ruiz, o criativo do PSV, e a Joel Campbell, um avançado do Olympiakos que mais parece um clone do Speedy González. Grécia e Costa Rica vão inaugurar os duelos entre si. Até onde vai durar a lenda de Fernando Santos ao serviço dos helénicos? Os deuses lá saberão…