Uns têm excesso de mão-de-obra e outros falta dela. Até 2030, o valor potencial desperdiçado por escassez ou excedente na força de trabalho pode ultrapassar os 10% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial ou o equivalente a 60% do PIB dos Estados Unidos da América. Esta é a conclusão do estudo “The Global Workforce Crisis: $10 Trillion at Risk”, da consultora The Boston Consulting Group (BCG).

O estudo analisou as dinâmicas de escassez ou excedente da força de trabalho das 25 principais economias mundiais para 2020 e 2030. Tendo em conta fatores como o crescimento económico, o envelhecimento da população, as reduzidas taxas de natalidade e as políticas restritivas de imigração, chegou à conclusão que “em 2020 muitos países ainda vão apresentar um superavit de mão-de-obra”, enquanto em 2030 outros “terão um défice massivo de trabalhadores”.

Por exemplo, até 2020, a Alemanha deverá registar “um défice de 2,4 milhões de trabalhadores”. Até 2030, esse défice “deve chegar aos 10 milhões, cerca de 23% do total da oferta de trabalho”.

Também o Brasil precisa de mão-de-obra. Segundo as projecções, “até 2020 vai ter uma escassez de 8,5 milhões de trabalhadores”. Em 2030, esse número pode aumentar “quase cinco vezes para 40,9 milhões de pessoas”, ou seja, 33% da oferta de mão-de-obra. O relatório da BCG diz que, dos 25 países analisados, o Brasil apresenta “o valor mais elevado” em termos de excassez de mão-de-obra.

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As dinâmicas alteram-se não só de país para país como de década para década dentro de cada um deles. Se até 2020, a China poderá ter “um excedente de 55,2 milhões a 75,3 milhões de trabalhadores”, em 2030, prevê-se “que este excesso se torne numa escassez de 24,5 milhões de pessoas”.

Do outro lado do Atlântico, os Estados Unidos, segundo estas previsões, devem atingir um “excesso de 17,1 milhões a 22 milhões de pessoas” para trabalhar em 2020. Uma década depois, essa tendência deve manter-se, com cerca de 7,4 milhões de trabalhadores a mais.

Na Europa, o estudo analisou a França, a Itália e o Reino Unido e concluiu que, em 2020, haja um “excesso de força de trabalho de pelo menos 10 milhões de pessoas”, que passará a défice de mão-de-obra “na década seguinte”.

Segundo o estudo da BCG, a África do Sul apresenta a “perspetiva mais negativa”. Estima-se que terá “um excesso de trabalhadores de 36% da oferta em 2020, aumentando para 39% em 2030”.

Cada caso é um caso
Os resultados do estudo revelam, segundo Alexandre Gorito, um dos diretores da consultora internacional, “cenários futuros bastante diferentes dos atuais”. Se “numa primeira fase representarão um alívio no desemprego”, no futuro poderão configurar um entrave “a um maior crescimento económico”.

O desafio futuro será resolver os problemas de escassez ou excesso de mão-de-obra nestas economias. No entanto, Alexandre Gorito sublinha que “a situação de cada país deverá ser avaliada e, a partir daí, deve ser definido um conjunto de medidas específicas”.

Entre as soluções que a consultora sugere aos governos e instituições dos países analisados estão, por exemplo, o aumento da idade da reforma, o aumento da imigração, o aumento da percentagem de mulheres no mercado de trabalho ou o aumento de investimentos em políticas de natalidade, bem como aumento da produtividade através de investimentos em infraestruturas, inovação, tecnologia e programas de formação profissional.