Na quarta-feira, 9 de Julho, a Indonésia, a terceira maior democracia do mundo, vai às urnas. Pela primeira vez, desde que o ditador Suharto foi deposto em 1998, espera-se uma transição de poder democrática.
Há dois candidatos às presidenciais. De um lado está Joko Widodo, mais conhecido no país por ‘Jokowi’, atual governador da mega-cidade de Jakarta. Jokowi cresceu num bairro de lata, na cidade de Solo, na província de Java, onde prosperou como empresário no ramo imobiliário. Mais tarde, foi o presidente da cidade. Em Jakarta, onde os subornos fazem parte do dia-a-dia, Jokowi criou uma reputação de humildade e governação limpa. A grande maioria dos meios de comunicação internacional descreve-o como o “fenómeno”.
Do outro lado, “o vilão”. Prabowo Subianto, ex-general com ligações aos dias da ditadura de Suharto, proibido de visitar os EUA devido a alegações de abusos de direitos humanos durante a ocupação de Timor-Leste e de comandar o rapto de activistas pró-democracia durante os anos tumultuosos de 1997 e 1998. Prabowo é inclusive genro do ex-ditador.
Mesmo assim, com dois currículos tão opostos, os resultados das sondagens dão um empate técnico. “Se Jokowi for eleito, vai ser um ponto de viragem para a Indonésia e a democracia”, afirma Endy Bayuni, editor sénior do Jakarta Post.”Um líder que não está manchado pelo passado e pela cultura de corrupção política de [ex-ditador] Suharto.”
O atual presidente, Susilo Bambang Yudhoyono, que tomou posse em 1998, foi o primeiro a ser eleito diretamente, após o ditador Suharto ter estado 31 anos no poder. Com uma população de 240 milhões de habitantes, 90% dos quais muçulmanos, a Indonésia é muitas vezes, ao lado da Turquia, retratada como um exemplo de compatibilidade entre a democracia e o islão, escreve o Guardian. Dessa população, 67 milhões de pessoas vão votar pela primeira vez.
‘Ciclo vicioso’ ou ‘ciclo virtuoso’
“Estas eleições presidenciais podem determinar se a quarta nação mais populosa do mundo vai continuar a crescer num ciclo virtuoso ou vai acabar numa espiral recessiva de ciclo vicioso”, escreve Linda Yueh, correspondente da BBC na Indonésia.
Um ciclo virtuoso ocorre quando o país cresce e acumula receitas que mais tarde tornam-se fundos de investimento para impulsionarem o crescimento. Mais crescimento significa mais receitas e economias, o que por sua vez significa mais capital para impulsionar o crescimento. O oposto deste cenário é o ciclo vicioso: quando um país é pobre e não gera dinheiro suficiente para economizar, dado que a maioria dos rendimentos são gastos. Com falta de fundos para investimento, não se consegue acumular capital e o crescimento é lento.
Muhamad Chatib Basri, ministro das finanças da Indonésia, afirmou à BBC que o país precisa de crescer 7% para reduzir a pobreza e criar empregos. Contudo, isso requer que 37% do PIB seja reinvestido directamente na economia do país. Só as poupanças da Indonésia equivalem a 32% do PIB, pelo que a parte em falta tem de vir de investimento estrangeiro. Perto de 32 milhões de indonésios ainda vivem abaixo do nível da pobreza e o potencial de crescimento da população está a ser contido devido a “altos níveis de corrupção e estrangulamentos na infraestrutura” do país, escreve o Guardian.
Os subsídios para os combustíveis
Estima-se que só os engarrafamentos de trânsito, em Jakarta, tenham um custo equivalente a 0.6% do PIB do país. Na Indonésia, o combustível é barato: um litro custa cerca de 40 cêntimos, devido a 27% do orçamento do país ser gasto em subsídios – uma factura de 18.2 mil milhões de dólares. Esta é uma das “batatas quentes” políticas que estão a ser discutidas nas eleições presidenciais. Aumentar o preço dos combustíveis iria fazer subir a inflação e espremer os rendimentos da economia emergente formada pela nova classe média do país. Ambos os candidatos presidenciais já anunciaram a intenção de cortar no subsídio. Joko Widodo prometeu eliminá-lo, enquanto Prabowo Subianto anunciou a intenção de pelo menos o reduzir. “Conseguir implementar as políticas económicas certas no mercado de negócios vai ser crucial para o país. Estão muitas coisas em jogo nestas eleições presidenciais”, escreve a BBC.
Investidores estrangeiros favorecem ‘Jokowi’
Apesar de as últimas sondagens darem um empate técnico entre os dois candidatos, Fauzi Ichsan, director do Standard Chatered Indonesia, uma empresa de rating, afirmou em declarações à Rede Australiana de Notícias que o mercado de ações e os investidores estrangeiros favorecem Joko Widodo.
Fauzi afirmou que o Index de Jakarta subiu 1,5% na segunda-feira devido aos resultados prévios dos votos dos indonésios fora do país, que apontavam um resultado favorável, na ordem dos 60%, para Widodo. “Se Prabowo conseguir uma vitória inesperada, sim os mercados vão ficar surpreendidos, mas todos irão esperar até que ele constitua a sua equipa económica”, afirmou. “Acho que os mercados vão dar o beneficio da dúvida, desde que a equipa para a economia de Prabowo seja gerida por tecnocratas”, acrescentou. De acordo com um estudo do Deutsche Bank, com 70 investidores no país, mais de metade afirmam que irão retirar os negócios da Indonésia se Subianto ganhar.
Será assim um confronto entre a modernidade e o regresso à história recente indonésia. A decisão está do lado dos eleitores.