O balão está a encher. Em vésperas de discussão interna do Orçamento do Estado para 2015, PSD e CDS já dão sinais públicos de tensão. As matérias são várias: a fiscalidade verde, os estágios profissionais, a lei dos animais e até o nome do melhor candidato presidencial. Pode fazer parte da estratégia negocial do pequeno partido, mas a verdade é que o CDS tem carregado na necessidade de ter mais autonomia e de marcar as suas preocupações.
Fê-lo em relação a dois temas de destaque esta semana: a fiscalidade verde de Moreira da Silva e o entendimento entre PS e PSD sobre os direitos dos animais na Assembleia da República. A introdução de impostos ambientais numa proposta de fiscalidade verde do ministro do Ambiente social-democrata causou reações adversas vindas do CDS. Os centristas temem que estas medidas venham prejudicar setores em crescimento – e dos quais têm a tutela no Governo – como o Turismo e Agricultura. Um conflito aberto no Facebook pelo CDS, mas que teve resposta pronta do PSD na mesma rede social. A ex-secretária de Estado do Turismo e deputada do CDS, Cecília Meireles, algumas medidas são mesmo “agressões”.
O ministro da Economia, António Pires de Lima, recusou comentar o que chamou de relatório técnico de um grupo de trabalho, mas sublinhou, em declarações à TVI: “Quando tivermos que discutir o Orçamento do Estado para 2015 obviamente direi o que penso no Conselho de Ministros”.
Já nos direitos dos animais, mais especificamente a criminalização da violência e do abandono dos animais domésticos, o CDS travou a votação na especialidade, onde o PSD tinha acordo com os socialistas, alegando que pretende uma “redacção mais consentânea” da proposta. Esta oposição faz atrasar a proposta acertada entre o PS e o PSD já que a votação em plenário fica só para depois das férias.
Uma dissonância do fim do mês de junho, mas que também deixou mossa na coligação, foi o impulso dado por Pires de Lima à candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa a Belém. O ministro da Economia disse em entrevista à TSF e ao Diário de Notícias que gostaria que o CDS e o PSD apoiassem o mesmo candidato às presidenciais,dizendo explicitamente que a escolha deveria recair sobre Marcelo Rebelo de Sousa já que é “aquele que tem melhores condições para disputar umas eleições representando o espaço do Centro e da Direita democrática”. Uma frase que não deve ter agradado a Passos Coelho que na sua moção ao congresso do PSD recusou apoiar um candidato catavento.
PSD não se fica e puxa as orelhas aos ministros do CDS
Da parte do PSD os sinais de dissonância também são claros. Os sociais-democratas pegaram na bandeira das exportações do CDS e querem que o ministro da Economia vá explicar ao Parlamento porquê é os indicadores estão a descer. “Pensamos que são dados que devem ser analisados com cuidado, com prudência, mas, acima de tudo, pensamos que também seria importante poder ouvir aquilo que o Governo pensa destes dados e qual é que é a visão mais profunda do Governo relativamente a estes dados que saíram hoje do INE” disse o vice-presidente da bancada Luís Menezes, citado pelo Público.
Também a JSD tem contribuído para questionar as ações dos ministros do CDS. O tema foi a reformulação dos estágios profissionais – nomeadamente a redução do período de estágio de 12 para 9 meses – e as perguntas foram endereçadas pelos deputados eleitos pela juventude do PSD ao ministro Mota Soares. Os jovens sociais-democratas dizem que há “um receio legítimo” que com a reformulação prevista “as oportunidades de estágios para os jovens decresçam” e pedem ao ministro uma “justificação” para esta mudança”.
Estas críticas mútuas acontecem numa altura em que, nos bastidores, PSD e CDS já começaram a discutir uma coligação pré-eleitoral para as legislativas.