Dentro de uma unidade isolada no hospital de Atlanta, nos Estados Unidos, Kent Brantly e Nancy Writebol, os dois missionários que prestavam auxílio aos doentes infetados quando eles próprios se sentiram doentes, continuam a responder de forma positiva a um medicamento experimental, que foi apenas testado em macacos, desenvolvido por uma companhia de biotecnologia que tem apenas nove funcionários e possui ligações ao Departamento de Defesa norte-americano, escreve o New York Times (NYT).

Um dos grandes mistérios em torno do novo medicamento, o ZMapp, até que ponto realmente funciona. Kent e Nancy são os dois únicos pacientes que foram tratados com o ZMapp, de milhares de pessoas que poderiam ter beneficiado até agora do medicamento. Mas a Mapp Biopharmaceutical Inc., a empresa sediada em São Diego e responsável pela existência do ZMapp, está a tentar descobrir uma forma de aumentar a produção de modo a conseguir fazer com que o medicamento chegue a mais pessoas, provavelmente sob a forma de ensaios clínicos.

E como é que funciona o ZMapp? O sistema imunitário de cobaias expostas a um vírus desenvolve anticorpos específicos contra ele. Os glóbulos brancos que os produzem (linfócitos) são isolados em laboratório e multiplicados por processos de cultura celular. Neste caso, foram separadas três linhas celulares (clones ou “famílias” de células) que produziram anticorpos específicos muito eficazes contra o Ébola. Estes anticorpos, reunidos numa solução, serão a base deste “supermedicamento”. A novidade anunciada pela Mapp Biopharmaceutical Inc. é a capacidade de produzir estes anticorpos em plantas de tabaco, o que acelera substancialmente o processo de produção (as culturas celulares são “lentas”, por comparação).

Já há sinais de que os esforços para aumentar a produção estão a começar. A Caliber Biotherapeutics, uma empresa localizada no Texas e financiada pelo Departamento da Defesa para responder a ameaças biológicas, tem sido notificada pelo Governo sobre um possível auxílio no fabrico de ZMapp. Mas a rapidez com que a droga pode ser produzida em larga escala também depende, em certa medida, da empresa de tabaco Reynolds American. David Howard, um porta-voz da empresa, disse ao NYT que a produção em larga escala ainda demorará vários meses, já que as plantas do tabaco têm que crescer pelo menos um mês antes de lhes serem injetados os anticorpos. A Organização Mundial da Saúde já anunciou que irá convocar um painel de especialistas em ética médica para discutir a utilização deste tratamento experimental no surto em África Ocidental.

“Definitivamente gostaríamos de produzir de tal forma que tivéssemos impacto na atual epidemia de Ébola”, explicou ao NYT Kevin J. Whaley, diretor executivo da Mapp Biopharmaceutical Inc.. Mas “nós não somos responsáveis por determinadas decisões. Existem questões regulamentares e jurídicas que têm de ser tratadas”, acrescentou.

Barack Obama considerou que ainda é demasiado cedo para enviar o medicamento experimental para África. Durante uma conferência de imprensa, o Presidente dos Estados Unidos considerou que “não existe informação suficiente sobre se este medicamento é útil”. “Estamo-nos a focar na abordagem da situação através do sistema de saúde pública. Mas vamos continuar a procurar informação sobre este medicamento”.

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