Faz esta quinta-feira 40 anos que Philippe Petit “funambulou” os nova iorquinos. Uma corda de aço, oito passagens, 45 minutos em 61 metros com direito a dança e a cumprimentos em joelhos, a cerca de 400 metros de altura. Eram 7h00 da manhã, quando Nova Iorque acordou para o espectáculo do artista francês de 24 anos, que fazia equilibrismo desde os 16.

As Torres Gémeas, inauguradas a 4 de abril de 1973, foram o cenário escolhido para colocar a corda com que surpreendeu a “cidade que nunca dorme”, naquele que foi considerado o “crime artístico do século”. Sim, o ato de coragem e desafio do funâmbulo Petit foi considerado crime, mas as acusações foram retiradas assim que o artista circense concordou em dar um espétaculo gratuito para crianças em pleno Central Park.

A manhã de 7 de Agosto de 1974 acordou quase nas nuvens. A performance artística andava a ser preparada há seis anos, desde que Petit leu um artigo sobre o projeto das Torres Gémeas, enquanto esperava por uma consulta no dentista. Estava dado o pontapé de saída para o trabalho que viria a ser ensaiado anos mais tarde nas torres da Catedral de Notre Dame em Paris, em 1971, e entre duas torres da ponte Harbour, em Sidney, em 1973. Arte circense ou exibição pública? Arte circense com exibição pública.

Photo datée du 30 septembre 1974 du funambule Philippe Petit évoluant devant le beffroi de la Chambre de commerce, place de Gaulle, à Lille. A picture taken on September 30, 1974 shows highwire artist Philippe Petit walking and  jungling by the Belfry of the Chamber of Commerce. AFP PHOTO        (Photo credit should read STF/AFP/Getty Images)

Philippe Petit a atravessar duas torres da catedral de Notre Dame, em Paris, no ano de 1971.

Durante seis anos, Petit leu tudo o que podia sobre a construção dos edifícios que a 11 de setembro de 2001 foram arrasados por Bin Laden. Estudou de que forma o vento afetava o balanço das torres, os efeitox que o vento teriam na corda e qual o equipamento certo: um cabo de aço de 61 metros de comprimento.

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Para completar o estudo, viajou várias vezes para Nova Iorque e chegou a alugar um helicóptero com o fotógrafo nova iorquino Jim Moore, que captou imagens aéreas do topo das Torres Gémeas. E não se ficou por aqui. Com um bilhete de identidade falso, fez-se passar por um dos trabalhadores do projeto, responsável pela instalação de uma cerca elétrica no telhado.

Nada foi deixado ao acaso. Antes, Petit dedicou algum do seu tempo a observar com que roupas e ferramentas trabalhavam os colaboradores do projeto, para que ninguém suspeitasse da veracidade das suas afirmações.

O funâmbulo que fingiu ser jornalista

Philippe Petit não esteve sozinho na aventura pelos telhados das Torres Gémeas. Ao funâmbulo juntaram-se alguns dos seus amigos, como Jean-François e Jean-Louis, que também ajudaram o artista a praticar a perícia num campo em França. Pouco tempo antes da performance, Petit fez-se passar por jornalista da revista de arquitetura francesa Metropolis e entrevistou os trabalhadores do World Trade Center.

A performance que o artista iniciou pouco tempo depois das 7h00 da manhã começou na madrugada de 6 de agosto. Petit e a sua equipa apanharam boleia de um elevador de carga até ao 104º andar de uma das torres. Foi assim que conseguiram transportar o equipamento para a exibição púbica de funambulismo que marcou a história da arte circense.

O material ficou guardado a 19 degraus do telhado e para que o fio de aço, de 450 quilos, passasse de uma torre à outra, Petit e os amigos usaram um arco e uma flecha. A proeza foi praticada várias vezes antes da madrugada dessa terça-feira. Para se equilibrar, Petit utilizou uma vara que pesava 25 quilogramas.

Sandi Sissel filmou a performance de Philippe Petit e lançou um documentário dez anos depois. Em 2008, James Marsh lançou um segundo, que ganhou dez prémios no Sundance Film Festival, nos Estados Unidos da América.

A exibição pública da arte de Philippe Petit foi filmada por Sandi Sissel, que em 1984 lançou o doumentário High Wire, com a banda sonora a cargo do compositor norte-americano Philip Glass. Em 2008, o realizador britânico James Marsh voltou a pegar no tema e lançou um segundo documentário, o Man on Wire, que ganhou dois prémios no festival de cinema Sundance.

Em 2003, Mordicai Gerstein escreveu e ilustrou o livro infantil “The Man Who Walked Between The Tower”, com que também venceu o prémio Caldecott Medal. Michael Spott transformou a ilustração num filme de animação, em 2005.

Philipe Petit fez história na véspera de outra história, a de Richard Nixon, o único presidente dos Estados Unidos da América a apresentar a demissão. Em 1974, agosto foi um mês quente, que é como quem diz, conturbado. Quarenta anos depois, há um vazio silencioso no sítio em que se ergueram as Torres Gémeas e os EUA são presididos pelo primeiro presidente afro-americano da história, Barack Obama.