Ana Gomes admite que errou em algumas acusações que fez a Paulo Portas durante a investigação por conta própria que fez sobre o caso da aquisição dos submarinos, mas não desacelera nas críticas e deixa no ar novas suspeitas.

A eurodeputada está a ser ouvida esta quinta-feira à tarde no Parlamento e recuou em algumas acusações que fez ao atual vice-primeiro-ministro, então ministro da Defesa no momento de compra dos dois submarinos alemães em 2004. “Não tenho qualquer dificuldade em pedir desculpa porque já disse que errei”, disse quando confrontada pela deputada do CDS, Cecília Meireles. No entanto, lançou nova suspeita: “Mas há questões, há suspeitas de corrupção que envolvem o dr Paulo Portas enquanto ministro da Defesa”.

Em causa estava um post da eurodeputada no blogue “Causa Nossa“, de que é co-autora, em que acusava o então ministro da Defesa de “incúria” e onde deixava implícitas acusações de corrupção ao finalizar: “Agora a resposta está aí nos aviões parados e avariados (mas avariadas não estarão provavelmente as continhas bancárias de alguns senhores envolvidos no negócio”. A eurodeputada referia-se à aquisição de helicópteros EH-101 e não dos submarinos e quando confrontada pela deputada centrista com o facto que Portas nada tinha a ver com a compra dos helicópteros (feita durante um governo socialista, pelo ministro Rui Pena), Ana Gomes admitiu que errou, mas o mesmo não diz em relação à compra dos submarinos.

Perante a insistência de Cecília Meireles – que confrontou Ana Gomes com acusações que a eurodeputada fez -, a eurodeputada disse que, quando escreveu aquela acusação, já estava “bastante influenciada por negócios que foram feitos na altura em que dr. Paulo Portas foi ministro”, referindo-se implicitamente aos submarinos.

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Mais tarde, depois de pedir desculpa, lembrou que na altura Paulo Portas a ameaçou com um processo: “Continuo à espera”.

Além das acusações a Paulo Portas, Ana Gomes deixou no ar outra suspeita. Disse a eurodeputada que o envolvimento da empresa Escom nos contratos de aquisição de equipamentos militares e também nos de contrapartidas mostram um “conflito de interesses gritante”. Tudo porque a empresa é do Grupo Espírito Santo e “quem de facto foi selecionado no leilão bancário – de que não se encontra nenhum vestígio – para financiador foi o BES com o Crédit Suisse”. Durante a resposta ao deputado do Bloco de Esquerda, Ana Gomes revelou que escreveu a Vítor Bento, enquanto presidente do Novo Banco, a pedir os contratos financeiros do BES no que à aquisição dos submarinos diz respeito.

Estas declarações foram feitas depois de Cecília Meireles ter referido um texto de Ana Gomes em que a eurodeputada dizia que a empresa Escom tinha sido contratada pelo Estado. “A fonte militar que me referiu isso disse que a partir do momento em que a Escom entrou no processo o preço final do negócio aumentou 30%. O convencimento dessa fonte é que era financiamento para partidos políticos”, explicou. Pelas contas da eurodeputada, em causa estão “95 milhões de euros que o grupo ’embocha’ à conta dos contribuintes”.

Mais tarde insistiu na insinuação relativa aos submarinos lembrando que “há alemães condenados na Alemanha por corromperem em Portugal no caso dos submarinos e em Portugal não se sabe quem são os corrompidos. Isto não é descansável para ninguém”.

A eurodeputada defendeu ainda que a comissão devia ouvir Durão Barroso porque enquanto primeiro-ministro “tem responsabilidades políticas”. Na audição lembrou a relação próxima com a Alemanha: “A única forma de acalmar os alemães era o contrato dos submarinos. Isto é importante para perceber a intervenção do dr Durão Barroso”.

Aos deputados da comissão parlamentar de inquérito aos Programas de Aquisição de Equipamentos Militares (EH-101, P-3 Orion, C-295, torpedos, F-16, submarinos, Pandur II), a eurodeputada contou ainda que escreveu à chanceler alemã Angela Merkel a pedir a colaboração entre os dois países neste caso.