O aquecimento global está a ganhar a batalha contra as políticas de redução de emissão de gases, avisa a Organização Meteorológica Mundial (OMM), que sugere a urgência de um acordo a nível global para travar este fenómeno. E parece que há motivos para isso: entre 2012 e 2013, a taxa de acumulação de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera registou o crescimento mais rápido num ano desde 1984, conta a BBC. Para se fazer ouvir, a OMM publicou um vídeo onde simula um programa de meteorologia em 2050.

O acordo vigente, assinado em 2009 por vários líderes de todo o mundo, garante um aumento máximo de 2ºC até 2020 no que toca à temperatura global. Mas há sinais de que não será eficaz e o tal programa de meteorologia de 2050 antecipa vários problemas . O boletim anual de gases do efeito estufa não mede, segundo a BBC, a produção de emissões, mas assegura a monitorização dos gases que permanecem na atmosfera depois de se misturarem com terra, ar e oceanos — cerca de metade das emissões é absorvida pelos mares, florestas e seres vivos.

“O boletim mostra que, bem longe de estar a descer, a concentração de dióxido de carbono na atmosfera subiu, de facto, no último ano na taxa mais rápida em quase 30 anos”, disse o secretário-geral da OMM, Michel Jarraud, à BBC. O mesmo artigo explica ainda que a concentração de CO2 atual é de 142% relativamente aos níveis de 1750, ou seja, por altura do início da Revolução Industrial. Quanto à acumulação de metano, outro gás responsável pelo efeito estufa, os valores disparam para 253%.

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O estudo da OMM relevou ainda algo que intrigou os cientistas. O crescimento anormal do CO2 em 2013 está intimamente ligado com as emissões, sim, mas não só: há menos capacidade de absorção por parte da biosfera. É preciso puxar a fita para atrás até 1998 para observar semelhante quebra, que aconteceu graças a um aumento da queima de biomassa a que se juntou um intenso El Niño, um fenómeno que “produz” correntes quentes no Oceano Pacífico, que atingem as costas do Equador, Peru e norte do Chile.

Oksana Tarasona, o chefe da divisão de pesquisa atmosférica da organização, revelou que em 2013 não se registaram quaisquer impactos relevantes na biosfera. “Não sabemos se isso é uma coisa temporária ou permanente, e isso é preocupante”, informou, admitindo que poderá ser um indicador de que a biosfera atingiu o seu limite. Segundo dados da OMM referentes ao período entre 1990 e 2013, os duradouros gases como CO2, metano e óxido nitroso são responsáveis por 34% do agravamento do aquecimento global. Todavia, a temperatura global não caminhou lado a lado com a elevada concentração de CO2. Estará a estagnar?

“O sistema climático não é linear, não é simples. Não há necessariamente um reflexo da temperatura na atmosfera, mas se analisarmos o perfil da temperatura dos oceanos, vê-se que o calor está a passar para os mares”, disse Tarasova. No dia 23 deste mês terá lugar uma reunião extraordinária sobre estas questões afetas ao clima. A convocatória partiu de Ban Ki-moon, o secretário-geral da ONU, que até aparece no final do vídeo que mostrámos em cima. “Por favor juntem-se a mim a tomar medidas contra as alterações climáticas. Obrigado”, assim rematou a questão. A ONU irá promover igualmente uma reunião sobre esta temática no final do ano, em Lima, no Peru.

“Sabemos que, sem dúvida, o nosso clima está a mudar devido às atividades humanas como a queima de combustíveis fósseis”, afirmou Michel Jarraud, num comunicado publicado na página oficial da OMM. “Estamos a ficar sem tempo”, alertou.