Marcelo Rebelo de Sousa disse não ter ficado surpreendido com a demissão de Vítor Bento da administração do Novo Banco, mas sim com o momento em que aconteceu. “Deviam ter ficado”, disse o ex líder do PSD, no seu comentário de domingo na TVI.
“Quando foi criado o Novo Banco, parecia que era claro qual era o mandato: preparar para a venda, num período não muito longo. Houve qualquer coisa que não funcionou”, disse Marcelo, sobre a justificação de Vítor Bento e da sua equipa para saírem. “Perceberam que seria para recuperar o banco, tendo um número de anos para essa recuperação, e depois sim proceder à venda”, mas era conhecido que os acionistas, o governador do Banco de Portugal, o Governo e os bancos que deram financiamento queriam vender o banco o mais depressa possível, explicou.
“A opinião pública está muito crítica em relação a eles“, disse o professor, lembrando o caráter excecional da situação, e que fica agravado com a demissão. “Eu esperaria que, apesar de tudo, a equipa aguentasse mais”. Nem que fosse até se conhecer a nova equipa. “De cada vez que surge um destes episódios, as pessoas olham e vai-se estreitando o caminho de resolução boa para um caso onde está envolvido dinheiro dos contribuintes portugueses”, concluiu.
Tal como Marques Mendes disse no sábado, também Marcelo questionou se Cavaco Silva “não saberia já o que iria acontecer”, ou seja, da demissão, quando no passado domingo disse esperar que o Governo lhe tenha comunicado logo os factos relevantes sobre o BES. “Começo a perguntar-me se na altura ele não saberia já e se não era uma chamada de atenção ao Governo. Penso que se o Presidente da República não tivesse intervindo era melhor”, disse. Quanto ao Governo, “não pode assobiar ao cochicho e fingir que não tem nada a ver com isto”, disse, lembrando que se o futuro do Novo Banco correr mal, é o Governo que vai a votos, e não o governador do Banco de Portugal.
“Tem a ver porque está lá dinheiro dos contribuintes e tem a ver porque foi essencial para a solução que foi adotada, não pode agora fazer de conta que é só o governador que está envolvido nisto”, disse, sobre a postura do Governo.
Sobre a nova administração do Novo Banco, conhecida este domingo, a opinião de Marcelo Rebelo de Sousa é favorável. Primeiro porque “são todas pessoas que trabalharam na banca”. Depois, porque o líder, Eduardo Stock da Cunha, é “da escola” de Horta Osório, o português que lidera o Lloyds Banking Group. “Não há dúvida que criou um conjunto de discípulos que estão a chegar ao cume de vários bancos em Portugal”, acrescentou, referindo-se a Stock da Cunha, que conhece pessoalmente, como uma pessoa “adequada”, “honesta” e com “currículo”.
Marcelo comentou ainda a postura do PCP em relação a Stock da Cunha, por ter trabalhado no Santander e o grupo ser um dos candidatos à compra do Novo Banco. Para Marcelo, em vez de haver vantagem, pode ser desvantajoso para o Santander, já que o novo presidente do Novo Banco pode optar por ser mais duro, por conhecer a realidade do grupo espanhol.
O professor comentou ainda que a corrida à compra da Espírito Santo Saúde vai ter um novo concorrente. “Eu acho que além dos mexicanos e dos portugueses vão aparecer brasileiros ligados a americanos. Aí a parada vai ser mais forte, porventura mais elevada”. Marcelo referia-se aos brasileiros da Amil, lembrando que adquiriram no passado os HPP à Caixa Geral de Depósitos.
Sobre a ida de Carlos Moedas para a comissão da Investigação, Inovação e Ciência, que o Governo considerou uma pasta excelente, Marcelo contestou. “Na lógica de Juncker não é muito importante”. “Não tem peso político”, disse.