Se o PS está incendiado, a rentrée política também não correu bem ao Governo. Foi uma semana negra. O regresso problemático às aulas e o sistema informático da justiça em coma, sem se saber quando regressa, viraram os holofotes para o Governo, quando este os esperava apenas no PS.

Os problemas em duas áreas sociais sensíveis, a justiça e os professores, foram “incómodos” inesperados, reconhecem fontes da maioria ao Observador, numa semana em que a oposição chegou a pedir a cabeça da ministra Paula Teixeira da Cruz e de Nuno Crato e que o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, teve que vir a público manifestar solidariedade aos seus ministros.

O PSD tinha convocado o Conselho Nacional para domingo, para fazer o contraponto com o PS, envolto na disputa interna das primárias e em guerras na bancada parlamentar. Mas Passos arrisca-se a ouvir queixas sobre os erros (admitidos tardiamente) na colocação de professores ou os atrasos na justiça por causa do Citius (o sistema informático que ainda não funciona em pleno e que está a fazer desaparecer processos).

No CDS, reconhece-se que os problemas “são evidentes”, mas a ordem foi para não alimentar polémicas. Para mais, num Governo de coligação e em que os ministros sob fogo são os dois do PSD. No debate parlamentar sobre justiça, por exemplo, os centristas, ao contrário do PSD, não negaram as dificuldades na implementação do sistema informático, optando por atirar as culpas para o PS, cujo anterior Governo foi o pai do Citius. Agora é o tempo do PS, insiste ao Observador um centrista.

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No caso da Educação, era mais complicado ao CDS fazer quaisquer críticas, pois o diretor-geral da Administração Escolar que se demitiu na sequência do erro na colocação de professores estava sob tutela de um secretário de Estado do CDS, João Casanova.

Depois de uma semana negra, com tiros nos pés em cheio em duas áreas importantes para o Governo, os partidos da maioria, contudo, seguem como se nada fosse. O timing ajuda a que os dois partidos não mostrem desconforto nos imprevistos e tudo por estratégia política e mediática: a) É tempo de as antenas se virarem para o PS e aproveitar a pausa mediática; b) O país está a um ano de eleições; c) Uma eventual coligação pré-eleitoral, que paira nas cabeças da coligação, deverá ser decidida até ao final do ano.

Aliás, o líder parlamentar do CDS, Nuno Magalhães, apressou-se a desmentir que existiam desconfortos na bancada centrista com os casos da semana. Depois de uma notícia do Diário de Notícias dar conta que havia um “embaraço” na bancada centrista com os problemas do sistema informático da justiça, Magalhães disse ao Observador que “irritados” e “surpreendidos” ficaram os deputados com a notícia.

Para acalmar as hostes, alguns deputados têm mantido linha aberta com os ministérios para prepararem, por exemplo, as audições da ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, que vai ser ouvida pelos deputados a pedido do PCP na terça-feira. Exatamente no mesmo dia em que a Comissão Parlamentar de Educação vai votar um requerimento do PS para ouvir Nuno Crato, ministro da Educação.

Já um parlamentar social-democrata diz ao Observador que o que se passa é um grande “ruído mediático” e assegura-se do lado do PSD que Paula Teixeira da Cruz não se demite do cargo mesmo depois de resolver o problema. A responsável pela Justiça, aliás, tem dito sempre que o momento é para resolver problemas e “não para ir embora”. A polémica com o caso do Citius é ainda mais relevante por outros motivos: trata-se de uma ministra do PSD e que tem em mãos uma das reformas-bandeira de Passos Coelho.

Além dos problemas nestas duas áreas sociais, houve mais uma polémica a acertar no Governo em cheio. Estima-se que existam cerca de 38 mil casos de portugueses infetados com Hepatite C, mas nem todos conseguem pagar as vacinas que custam cerca de 48.000 euros. Paulo Macedo tentou cortar a polémica pela raiz anunciando que vai levar aos parceiros europeus uma proposta que reduzisse o preço do medicamento para 4.800 euros e fez outro anúncio: o pagamento de vacinas a 150 doentes.