Estima-se que em Portugal existam mais de 38 mil pessoas infetadas com o vírus da hepatite C e que cerca de 30 mil pessoas apresentem uma infeção ativa, revela um comunicado de imprensa da Associação Portuguesa de Estudo do Fígado (APEF). Porém, conforme se ficou a conhecer esta semana, o novo medicamento contra esta doença só estará disponível para 100 a 150 pessoas que se encontrem em risco de vida.

Esta estimativa é baseada na prevalência da doença nas listas dos doentes registados nos centros de saúde portugueses, mediante dois estudos realizados – E-Cor Fígado, da responsabilidade do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, e Estudo Epidemiológico das Hepatites Víricas (EEHV) – e a prevalência da doença nos estabelecimentos prisionais, obtida noutro estudo. Os estudos revelam uma prevalência de cerca de 0,4% – 0,38% no estudo EEHV para 1.040 indivíduos e 0,46% no estudo E-Cor para 1.296 indivíduos – no caso da população em geral e 18,8% na população prisional portuguesa, para uma amostra de 784 indivíduos.

Os dados dos doentes nos centros de saúde revelam que cerca de 80% das pessoas que apresentam anticorpos contra o vírus da hepatite C têm infeções ativas, daí que das 38 mil pessoas que se estima terem contactado com o vírus, cerca de 30 mil possam ter infeções ativas, ou seja, são doentes a precisar de tratamento. “Mas os dados reais na população podem ser inferiores”, disse ao Observador Helena Cortez Pinto, presidente da Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado. “Porque se as pessoas foram à consulta é porque já há suspeita da doença.” A percentagem pode estar por, este motivo, sobrevalorizada.

“A hepatite crónica B e C são, atualmente, um problema de saúde pública, pelo risco que têm de progressão para cirrose e cancro do fígado, e também pelos sintomas e complicações que frequentemente lhe estão associadas”, refere em comunicado de imprensa Helena Cortez Pinto, reforçando a importância de conhecer a real dimensão do problema. Mas quando questionada se a quantidade do novo medicamento contra a hepatite C é suficiente, a presidente da associação disse não tinha como responder a essa pergunta. “É muito difícil responder a essa pergunta. Não temos registo do número de doentes que estão em risco imediato [risco de vida]. Poderão existir mais doentes a precisar de tratamento a curto prazo.”

O novo medicamento que, segundo a Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed), só estará disponível para 100 a 150 doentes em risco de vida custa, em Portugal, 48 mil euros por três meses de terapia, o que pode representar 150 mil euros por tratamento porque mais de metade dos doentes necessitam do triplo do tempo de terapêutica. Mesmo assim pode não ser o suficiente para salvar a vida aos doentes. “Caso o doente sofra de cirrose, tratar a infeção por hepatite C não é suficiente para resolver o risco imediato. Cura-se a infeção, mas não a doença hepática que pode resultar de outros fatores”, refere Helena Cortez Pinto. E a cirrose, mesmo sem infeção de hepatite C, pode levar à morte.

Ambos os estudos incidiram também sobre a prevalência da hepatite B. O estudo E-cor revela que a prevalência de doentes que contactaram com o vírus da hepatite B é 9,7% numa amostra de 1.290 indivíduos, enquanto a prevalência de pessoas com anticorpos contra o vírus da hepatite B por terem sido vacinadas é 30% numa amostra de 1.301 indivíduos da população em geral. Para indivíduos com menos de 25 anos a prevalência sobe para 62%. “Esta população corresponde à população vacinada e os resultados demonstram a eficácia do programa de vacinação da hepatite B, implementado nos últimos anos em Portugal”, sublinha Helena Cortez Pinto. Atualmente segue-se um programa universal de vacinação do recém-nascido.

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