Os três eurodeputados portugueses com assento na comissão parlamentar responsável pela audição a Carlos Moedas consideraram esta terça-feira que o comissário indigitado pelo Governo português está obviamente preparado, manifestando-se antes preocupados com a sua linha política.
Após três horas de questões ao comissário que deverá ficar responsável pela pasta da Investigação, Ciência e Inovação, Carlos Zorrinho (PS), membro efetivo da comissão de Indústria, Investigação e Energia, comentou que Moedas “estava bastante preparado e teve uma prestação claramente positiva”.
Segundo o líder da delegação do PS ao Parlamento Europeu, a grande questão é se Moedas será mais leal às ideais do presidente eleito da próxima Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que fez do investimento uma das suas grandes “bandeiras”, ou à linha do Governo português de Passos Coelho.
“Quase imagino o que vai ser o dia-a-dia de Carlos Moedas nos próximos tempos: de manhã receberá um telefonema de Jean-Claude Juncker a dizer «investe, investe, investe»; ao fim da tarde, Passos Coelho, que tem assento no Conselho e não tem feito nada para aumentar o investimento nesta área, vai telefonar a dizer «corta, corta, corta»”, ironizou Zorrinho, acrescentando que fica à espera de saber “de que lado estará” o antigo secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro nas suas funções como comissário.
Para Marisa Matias, “não restam dúvidas” de que Moedas, tal como o próprio frisou na audição, “é capaz de implementar e é orientado para os resultados”, e que está preparado, comentando, no entanto, também em tom irónico, que até seria preferível “não estar tão bem preparado”.
“Eu não ponho em dúvida a capacidade dele para ser comissário neste contexto político que vivemos e com aquilo que são as ideias políticas dominantes. Mostrou que está bem preparado dentro daquilo que é a sua linha política. Até diria, neste caso, que era melhor não estar tão bem preparado”, afirmou, sustentando que que investigação e inovação não devem ser orientadas para o mercado, pelo que teme “a reprodução ao nível europeu do que foi feito em Portugal”.
Também João Ferreira, do PCP, disse que as audições servem, não tanto para avaliar a capacidade do comissário indigitado, mas sim “o seu projeto e programa político”, e esse, disse, “não serve à Europa”, pois mantém as desigualdades entre Estados-membros, também na área da investigação, ciência e inovação.
“Portugal é contribuinte líquido do programa-quadro de investigação (Horizonte2020), ou seja, mete lá mais dinheiro do que vai buscar. O que vai fazer (Moedas) para garantir uma distribuição equilibrada dos fundos para a ciência, para garantir que Portugal deixe de ser um financiador dos países ricos? Esta pergunta ficou sem resposta”, apontou.
Concluída a audição, os coordenadores da comissão parlamentar reunir-se-ão da parte da tarde para elaborar o seu parecer sobre a prestação de Carlos Moedas, que foi muito felicitado pela grande maioria dos eurodeputados à saída da sala.