A produção industrial na Alemanha derrapou 4% em agosto, a maior queda mensal dos últimos cinco anos e muito pior do que o previsto pelos economistas. O índice de encomendas, que desceu 5,7%, também não dá razões para acreditar numa recuperação no imediato. Os dados económicos divulgados nos últimos dias fizeram desta uma semana turbulenta nas bolsas. Um economista diz que a culpa é de Vladimir Putin.

Os máximos históricos fixados por algumas das bolsas europeias em junho, graças ao otimismo em torno de mais estímulos por parte do Banco Central Europeu, são um cenário cada vez mais distante. A bolsa alemã, por exemplo, perde mais de 12% desde essa altura, segundo o The Wall Street Journal, o que comprova que o mercado de Frankfurt está vulnerável aos receios dos últimos dias em relação ao crescimento global e, em especial, da economia alemã.

As medidas de estímulo por parte do banco central são um fator decisivo para levar os investidores a apostar em ativos de risco, como as ações. Mas, apesar de Mario Draghi ter correspondido às expectativas do mercado, tudo mudou quando se tornaram cada vez mais óbvios os sinais de que o “motor” da economia europeia não está nas melhores condições. O produto interno bruto (PIB) da Alemanha desceu 0,2% no segundo trimestre e os últimos dados económicos mostram que isto poderá ter sido tudo menos um percalço. As notícias de que o Fundo Monetário Internacional (FMI) está mais pessimista sobre o crescimento mundial não ajudaram.

Durante a sessão desta sexta-feira, o índice de ações de Frankfurt – o Xetra DAX 30 – segue a cair quase 2%. Em Lisboa, o PSI-20 perde 1,27% perto da hora do fecho, mas já esteve a cair mais de 3% para mínimos desde 2012, segundo o Jornal de Negócios. “A zona euro está, evidentemente, perante uma crise de deflação e existem receios de que o BCE irá marcar passo e, depois, fazer muito pouco e demasiado tarde para fomentar uma recuperação”, disse ao The Wall Street Journal Philip Lawlor, um gestor de ativos da londrina Smith & Williamson Investment Management.

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Putin deu “choque na confiança” dos mercados

Em nota de análise enviada ao Observador, o Berenberg Bank afirma que “o gatilho para esta correção [nas bolsas] está a ser o risco geopolítico”. “A agressão da Rússia no leste da Ucrânia causou um choque na confiança que afeta mais a Alemanha do que outros países devido aos elos de ligação no comércio e no setor da energia”, escreve o economista Christian Schulz.

“Esta incerteza foi amplificada por receios relacionados com a Síria e o Iraque e, além disso, com a epidemia de ébola”, diz o especialista. Christian Schulz mantém-se, no entanto, confiante de que “a Alemanha está numa situação fundamentalmente robusta, pelo que podemos esperar uma recuperação à medida que estes receios desvanecerem”.