Vai ser um crash financeiro, de faz de conta. E se um grande banco transatlântico afundasse, ou seja, falisse? Curioso? Os Estados Unidos da América (EUA) e o Reino Unido também. Esta segunda-feira, as duas nações vão estar envolvidas num jogo de guerra, onde as armas não são bélicas, são dinheiro. Como? Com uma simulação na banca, para descobrir como reagiriam, caso um grande credor britânico, com operações nos EUA – como o HSBC – e um banco norte-americano que tenha unidades no Reino Unido – como o J.P. Morgan -, entrassem em falência.
O secretário do Tesouro norte-americano Jack Lew, o homónimo britânico George Osborne e os responsáveis dos bancos centrais de ambos os países vão fazer parte da simulação, num cenário onde as autoridades britânicas e norte-americanas vão tentar certificar-se de que conseguem lidar com a eventual falência de uma instituição transatlântica, revela a imprensa internacional.
“Vamos certificarmo-nos de que conseguimos lidar com [a eventual crise de] uma instituição, que tenha sido considerada grande demais para cair… e isso demonstra o caminho que temos vindo a percorrer, nos últimos anos, para construirmos resiliência e que temos aprendido as lições da crise financeira”, explicou George Osborne, citado no Financial Times.
É um jogo de guerra, daqueles que servem para construir a confiança e a cooperação entre agentes ou países. Ou melhor, é a sua mais recente encarnação. “É uma oportunidade para nos certificarmos de que os nossos programas internos, que são diferentes, mas similares, funcionam”, explicou Osborne ao Financial Times.
Instituições como o Bank of America, Goldman Sachs, Barclays ou o HSBC vão reunir-se em Washington DC, nos EUA, para assegurarem que sabem o que fazer, quem devem chamar e como devem informar o público, em caso de explosão financeira.
Há instituições que são grandes demais para cair? A história diz que não. Basta recuar até setembro de 2008 e lembrar a falência do gigante da banca de investimento norte-americana Lehman Brothers. O Financial Times recorda: quando o Reino Unido e os EUA tiveram que enfrentar a crise levantada pela falência da instituição, a boa relação, que existia entre ambos os países, quebrou-se.
George Osborne explicou, à saída dos encontros anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI), que a simulação deve tranquilizar os contribuintes. Em causa, está o afastamento da possibilidade de os Governos terem de voltar a salvar bancos, como aconteceu durante a crise financeira de 2008/2009.
O que pretendem com o exercício? Certificarem-se de que todos os agentes envolvidos, incluindo políticos, conhecem as suas responsabilidades e sabem como agir, que credores deveriam ser atingidos e como devem comunicar com as autoridades.
“Nenhum jogo de guerra é exatamente fiel àquilo que é a guerra”, disse Osborne, mas “vai fazer com que estejamos melhor preparados e os diretores vão ter de questionar-se com perguntas difíceis”.
O jogo de guerra financeira surge no início de uma série de eventos internacionais que envolvem a regulação bancária, como os novos testes de stress à banca europeia, agendados para 26 de outubro. A primeira série do género ocorreu em 2004, com o Bank of England e a Autoridade de Serviços Financeiros, que à data regulava a banca do Reino Unido, a procurarem saber como podiam lidar com o colapso de uma grande instituição financeira, explica o Quartz.
Simulações transfronteiriças. Os jogos de guerra têm vindo a ajudar Governos e líderes mundiais a prepararem-se para lidar com diversas ameaças, como o terrorismo nuclear, armas químicas ou eventuais ataques de hackers. Em 2015, Portugal também vai ser a sede de um jogo de guerra, juntamente com Espanha. Prepare-se: cerca de 40 mil tropas vão estar na Península Ibérica a preparem-se para um eventual cenário de guerra, promovido pela NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte).