Uma das maiores empresas do mundo na área da defesa, a Lockheed Martin, anunciou na quarta-feira um progresso no campo da fusão nuclear que poderá ter consequências assinaláveis para a produção de energia. Mas os cientistas receberam o anúncio com cautela e ceticismo.
A Lockheed Martin alega que os futuros reatores de fusão nuclear, que a empresa está a desenvolver, serão dez vezes mais pequenos do que atualmente é possível, pelo que caberiam, por exemplo, num reboque. A empresa afirma que tais reatores, que permitiriam fundir dois átomos de hidrogénio de modo a criar um só átomo de hélio – num processo semelhante ao que ocorre no Sol -, geraria muito mais energia do que os métodos atualmente usados, além de ter um impacto ambiental muito menor. Segundo a Lockheed Martin, os reatores poderão estar prontos para ser usados nos próximos dez anos.
O líder do projeto, Tom McGuire, disse à Reuters que a empresa já está a trabalhar nesta área há cerca de quatro anos e que decidiu agora torná-lo público de forma a convencer outros organismos interessados em investir na investigação. Só que alguns membros da comunidade científica não parecem tão confiantes como a Lockheed. “A procura pela [tecnologia de] fusão já é longa e dolorosa”, afirmou ao The Register Edward Morse, um professor universitário de engenharia nuclear, que sublinha que a Lockheed não divulgou dados muito específicos sobre o progresso que diz ter alcançado.
A energia nuclear criada hoje em dia é obtida através da fissão de átomos e não da sua fusão, um meio de produção de energia que está a ser investigado desde os anos 1950 – e é por isso que muitos cientistas estão céticos.
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“Vou apenas dizer que, na medida em que eles não fornecem quaisquer pormenores técnicos sobre o que este ‘avanço’ realmente é, estou muito cético. É incrível a quantidade de publicidade que se gera com informação mínima”, comentou ao Guardian um cientista que não quis identificar-se do International Thermonuclear Experimental Reactor (Iter), um projeto global que faz pesquisa nesta área.
Quem acredita nas promessas da Lockheed é um dos seus competidores. Nathan Gilliland, diretor da empresa canadiana General Fusion, que trabalha para alcançar os mesmos objetivos, comenta: “Felizmente as coisas mudaram nos últimos cinco anos. Houve realmente progressos (…), já é uma questão de quando, não se” vai obter esta tecnologia, considerou. Para o próximo ano, a Lockheed Martin promete um protótipo do seu reator de fusão nuclear e, para 2017, um já em pleno funcionamento.