Passaram quase 50 anos desde que o primeiro exemplar do dinossauro Deinocheirus mirificus foi descoberto no deserto de Gobi, na Ásia. O esqueleto estava muito incompleto, mas os membros anteriores tão distintos permitiram classificá-lo como uma nova espécie. Os dois novos espécimes agora descritos na revista científica Nature permitiram perceber mais sobre este animal – os parentes mais próximos, o tipo de alimentação e o modo de locomoção.
O espécime descoberto em 1965 apresentava apenas os dois membros anteriores, algumas vértebras e costelas. Mas o destaque estava precisamente no tamanho desses membros – 2,4 metros de comprimento era muito pouco comum para um dinossauro bípede (no Tyrannosaurus rex não media mais de um metro). Foi esta característica única que lhe valeu o nome Deinocheirus, do grego “mão horrenda”, mirificus, do latim “invulgar”. Mas era impossível sequer perceber a que família podia pertencer.
Dos dois novos espécimes encontrados, um deles têm os membros superiores ainda maiores, mas os esqueletos mais completos permitem encaixar estes dinossauros na família dos “dinossauros semelhantes a aves” (Ornithomimosauria). São parentes dos tiranossauros e dos velociraptores, mas são omnívoros. Embora os dentes sejam típicos dos animais que se alimentam de plantas, no estômago foram encontrados restos de peixes. A alimentação, assim como os dedos grandes para não se enterrarem no lodo, indicam que os Deinocheirus mirificus viveriam próximo da água. De facto, acredita-se que há 70 milhões de anos o deserto de Gobi teria um ambiente semelhante ao delta do Okavango, em África.
El País descreve-o como semelhante a uma avestruz com 11 metros de altura, seis toneladas e meia de peso, uma corcunda, um focinho de um metro com um bico como o de pato e grandes garras na extremidade dos braços longos – mãos horrendas invulgares. Os novos dados surgem graças ao trabalho da equipa de Yuong-Nam Lee, investigador no Museu Geológico do Instituto Coreano de Geociência e Recursos Minerais (Coreia do Sul). Um dos espécimes foi descoberto em 2006, o outro em 2009, mas só em 2011 foram recuperados os ossos que tinham sido roubados e vendidos ilegalmente muitos anos antes.
Os cientistas acreditam que a corcunda de Deinocheirus mirificus fora do comum serviria para sustentar as pernas muito fortes e o abdómen grande graças aos ligamentos que teria – à semelhança do que acontece com as pontes suspensas como a Ponte 25 de Abril. “É definitivamente um animal invulgar”, disse à Nature Thomas Holtz, um paleontólogo de vertebrados na Universidade de Maryland. “Tinha uma ‘barriga de cerveja’ maior do que os ornitomimossaurios típicos.”