Dinheiro e publicidade. Eram os dois principais objetivos do Estado Islâmico (EI) que planeava sequestrar traficantes de droga em Marrocos para depois exigir quantias avultadas aos familiares dos reféns.

De acordo com fontes da investigação citadas pelo El País, a estratégia foi descoberta quando, em maio deste ano, a Polícia e a Guarda Civil espanhola detiveram, em Melilla – cidade espanhola no norte de África -, seis jihadistas que pertenciam às células espanholas do EI, liderados a partir da Síria e do Iraque por Said Mohamed Zakaria, um ex-militar de nacionalidade espanhola, especialista em explosivos.

Os seis traziam consigo computadores e documentos, contendo os detalhes do plano: o EI pretendia raptar traficantes de haxixe nas cidades marroquinas próximas de Melilla e exigir que as famílias das vítimas pagassem elevados resgates.

Os serviços de inteligência espanhóis estão preocupados com a mudança estratégica do grupo. Se antes o modus operandi das organizações terroristas como a Al-Qaeda, por exemplo, passava por conseguir financiamento para atentados pontuais, como o 11 de Março em Madrid ou o 7 de Julho em Londres, fundamentalmente através da venda de carros roubados, da venda de pequenas quantidades de droga, ouro e diamantes, ou de esquemas de falsificação de cartões de crédito, este novo método, assente no sequestro de traficantes de droga abastados, pode representar uma grave ameaça para todo o mundo ocidental.

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Marrocos seria apenas o primeiro passo. Seguir-se-iam Ceuta e Melilla, onde residem algumas das famílias mais ricas da região, que vivem há décadas da produção e tráfico para a Europa de haxixe produzido em Marrocos. Mas não há como garantir que o EI ficasse pelo norte do continente africano: a ameaça de sequestros pode estender-se a Espanha e ao resto da Europa – é essa a principal preocupação das autoridades espanholas.

“E se as células do Estado Islâmico (EI) raptarem na Europa, não apenas os traficantes, mas qualquer cidadão considerado inimigo, em busca de publicidade?”, questiona um especialista em serviços de informação, ouvido pelo El País. “É algo que não se pode descartar, porque a propaganda é uma prioridade para a organização”, conclui. O EI ordenou a todos os seus membros que matassem qualquer cidadão da coligação internacional, como lembra o jornal espanhol.

Britânicos que querem abandonar o EI ameaçados de morte

O The Guardian, citando uma fonte próxima dos grupos rebeldes sírios, revelou este domingo (26) que existem britânicos que querem abandonar o EI e regressar a casa e que, por isso, estão a ser ameaçados de morte pela organização terrorista.

“Existem britânicos que querem abandonar [o EI] e estão a ser ameaçados de morte, direta ou indiretamente”, revelou a fonte consultada pelo jornal inglês.

O EI parece não estar disposto a perder a sua influência na Europa e a explicação é simples: demonstrações de poder no continente ou ter nas suas fileiras cidadãos europeus é a melhor arma de propaganda em seu poder. Daí que, qualquer tentativa para desertar, é vista como uma traição e uma ameaça à coesão da organização.

O britânico Moazzam Begg, que esteve detido na base de Guantánamo por alegadamente pertencer à al-Qaeda, também confirmou conhecer mais de 30 britânicos que queriam voltar ao Reino Unido, mas que ficaram presos na Síria e no Iraque. Begg explicou ao The Guardian que, em muitos dos casos, estes cidadãos queriam juntar-se ao grupo de rebeldes que combatiam o presidente sírio, Bashar al-Assad, mas que acabaram na teia do EI.

Muitos britânicos estão presos entre “a espada e a parede. (…) O número de pessoas que querem voltar é enorme. Em janeiro, seriam cerca de 30 (…) Mas o número terá definitivamente aumentado”, acredita Begg.

Todavia, o EI não está disposto a deixá-los sair. “Quando o Estado Islâmico se tornou sólido, um califado, e tu juraste fidelidade, a partir daí, se cometeres algo um ato de desobediência, está a desobedecer ao califa e sujeitas-te a medidas que podem incluir ameaças de morte ou a morte”, explica Begg.

De acordo como The Guardian, o governo britânico sugeriu que os britânicos que foram combater pelo Estado Islâmico, quando e se regressarem, serão julgados por traição.