Na rede de prisões subterrâneas da Síria os reféns são sujeitos a um sofrimento indescritível, noticia o New York Times. São espancados e submetidos a simulações de afogamento, passam fome e são ameaçados de morte, sem saberem o que lhes vai acontecer no dia seguinte. Depois do sequestro, os prisioneiros apoiam-se uns aos outros e jogam para matar as horas que custam a passar, mas à medida que o desespero aumenta lutam entre si e acabam por ficar mais próximos dos captores. Chegam mesmo a converter-se ao islamismo.

Quando o jornalista norte-americano James Foley foi capturado no final de 2012 o grupo terrorista do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS) ainda não existia. Desde essa altura, pelo menos mais 23 pessoas de 12 países forma capturadas. Eram maioritariamente cidadãos da Europa ocidental cujos países são conhecidos por pagarem resgates. E o objetivo do grupo terrorista era angariar dinheiro. “Os sequestradores sabiam quais os países que estariam mais disponíveis para as exigências que tinham e criaram uma ordem baseada na facilidade com que pensavam que poderiam negociar”, disse um dos prisioneiros. “Começaram com Espanha.”

Mas os Estados Unidos não pagam resgates. Para compensar o exército americano tentou uma operação de salvamento de James Foley e de outros prisioneiros, mas falhou. Mesmo assim, o governo americano manteve a opção de não pagar resgates a terroristas dizendo que acabava por salvar os cidadãos americanos a longo prazo porque se tornavam alvos menos apetecíveis. James Foley acabou por ser decapitado. Uma execução gravada em vídeo e disponibilizada na internet.

A esperança nos resgates

O jornalista norte-americano foi capturado a 22 de novembro de 2012 juntamente com o fotógrafo britânico John Cantlie quando estavam prestes a chegar à fronteira com a Turquia. O táxi em que seguiam foi intercetado e os dois jornalistas foram capturados deixando para trás o guia-intérprete que os acompanhava. Esta foi a estratégia utilizada pelos terroristas nos raptos que se seguiram: identificar os guias, seguir os movimentos e capturar os estrangeiros que os acompanhavam. Mais um americano, quatro franceses, três espanhóis, cinco voluntários da associação Médicos Sem Fronteiras, entre outros num total de 23 pessoas, foram capturados pelos jihadistas – veteranos da Al Qaeda no Iraque e com um comportamento mais extremistas do que os rebeldes locais.

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Houve um dia em que James Foley voltou feliz do interrogatório, tinham-lhe feito perguntas pessoais. Sinal que iriam contactar a família e as respostas que tinha dado eram sinal de que ainda se encontrava vivo. Em dezembro de 2013, James Foley esperava que a família pudesse ter finalmente notícias sobre o que lhe tinha acontecido e que em breve o governo o pudesse salvar. Mas ao contrário do que esperava, o governo norte-americano recusou-se a negociar a libertação do jornalista que foi executado em agosto de 2014.

Tanto quanto se sabe o colega de captura britânico ainda continua vivo, mas um outro jornalista americano, capturado no verão de 2013, foi decapitado pouco tempo depois de Foley. A maior parte dos restantes prisioneiros, como franceses, espanhóis ou dinamarqueses, foram libertados depois dos resgates pagos pelos respetivos países. Parte do que agora se sabe veio dos testemunhos destas pessoas. Muitos contam como James Foley foi o prisioneiro mais torturado daquele grupo.

Depois de capturados, além de ver os equipamentos confiscados e o conteúdo analisado, os prisioneiros eram obrigados a dar as palavras-chave das contas de email e redes sociais. Cada prisioneiro era investigado. Cada nova descoberta constituía mais um motivo para serem espancados – o britânico David Cawthorne Haines falava da experiência militar no perfil do Linked in, o americano Peter Kassig era um veterano da Guerra do Iraque, James Foley tinha fotografias de militares americanos. Para os terroristas todos eles eram possíveis espiões.

Durante o cativeiro, os prisioneiros foram guardados por grupos diferentes de terroristas que tratavam os prisioneiros de forma diferente – uns davam-lhes doces, outros quase os espancavam até à morte. Fora das paredes da prisão o grupo terrorista ISIS ganhava forma e poder. Organizaram-se e num inglês de sotaque acentuado mandaram os estrangeiros “desobedientes” (“naughty”, como os vários prisioneiros descreveram) enviar uma carta às famílias. No final de 2013 os pedidos de resgate começaram, mas os Estados Unidos e o Reino Unido estavam no fim da lista – os raptores já desconfiavam do pouco sucesso que teriam com estes países. Em junho de 2014, dos 23 prisioneiros só restavam sete cujos governos se recusaram a pagar os resgates: quatro americanos e três britânicos.