“O anterior comissário responsável pelas Relações Externas, Chris Patten, descreveu a missão do presidente da Comissão Europeia como ‘a função mais difícil de desempenhar em todo o mundo ocidental9. Após 10 anos no posto, acho que posso concordar com esta afirmação”, declarou Durão Barroso, num testemunho escrito divulgado por ocasião da sua despedida perante o Parlamento Europeu, em Estrasburgo.

Num encontro de despedida com jornalistas portugueses em Bruxelas, o antigo primeiro-ministro apontou que enfrentou crises desde o início do primeiro mandato: começou por ter de lidar com uma crise política e institucional aberta pela não ratificação do Tratado Constitucional, seguiu-se a grave crise financeira e da dívida soberana que afetou muito em particular a União Europeia e a zona euro, e terminou com “uma das mais graves crises” a nível de política externa e segurança desde a “guerra fria”, provocada pelas posições da Rússia no conflito com a Ucrânia.

Pelo meio, decorreram e foram fechadas com sucesso e atempadamente as sempre complexas negociações de dois quadros financeiros plurianuais, os orçamentos da UE para os períodos 2007-2013 e 2014-2020.

Além do mais, aponta, ao longo da última década, a UE quase duplicou o número dos seus membros — de 15 para 28 países -, o que mostra, por um lado, o sucesso do projeto europeu, sustenta, mas por outro torna mais complexo o processo de tomada de decisão, pois a UE é “uma união de democracia” e é preciso buscar compromissos entre todos.

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No cômputo geral, destaca a “extraordinária resiliência da União Europeia”, que superou todas estas crises e desafios.

A primeira crise, provocada pelos “chumbos” de dois países fundadores da UE, Holanda e França, ao Tratado Constitucional foi “resolvida e bem” com o acordo em torno do que viria a ser batizado como Tratado de Lisboa, quando “muita gente achava difícil uma solução”, referiu.

A crise financeira, apontou, foi aquela na qual teve que “investir mais tempo e energia”, e, embora a retoma económica ainda não se esteja a fazer sentir como seria desejável, admitiu, “pode considerar-se resolvida no que diz respeito à estabilidade financeira”, não se tendo concretizado os vaticínios de muitos no sentido de “uma desintegração do euro ou mesmo de uma implosão da União Europeia”.

Da crise, sublinhou, saiu ainda uma moldura institucional que conferiu “mais coordenação e mais competências à Comissão Europeia”, antes consideradas “impensáveis”, afirmou.

Por fim, a terceira crise, o conflito entre Ucrânia e Rússia, ainda não está superado, mas, sustentou Durão Barroso, a UE desempenhou um papel chave com a preocupação de “evitar que o conflito se alastrasse e se tornasse uma guerra aberta”, que teria “consequências dramáticas também para a Europa no seu conjunto”.

E porque a história dos dois mandatos não foi só feita de crises, elege como o momento mais feliz a atribuição à UE do Prémio Nobel da Paz, em 2012, e destaca com orgulho o facto de, mesmo em tempos de crise, ter conseguido “manter a UE aberta” à entrada de novos países, quando havia uma “tentação óbvia” para o bloco europeu se fechar.

No cômputo geral, o seu balanço é por isso positivo, sobretudo atendendo à conjuntura.

“Foram sem dúvida os tempos mais difíceis da integração europeia”, declarou.

ACC // PJA

Lusa/fim