Com a temperatura a descer nos próximos dias, aumenta o apetite pela castanha, não estivesse quase aí o S. Martinho. Mas este ano, além de mais caras do que o costume, as castanhas não serão tão boas. Quem o garante é o investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e presidente da Associação Portuguesa da Castanha (RefCast), José Laranjo. “Não vão faltar castanhas no S. Martinho, mas a qualidade não se vai manter. Terão talvez menos açúcar”, antecipa ao Observador o investigador.
A chuva e o frio que se fizeram sentir, de forma atípica, no verão, foram fatais para a produção de castanha, uma vez que criaram dificuldades na polinização e atrasaram o processo de maturação da castanha. A juntar a este cenário, os soutos, sobretudo nas terras mais altas, foram atacados por um fungo, sem precedentes, que destruiu grande parte da produção da castanha. O fungo septoriose do castanheiro atingiu as folhas da árvore, que caíram e com as folhas “caíram os frutos”, explicou Eduardo Roxo, presidente da Associação Arborea, adiantando que o concelho de Vinhais foi dos mais afetados.
José Laranjo explicou, por sua vez, que os soutos mais afetados, quer pelo tempo, quer pelo fungo, são, naturalmente, os que se encontram em terras acima dos 800 ou 900 metros de altitude. E que nesses casos, na parte norte de Trás-os-Montes a quebra da produção atingiu os 80%. Já nas terras mais baixas como Macedo de Cavaleiros, Penedono, algumas zonas de Trancoso e Sernancelhe a redução ficou-se pelos 20%, em média.
“Esta redução brutal da castanha nas terras altas e a redução média de 40 a 50% no total da produção de castanha vai ter evidentemente reflexo no mercado nacional”, admitiu o investigador. E se normalmente a procura já suplanta a oferta, este ano isso será ainda mais notório e “vai-se notar no preço” que por esta altura já está 40 a 50% acima do que é normal, a rondar os 3,50 euros/ 4,00 euros, avançou.
Reduzir exportações pode ser solução
Uma das formas de o mercado nacional contornar a quebra na produção este ano, diz José Laranjo, pode passar por “reduzir as exportações”.
De acordo com o presidente da RefCast, 30 a 40% das castanhas produzidas em Portugal vão para fora, para países como Itália, França e Espanha. No ano passado, foram exportadas 15 mil toneladas de castanhas, o que correspondeu a um encaixe de 50 milhões de euros para os produtores nacionais. “Exportamos qualidade e importamos quantidade”, resumiu o investigador, antes de dizer que Portugal importa anualmente cerca de mil a duas mil toneladas de castanha, sobretudo as grandes superfícies, para dar resposta à procura.
Habitualmente, o mercado da castanha vale 50 mil toneladas, com os valores de venda das castanhas a rondarem os 70 a 100 milhões de euros. Este ano a produção deverá cair para as 30 mil toneladas, diz José Laranjo.