“Era muito fácil, para mim, reunir um conjunto de obras e fazer uma pequena exposição antológica do meu trabalho (…), mas eu quis fazer obras novas para Luanda”, explicou a pintora, em declarações à Lusa, via telefone, antes de partir para Angola.
Num ano já “muito preenchido” com trabalho, fazer obras novas foi “um desafio”, reconheceu.
“São peças que têm a ver muito com o imaginário que eu tenho de Luanda e de Angola, (…) completamente baseado nos nomes e naquilo que imagino que poderá ser África, porque eu nunca lá estive”, assinalou.
“Em África, nunca passei de Marrocos”, esclarece, contando que absorveu apenas o que o pai contava da Guiné-Bissau, onde esteve durante a guerra colonial.
Seis telas sobre o comprido e com “dimensões razoáveis” e uma peça única, composta por 30 desenhos sobre Seleções do Reader’s Digest dos anos 1970 (chamada “Trinta anos de mim mesma”), são as obras que Ana Vidigal fez de propósito para a exposição na capital angolana.
Só a série “Austeridade”, com sete desenhos, não é nova. A escolha desta obra de 2013 “não foi um acaso”, tanto pelo tema em si, como também porque utiliza materiais que, “com muita facilidade” podem ser conseguidos em Luanda, como restos de alcatifa e fita para isolamento de tubos, explicou a pintora.
A pintura não recorre apenas a “materiais nobres”, e considerou “estimulante” que, à falta de telas, se faça arte com catanas.
Ana Vidigal disse ter uma “grande proximidade” com vários artistas angolanos, que conheceu em Portugal. Admiradora do “trabalho interessantíssimo” de António Ole, Délio Jasse, Yonamine, Francisco Vidal, Rita GT e Cristiano Mangovo, quando o Camões — Instituto da Cooperação e da Língua a convidou para expor em Luanda, pensou “imediatamente” que gostaria “de ir conhecer o sítio onde essas pessoas trabalham, nasceram e fazem a sua vida”.
Ana Vidigal disse que não leva “nenhumas expetativas” para Luanda, mas que acredita que vai encontrar uma cena cultural vibrante. “Estou completamente aberta a ver o que irei ver”.
Hoje, considerou, “os artistas angolanos estão mais interessados em olhar para o futuro do que em olhar para o passado”, num país “em completa ebulição, a todos os níveis”.
A inauguração da exposição “Jugular” — nome com o qual a pintora pretende mostrar que, aos 54 anos, ainda tem “sangue na guelra” — acontece na quinta-feira, no Centro Cultural Português, onde permanecerá até 13 de novembro.
Ana Vidigal ficará em Luanda até 07 de novembro, para conhecer o trabalho de jovens artistas angolanos e “aprender com eles”.