José Sócrates disse no comentário semanal que faz ao domingo na RTP 1 que Durão Barroso “seria o candidato natural da direita portuguesa ao cargo de Presidente da República”, mas que o ex-presidente da Comissão Europeia “esbarrava” num problema: a falta de apoios populares, ou seja “a simpatia dos portugueses”.

Sobre o percurso de Barroso na Comissão Europeia, o comentador referiu que não podia fazer um balanço positivo do mandato, porque tinha uma “discordância política” com o ex-presidente. “É uma desolação ver o estado em que está a Europa“, disse, referindo que existia, agora, “um fosso como nunca existiu entre o norte e o sul” e que se deixou de falar em coesão social.

“Tenho uma opinião muito negativa sobre a orientação da política europeia ao longo destes anos”, disse, acrescentando que tinha sido dirigida uma política económica “errada”, que “pôs em causa os fundamentos daquilo que é o projeto Europa”. José Sócrates disse ainda que Durão Barroso “não teve a fortuna de ter os tempos a seu favor e teve de navegar em mares tumultuosos e liderar em tempos difíceis”, mas que também não teve a “virtude” de se opor à política europeia.

Sobre a falta de apoios dos portugueses, o ex-primeiro-ministro adiantou que Durão Barroso tomou várias decisões políticas que o “mataram”. A primeira foi o facto de as pessoas acharem que ele “abandonou” a liderança do país para ir para a Comissão Europeia. “O que me parece é que acharam que ele pensou mais na carreira dele do que no país”, referiu. Depois, lembrou o facto de Barroso ter apoiado a guerra do Iraque, que, disse, causou uma “divisão no país”, na altura. Terceira decisão, segundo Sócrates: “foi o rosto da política europeia que permitiu que, neste país, se fosse além da troika”.

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“Isto é absolutamente insólito na história parlamentar”

Sobe o debate do Orçamento do Estado para 2015 e a reviravolta no discurso de Pedro Passos Coelho no que diz respeito aos cortes dos salários na função pública, Sócrates referiu que tinha sido algo “absolutamente insólito”. “Já vi muita coisa e é natural que um político mude de opinião, mas nunca vi um primeiro-ministro mudar de opinião no meio de um debate”, referiu.

O debate serviu para que os portugueses saibam qual é “exatamente a orientação do primeiro-ministro”, referiu o comentador. “Isto já não vai permitir que o primeiro-ministro diga o que disse há quatro anos, de que iria apenas cortar nas gorduras”, lembrou.

O executivo de Passos Coelho foi alvo de outras críticas. No comentário deste domingo, Sócrates lembrou que o Governo tem utilizado a expressão “viragem económica” desde 2012 e citou diversas notícias de 2012, 2013 e 2014 em que o primeiro-ministro refere que o ano em questão é o ano da “viragem”. “Não lhe parece viragem a mais?”, pergunta à jornalista da RTP 1.

“Todos os anos foram anos de viragem. Bom, isto já não me parece uma viragem, mas um virote. O que me parece é que a viragem foi de 90º todos os anos”, referiu, acrescentando que ao fim de quatro anos, “regressamos ao mesmo ponto”.

Quando a jornalista da RTP recupera a intervenção de Paulo Portas no debate do orçamento para dizer que não tinha sido aquele Governo o responsável pelo resgate de Portugal, Sócrates respondeu que “pouco lhe interessavam essas considerações”.

Paulo Portas é uma espécie de vice-primeiro-ministro de faz de conta. Ele faz de conta que não aumentou os impostos, faz de conta que não cortou pensões, faz de conta que não foi membro do Governo de Durão Barroso, quando deixaram o défice em 6,83%. Até faz de conta que não comprou submarinos ou que não decidiu comprá-los. Por isso, a mim pouco me interessam essas considerações”, referiu.