Confusão. Das grandes. O rastilho veio de Pedro Proença. Aos 34 anos, o árbitro já pegou e soprou no apito em quase todo o lado: na final da Liga dos Campeões e na decisão de um Campeonato da Europa, ambos em 2012, e um Mundial, agora em 2014. Há dois anos, a Federação Internacional de História e Estatística do Futebol viu no português o melhor árbitro do mundo. Só coisas boas. Até ao início de novembro, em que o diretor financeiro de profissão deu uma entrevista que entornou o caldo — para cima do Conselho de Arbitragem (CA) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF).

Pedro Proença, na altura, falou de “um caos instalado” no CA, que dizia seguir à boleia de “um modelo esgotado” e de “um corpo dirigente absolutamente amador”. Disse mais: “A estratégia de comunicação interna, com os árbitros, e externa, com os media; toda a gestão do projeto do profissionalismo e o modelo que foi imposto; uma academia de arbitragem que não tem resultados; a destruição do modelo que existia quanto aos árbitros assistentes, faz com que dependam dos árbitros que convidam para a primeira categoria.” Vítor Pereira, antigo árbitro e presidente do CA, não gostou.

E proibiu Proença de dar mais entrevistas. Duas, pelo menos. Escreveu-se muito, especulou-se um pouco e, de repente, esta segunda-feira, o Conselho de Arbitragem dá novidades. A entidade chamara o árbitro, Vítor “ouviu as explicações” de Pedro sobre a entrevista e ambos trocaram “os respetivos pontos de vista”, lê-se num comunicado enviado pelo CA. E pronto, “considera-se o assunto encerrado”.

Até que, no mesmo dia, a FPF avisa que, esta terça-feira, haveria conferência de imprensa com o árbitro. Ainda por causa da entrevista? Não, antes pelo Mundial de Clubes, competição da FIFA que, entre 10 e 20 de dezembro, juntará em Marrocos os clubes campeões das seis associações continentais da entidade: América do Norte, Central e as Caraíbas, América do Sul, Europa, África, Ásia e Oceânia. Ou seja, vai dar ao mesmo se escrevermos que a prova reunirá o Cruz Azul (México), San Lorenzo (Argentina), Real Madrid (Espanha), ES Setif (Argélia), Western Sydney Wanderers (Austrália, sim, aqui faz parte da Ásia) e Auckland City (Nova Zelândia).

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E praticamente não se fala de outra coisa na conferência de imprensa. Pedro Proença assim o garante. “Além do comunicado ontem emanado, não há mais nada a dizer”, sublinha, logo ao início, quando as perguntas o desafiam. Nem sobre isso nem sobre o suposto jogo de miúdos, dos sub-11, para o qual o árbitro supostamente se voluntariou a apitar, no sábado, após a FPF não o escalar para qualquer encontro das ligas profissionais no fim de semana que aí vem. “Expus os meus pontos de vista, fui ouvido [e] as situações ficaram esclarecidas”, concluiu.

Apenas se fala de Mundial de Clubes. E dentro desta conversa é que surgiu a novidade — a de Pedro Proença poder, aos 44 anos, retirar-se da arbitragem assim que termine a prova. Se apitar a final, a 20 de dezembro, é provável que tal aconteça. “A performance a que conseguirmos chegar nesta competição será fundamental para depois avaliar essa questão, assim que chegar de Marrocos e após conversar com Fernando Gomes. Aí anunciarei a minha decisão”, explicou o árbitro que, depois, confessou estar “muito desgastado” com “mais de 20 anos de arbitragem”.

Pedro Proença, que será o primeiro árbitro português a apitar no Mundial de Clubes da FIFA — é o único oficial europeu na prova –, frisou que o país “deve estar muito orgulhoso com a confiança que a FIFA depositou” na sua equipa. Depois, e embora sem os especificar, falou em “aspetos motivacionais” e “pessoais” para justificar o facto de estar abandonar dizer adeus à arbitragem. “Mas a verdade é que já são mais de 20 anos de arbitragem, esta atividade tem um desgaste muito grande, e se calhar, quando chegamos a um determinada patamar, queremos outros desafios”, defendeu.

O oficial disse ainda que “talvez pudesse ter sido feito mais” para que, no verão, tivesse sido ele o escolhido, ao invés do italiano Nicola Rizzoli, para apitar a final do Mundial, no Brasil. Proença, contudo, garantiu que, ao longo da competição, o “feedback” que recebeu “ao longo da competição foi sempre muito positivo”.