Cinco anos, cinco continentes e um sonho. Era este o lema da viagem de Luís Simões, de 35 anos, começada em 2011, para desenhar cantos e recantos deste planeta onde vivemos. Estava tudo “dentro do plano até ter chegado a Hong Kong”. Luís Simões decidiu então ficar durante quase um ano nessa cidade, que vive um rebuliço depois da “Revolução dos Chapéus-de-Chuva”, na qual os habitantes saíram às ruas para exigir eleições livres. Segue-se Mumbai, dia 6. O português gasta 10, 15 euros por dia em alimentação e transportes. A solidão e a falta de carinho ganham a forma de pedras no caminho, mas garante que o desapego se aprende. “Não existe outra solução.” A maior lição está para chegar, mas visitar a “profunda China” foi como um murro no estômago.

“Nunca usei o chapéu-de-chuva até agora [em Hong Kong] a não ser nos meus desenhos. Estive na linha da frente a desenhar por várias vezes onde senti muita tensão e agressividade. (…) Lembro-me que, a determinada altura, a polícia decidiu limpar uma rua e eu estava a desenhar. Usaram a força para correr com os protestantes e decidi recuar. Ouvia berros, vi bastonadas e chapéus a serem dobrados, estudantes a serem levados pela polícia”, conta ao Observador.

A Mongólia e o Japão foram os países que mais o impressionaram até agora. O primeiro por causa da “força da natureza e o espaço livre para absorver esse contacto”, enquanto o segundo “por tornarem o complicado em simples e o simples em complicado”. E onde viveria? “Japão, Hong Kong, Suécia, Itália, Barcelona e Berlim… e Mongólia se decidisse virar nómada”.

Graças ao 3G existente em Hong Kong, o Spotify transformou-se num grande companheiro de viagem. “Oiço James Bay, Villagers, The Passenger, The National, Vance Joy, Daughter, etc”. Luís diz-se pouco disciplinado. Afinal, “ter vida de viajante é andar sem grandes planos e disciplinas.” Tudo para combater a “solidão e a falta de carinho”, que têm sido as maiores dificuldades. “Por mais que uma pessoa seja virada para a frente, é preciso encontrar equilíbrio emocional. É normal para quem viaja durante muito tempo que se torne duro e pouco flexível para construir alguma coisa que envolva compromissos. Chegará o dia em que essa pessoa que viaja sozinha se vai fartar de viver os melhores momentos da vida assim…”

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