É o documento que está na base do pedido de destituição do Conselho de Administração da RTP, ao ter sido chumbado pelo Conselho Geral Independente (CGI) e não incluir qualquer referência ao concurso de compra dos direitos televisivos de transmissão da Liga dos Campeões para o triénio 2015-2018.

O Observador teve acesso ao Projeto Estratégico onde duas referências aparecem bem explícitas: financiamento (ou a falta dele) e concorrência.

O plano traçado pelo Conselho de Administração (CA), liderado por Alberto da Ponte, salienta o “subfinanciamento” para o ano de 2015 e alerta que a RTP “teve de tentar obter pelos seus próprios meios os fundos para a reestruturação por estar em situação de concorrência com outros operadores.”

As críticas à falta de financiamento encontram-se várias vezes inscritas no documento, como no capítulo “Base Financeira”, em que é referido que há subfinanciamento:

“uma vez que a eliminação da indemnização compensatória não foi acompanhada de receitas alternativas para a totalidade das Obrigações de Serviço Público com a qualidade e a excelência pretendidas.”

No documento de 24 páginas é destacada a importância da grelha definida para o próximo ano e as receitas publicitárias geradas por ela:

(…) “A aposta na grelha para 2015 é a que permite atingir o nível de receitas comerciais apresentadas, as quais ganham relevância e se tornam decisivas sobretudo no momento em que o aumento da CAV (contribuição para o audiovisual) não compensou a redução de Indemnizações Compensatórias.”

A previsão para o montante a arrecadar com “Receitas Publicitárias” era de mais de 44,7 milhões de euros, ao passo que os “Rendimentos da Grelha” previstos ascendiam a mais de 80 milhões. Garantir o conjunto de receitas comerciais era assumido como um dos “objetivos chave” definidos no Projeto.

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Quando chumbou o Projeto Estratégico, o CGI considerou que “não obstante a sua aparente não desconformidade com o PDR [Plano de Desenvolvimento e Redimensionamento], revela insuficiência que o fere de qualquer eficácia. Esta insuficiência manifesta-se na débil natureza qualitativa e na ausência de especificação das suas propostas”.

O documento tem um capítulo denominado “Ambição”, onde são explicitados sete pontos, “um conjunto de objetivos chave, que constituem linhas de ação agregadas”. Esses sete pontos passam, resumidamente, por:

  • “cumprir estritamente o que resta do Plano de Desenvolvimento e Redimensionamento e o novo Contrato de Concessão”
  • “manter a relevância do serviço público de media junto do Cidadão”
  • “incrementar a inovação e o desenvolvimento quer nas áreas de conteúdos/criatividade internas e do mercado audiovisual como um todo, (…) quer na tecnologia
  • “apoiar e operacionalizar a solução que vier a ser adotada para os Centros Regionais dos Açores e da Madeira
  • “garantir a execução orçamental aprovada para 2015”
  • “garantir o conjunto de receitas comerciais previsto”
  • “continuar o processo de transformação interna, na formação e adequação dos seus recursos humanos aos desafios em curso, organização e processos de trabalho”

Nas páginas seguintes surgem discriminados o “Plano Operacional e de Investimento”, onde as “Iniciativas” estão divididas por:

  • Audimetria
  • Rede Nacional de rádio
  • Televisão Digital Terrestre
  • Investimento e Produção Cinematográfica e Audiovisual Independente
  • Arquivo
  • Delegações
  • Centros Regionais
  • Centro de Inovação e Academia
  • Formação
  • Investimento

A fechar, a “Base Financeira”, onde constam a “Demonstração de Resultados”, o “Balanço” e a “Demonstração de Fluxos de Caixa”.

Os direitos de transmissão dos jogos da Champions que não estão no Projeto

polémica questão em torno dos direitos de transmissão da Liga dos Campeões, que, junto com o chumbo do Projeto Estratégico, acabou por levar o CGI a propor a distituição do CA, não consta, como se sabia, no documento.

Quando chumbou o Projeto, o CGI referiu, em comunicado, que a proposta para a transmissão dos direitos televisivos da Liga de Campões deveria lhe deveria ter sido comunicada, não só por ser de natureza estratégica, mas “tanto mais quanto o CA se encontrava em posição de submeter, e logo de re-submeter, ao CGI o seu Plano Estratégico para o período final do mandato em setembro de 2015″. O órgão lembrou que “apenas tomou conhecimento desta proposta em 20 de novembro de 2014 pela imprensa, tendo a proposta final sido assinada pelo CA em 10 de novembro de 2014. (…) Sem querer pronunciar-se sobre os méritos ou deméritos da proposta, o CGI considera que o dever de colaboração, e o princípio de lealdade institucional que lhe subjaz, foram violados pelo CA”.

A única menção a Desporto, no Projeto Estratégico apresentado, surge em pouco mais de duas linhas:

“(…) Em termos de alinhamento com o cidadão, é mantida uma aposta clara no Desporto, em particular no Futebol, relacionado com a Seleção e com os principais clubes portugueses.”

A citação encontra-se no meio de um parágrafo dedicado à informação da RTP, no capítulo “Plano Operacional e de Investimento”, na alínea “Serviços de Programas”.

 

* Pode ler o Projeto Estratégico na íntegra clicando ao lado no documento.

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