Foi uma maratona de contactos, falhada em cima da hora. O Governo e os sindicatos estiveram muito próximos de selar um acordo ainda na quarta-feira à noite, horas antes de ter sido decretada a requisição civil, um acordo que faria suspender a greve e abriria negociações para o caderno de encargos da privatização da TAP.
Os contactos entre as partes foram retomados no dia anterior, algumas horas depois do não da plataforma à desmarcação da greve. E prosseguiram depois, na quarta de manhã, com nova negociação ponto a ponto.
Nessa noite, houve nova reunião da plataforma de sindicatos da TAP. Eram 23 horas e, segundo várias fontes contactadas pelo Observador, o memorando que o Governo tinha enviado com 12 pontos merecia o benefício da dúvida para vários dos presentes. O secretário de Estado, Sérgio Monteiro, acompanhava o decorrer da reunião ao telefone. Em alguns momentos os vários intervenientes usaram o sistema de alta voz para falar com o membro do Governo que foi sempre o pivô nas negociações com os sindicatos. Mas o compromisso acabou por falhar, com uma regressada reivindicação dos representantes dos pilotos, o mais forte dos movimentos sentados à mesa.
Surpreendendo até outros representantes sindicais, os pilotos voltaram a exigir que 10 a 20% das ações da TAP ficassem nas mãos dos sindicatos. “A discussão estava a ser feita ponto a ponto, mas depois subitamente fugiu ao controlo”, referiu uma fonte conhecedora do processo ao Observador.
A exigência, que desde 1999 consta da lista de reclamações dos pilotos, era uma linha vermelha traçada desde o início pelo Governo. Logo na primeira reunião, decorrida na sexta-feira dia 12, logo após a marcação da greve, o ministro Pires de Lima e o seu secretário de Estado tinham avisado que essa era uma das duas linhas vermelhas para o Governo – com um argumento na mão, um parecer do conselho consultivo da PGR que não dá valor a um acordo nesse sentido celebrado com a anterior administração da TAP. A outra linha vermelha era que a greve tinha mesmo de ser desmarcada, única forma de o Governo aceitar negociar vários pontos do caderno de encargos, para ser possível chegar a um acordo.
Nessa noite de quarta-feira, Sérgio Monteiro voltou a dizer isso mesmo aos interlocutores que tinha ao telefone. E o Governo deu um prazo de algumas horas para que todos chegassem a acordo, ou seja, para que os sindicatos que já tinham fechado a sua parte do acordo com o Executivo tentassem demover os representante dos pilotos. O prazo era quinta-feira de manhãzinha, horas antes de começar a reunião do Conselho de Ministros.
O Governo recebeu a resposta de madrugada – e foi negativa. Os pilotos mostraram-se irredutíveis e, apesar das divisões na plataforma de sindicatos, chegou-se à hora do Conselho de Ministros sem se ter conseguido vislumbrar o acordo. Foi assim, depois de uma noite tensa, que o Governo resolveu aprovar a requisição civil, forçando, assim, desse modo ao regular funcionamento da empresa e estabelecendo em 100% o objetivo de realização de voos – um objetivo ambicioso e arriscado.
Agora, mesmo depois de a administração da TAP ter convocado uma reunião com os sindicatos, que decorreu na sexta-feira, as esperanças da empresa e do Governo num recuo dos sindicatos é mínimo. Segundo apurou o Observador, o encontro decorreu num ambiente de “pedagogia” (por parte de Fernando Pinto, procurando argumentar que a greve vai prejudicar a empresa, não dando espaço a que algumas das suas reivindicações fossem aceites). Mas acabou como começou, sem sinais de qualquer flexibilidade sobretudo do sindicato dos pilotos para reentrar em negociações.