O líder da Renamo, o maior partido da oposição em Moçambique, reiterou hoje, na Gorongosa, a ameaça de formar Governo, em fevereiro, estabelecendo “alternância governativa”, depois de 20 anos do multipartidarismo no país, reafirmando a recusa dos resultados eleitorais.

“Vai haver mudanças”, afirmou hoje Afonso Dhlakama. “A partir de fevereiro, o povo vai experimentar uma nova governação, da Renamo”, declarou, na abertura da reunião de dois dias do Conselho Nacional da Resistência Nacional Moçambique (Renamo), que decorre na Gorongosa, província de Sofala (centro do país), considerado tradicional bastião político e militar do partido.

A Renamo rejeita os resultados das eleições de 15 de outubro, anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), que dão vitória à Frelimo e a Filipe Nyusi e colocam a Renamo e Afonso Dhlakama em segundo lugar, e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro maior partido, e o seu candidato, Daviz Simango, em terceiro lugar. Os resultados finais ainda terão de ser validados pelo Conselho Constitucional moçambicano, que marcou o anúncio para terça-feira, 23 de dezembro, após dilatação de nove dias do prazo.

Afonso Dhlakama assegurou que o partido vai “impor” a formação de um Governo, se a Frelimo insistir em não acolher o Governo de Gestão – para fazer reformas e preparar novas eleições em cinco anos – , e se o Conselho Constitucional prosseguir em validar eleições feridas de irregularidades. “Seja qual for a decisão do Conselho Constitucional, o processo [da formação do Governo] está em marcha e vai haver alternância governativa”, insistiu Afonso Dhlakama, lembrando que o órgão chumbou as queixas de irregularidades do partido, assim como as do Movimento Democrático de Moçambique (MDM, terceira força política).

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Agora o Conselho Constitucional encara “cenas horríveis de enchimento de urnas”, afirmou Dhlakama apelando a que sejam honestos e responsáveis no seu juízo. O líder da Renamo lembrou porém ao Conselho Político Nacional da Renamo que já fez a sua parte, em alusão à condução dos 17 meses da crise político-militar em que Moçambique ficou mergulhado, com confrontações que fizeram dezenas de mortos e deslocados, e sugeriu que os debates fossem abertos e frontais, como “lutadores de democracia”.

O Conselho Político Nacional alargado da Renamo vai avaliar a “saúde política” do partido, que deverá decidir o futuro do cenário político nacional, além de analisar a actual situação económica e política, neste último, prevendo um debate profundo sobre fraude eleitoral, que leva o partido a não reconhecer os resultados das eleições de outubro, e assim desenhar o modelo da sua governação.

Afonso Dhlakama foi bem recebido na antiga Vila Paiva – atual Gorongosa -, onde se manteve escondido por vários meses após assalto, pelo exército, do seu acampamento em Sadjundjira, e de onde saiu para assinar, a 05 de setembro, o acordo de cessação das hostilidades militares com o Presidente moçambicano, Armando Guebuza, e participar das eleições gerais de 15 de outubro.