O ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) esteve esta manhã na sessão de abertura do seminário diplomático, que reúne diplomatas e governantes para discutir as prioridades da política externa portuguesa para o próximo ano, onde admitiu que tem havido um número cada vez maior de portugueses a emigrar. Por essa razão, disse, o MNE tem vindo a apostar no fortalecimento das embaixadas e consulados no estrangeiro, disse.
“A mobilidade dos cidadãos assume-se hoje como elemento estruturante de uma nova realidade económica e social, à qual a rede externa do Ministério não pode ficar indiferente e se deve adaptar, enquadrando-a nos interesses específicos da política externa portuguesa”, afirmou Rui Machete perante uma plateia cheia de diplomatas no Museu do Oriente, em Lisboa. Perante esta realidade de aumento da emigração, Portugal teve uma necessidade de fazer um “exercício de redimensionamento da rede externa” juntos das comunidades portuguesas, admitiu.
Nesse sentido, Machete afirmou que foram inauguradas novas permanências consulares para chegar a “comunidades portuguesas mais distantes e geograficamente isoladas” das embaixadas já existentes, assim como garantiu que este ano iriam ser abertas novas embaixadas em vários pontos do globo, como no Panamá e em Astana (Cazaquistão), e que a presença da diplomacia portuguesa iria ser reforçada em Baku (Azerbaijão), Nairobi (Quénia) e Malabo (Guiné Equatorial). O ensino da língua portuguesa no estrangeiro também irá ser reforçado, disse.
Além disto, como parte do reforço da ação diplomática, o ministro anunciou ainda a abertura, “a breve prazo”, de um concurso para entrar na carreira diplomática para 25 novos candidatos, assim como a seleção de 130 estagiários ao abrigo do Programa de Estágios Profissionais na Administração Central.
Base das Lajes pode prejudicar relações com EUA
Sobre a cooperação bilateral com os Estados Unidos, Machete deixou um aviso: as boas relações com o gigante americano poderão ser prejudicadas se houver um desfecho negativo sobre a utilização da Base das Lajes, nos Açores.
“O Governo português continua a manifestar a sua total disponibilidade para trabalhar com os Estados Unidos na procura de uma solução que garanta a maximização da utilização da Base das Lajes, reforce o relacionamento estratégico entre os dois países e não seja penalizadora para a população da Ilha Terceira. Seria, aliás, prejudicial para as nossas relações bilaterais que Portugal não tivesse um resultado positivo neste longo e complexo processo”, disse.
Rui Machete acrescentou ainda, em declarações aos jornalistas, que espera que as negociações que decorrem atualmente “conduzam a um resultado melhor” do que aquele que foi inicialmente anunciado e que previa a redução em mais de 400 militares e 500 famílias do contingente na base norte-americana nas Lajes. No entanto, o ministro assegurou que “a situação não se manterá exatamente como estava”.
Percorrendo todos os principais temas que marcam a política externa portuguesa, do surto do Ébola ao ISIS, passando pelas comunidades portuguesas no estrangeiro e pelas relações bilaterais com os vários países, incluindo com a União Europeia, Rui Machete deixou ainda um recado para a União Europeia: a UE deve procurar “suprimir as assimetrias” entre os Estados-membros, “nomeadamente nas condições de acesso ao financiamento aos países mais afetados pela crise”. Essa é, segundo Machete que tinha ao seu lado o ex-presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, “uma questão fundamental para o sucesso da construção europeia”.
Sobre aquela que é a maior ameaça externa à escala global, o Estado Islâmico do Iraque e da Síria, Rui Machete afirmou que Portugal contribuiu já com 230 mil euros para ajudar os refugiados, e que o Governo decidiu recentemente participar numa missão de assistência e apoio ao Iraque, de formação e treino militar, no âmbito da Coligação Internacional.