Há muito aguardado, foi finalmente colocado em pré-venda: chama-se Pono e é um leitor de música portátil de alta-fidelidade. O termo é para levar a sério: o novo leitor debita música a 24 bit, ou seja, com muito melhor qualidade que um CD comercial — em teoria, idêntica ao “master”, a gravação original do estúdio.
O Pono resulta do sonho de Neil Young. Apoiado, ainda que indiretamente, pela indústria e por músicos de renome, ouvidos treinados que não hesitaram em recomendar o Pono e a classificá-lo como “a melhor música digital que existe”, ”sem comparação com o MP3 ou até com o CD”, “é o som na sua qualidade mais pura”, “é assim que toda a música deve ser ouvida”. São muitos e insuspeitos, os que o dizem.
O plano estava traçado há muito tempo, o músico sempre defendeu que os formatos de som comprimido (o mais comum é o MP3) são redutores da experiência de apreciar música e que por isso não fazem justiça ao trabalho dos músicos. A audição de “som com má qualidade” tornou-se o padrão, numa era em que o normal é ouvir música no YouTube. E Neil Young quer que os amantes de música a oiçam com a mesma qualidade com que é feita.
Para concretizar este projeto, lançou uma campanha de angariação de fundos (no Kickstarter) em abril do ano passado. Pediu 800 mil dólares, mas as contribuições renderam mais de seis milhões de dólares. Ou seja, há mercado.
Com o novo equipamento surge também um ecossistema, uma loja online onde é possível comprar os ficheiros de alta resolução. Comparativamente com o iTunes, cujo preço médio de um ficheiro comprimido é de $0,99, cada faixa no Pono custa mais um dólar, ou seja, $1,99€. Contas feitas a um álbum completo, pode custar mais do dobro das versões comprimidas e mais até que o CD (andará próximo dos valores de um disco de vinil, mas sem a componente física, evidentemente).
Mas só é possível tirar proveito do leitor Pono com um sistema de saída compatível. Pouco adianta ter um leitor de ficheiros com alta qualidade se os auscultadores ou sistema de amplificação e colunas não forem capazes de reproduzir música de alta resolução. Esqueça os auriculares do smartphone que está habituado a usar, terá de investir algumas centenas de euros para desfrutar em pleno do novo sistema.
O Pono tem 128 GB de memória, espaço suficiente para armazenar até dois mil ficheiros. As músicas são compradas online e descarregadas no computador, sendo depois transferidas e organizadas através de uma aplicação específica. Os discos já podem ser comprados, mas o aparelho ainda não: encontra-se em pré-venda nos Estados Unidos da América por 400 dólares, com entregas a partir do próximo mês (auscultadores não incluídos).
Há já algum tempo que se fala que a música de alta-fidelidade pode bem ser o novo filão para a esmorecida indústria discográfica. Com a velocidade das ligações de internet a crescer, é cada vez mais fácil (e viável) transferir grandes quantidades de dados no espaço de minutos. A “nova experiência auditiva” parece ser um argumento válido para convencer os consumidores a voltar a comprar música (repetida, em muitos casos), agora que os serviços de streaming como o Spotify estão a consolidar um lugar no mercado.
Mas serão os nossos ouvidos capazes de distinguir o som de um MP3 convencional de uma faixa em alta resolução? O Observador já fez o teste. As grandes marcas já perceberam a importância da alta fidelidade de imagem e som, daí que Sony também já esteja a trilhar o mesmo caminho, mas por preços menos simpáticos: o novo Walkman de alta resolução apresentado a semana passada no CES custa mais de mil dólares (modelo NW-ZX2).